Tenente foi morto por PMs ao não aceitar informações falsas

Carlos Henrique Paschiotto Scheifer, tenente do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), foi assassinado por policiais militares que temiam ser entregues pela vítima por terem inserido “declarações falsas” em um boletim de ocorrência para esconder as reais circunstâncias da morte de um assaltante de banco.

O cabo Lucélio Gomes Jacinto, o sargento Joailton Lopes de Amorim e o soldado Werney Cavalcante Jovino, são acusados por homicídio triplamente qualificado em denúncia do Ministério Público Estadual (MPE). Scheifer foi atingido por um disparo frontal efetuado pelo próprio colega de farda na região abdominal.

O assassinato ocorreu no mesmo local que no dia anterior tinha sido palco de confronto entre policiais e suspeitos de roubo. Os três envolvidos foram transferidos para funções administrativas, após serem afastados das ações operacionais.

O promotor de Justiça Allan Sidney do Ó Souza elaborou o documento, que versa sobre o crime ocorrido no dia 13 de maio de 2017 no Distrito de União do Norte, em Peixoto de Azevedo, onde o grupo estava em uma missão para combater uma quadrilha do “Novo Cangaço”. No dia do crime, uma guarnição comandada por Scheifer e composta pelos denunciados tentava localizar e prender integrantes da quadrilha que no dia anterior se envolveram em uma troca de tiros com policiais.

Tudo começou com a perseguição da viatura da polícia, cuja equipe estava sob o comando da vítima, a dois pickups – uma Nissan Frontier e Mitsubishi L200 Triton -, conduzidas por indivíduos suspeitos da prática de crimes de roubo. Um dos veículos acabou tomando rumo ignorado e o outro saiu da estrada após o motorista perder o controle da direção. Nesse momento, quatro ocupantes já desceram efetuando vários disparos contras os policiais.

A tentativa de prender os assaltantes que, inicialmente, parecia ter sido frustrada, acabou obtendo êxito no dia seguinte, com apoio de outros militares que atuavam em cidades próximas. Um dos veículos foi localizado em um posto de combustível na cidade de Matupá e o condutor, identificado como Agnailton Souza dos Santos, foi preso.

Com a prisão de Agnailton, a equipe de Scheifer obteve informações que o levaram, juntamente com sua equipe, a efetuar cerco policial a um imóvel localizado na cidade de Matupá. Durante a ocorrência, um deles, que “supostamente” portava arma de fogo, teria tentado evadir-se do local e foi atingido por um disparo de fuzil efetuado pelo CB PM Lucélio Gomes Jacinto, vindo a óbito.

“Conforme restou apurado nos presentes autos, a lavratura do supracitado boletim de ocorrência foi objeto de divergências e até mesmo de desentendimento entre a vítima, TEN Scheifer, e o denunciado CB PM Lucélio Gomes Jacinto, pois, há fundadas suspeitas que fora inserida, no referido B.O, declaração falsa, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, no que diz respeito às circunstâncias da morte do indivíduo Marconi Souza Santos”, descreveu o promotor de Justiça Allan Sidney do Ó Souza.

Segundo ele, testemunhas relataram durante inquérito policial que presenciaram o desentendimento entre a equipe e o TEN Scheifer. Em um determinado momento, os denunciados teriam se reunido às portas fechadas para conversarem sobre o ocorrido. 

Morte de Scheifer

Inicialmente, segundo documento produzido pelo Ministério Público, os colegas de farda sustentaram que a vítima havia sido atingida por disparo efetuado por suspeito não identificado, que estaria em meio à mata, do outro lado da rodovia. Após a realização do laudo pericial ficou comprovado que o projétil alojado no corpo do tenente partiu de um fuzil portado pelo Cabo PM Lucélio Gomes Jacinto.

“Somente após a balística descortinar que o disparo que atingira mortalmente o TEN Scheifer ter saído da arma de fogo portada pelo denunciado CB PM Jacinto, que então mudando a versão de outrora, ele alegou ter se equivocado da pessoa do TEM Scheifer com a do suspeito”, afirmou o promotor de Justiça.

Segundo ele, nenhuma das versões apresentadas pelo autor dos disparos foi plausível. “A vítima foi atacada frontalmente (o denunciado afirmara que ela estava de costas) e, em posição de descanso (quando não há perigo pela frente), embora o acusado assevere que o ofendido se apresentava em posição de tiro ‘vietnamita’ (uma forma de posição de ataque)”, sustentou.

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