Parceria com a França proporciona capacitação e troca de experiência

A preocupação com o avanço das organizações criminosas no tráfico de drogas, principalmente, de entorpecente, que sai da fronteira de Mato Grosso e chega aos grandes centros do Brasil e dos países da Europa, foi o ponto mais abordado pelas autoridades presentes na abertura do curso de “Lavagem de Dinheiro no Combate ao Tráfico de Drogas”, promovido pela Embaixada da França no Brasil, em parceria com a Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso.

O curso teve início nesta segunda-feira (11.02), no auditório da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt), na Capital, e segue até a próxima sexta-feira (15). Na abertura, o secretário de Segurança Pública, Alexandre Bustamente, pediu um minuto de silêncio em homenagem ao investigador aposentado, Francisco Barbosa de Aquino, 75 anos, vítima de latrocínio no domingo (10).

Em seguida, Bustamante falou da expertise do Brasil no combate ao tráfico de drogas e na atuação forte do Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), que fica na estrutura da Diretoria Geral da Polícia Civil.  

“Vamos trocar conhecimento e experiências que podem contribuir para que os países que recebem a droga possam saber com quem fazer contato no Brasil e, com isso, criar um enlace para uma grande de investigação na França. Além do conhecimento em si, a da troca de relacionamento é fundamental nesse caso”, disse.

O delegado geral da Polícia Civil, Mário Dermeval de Resende, anunciou a seleção de mais três servidores para compor a equipe do Laboratório e, dessa forma, avançar como uma ferramenta forte de produção de provas da movimentação financeira e tributária das organizações criminosas.

“O crime de lavagem de dinheiro, ao longo dos anos, foi aperfeiçoado para que os produtos de seus delitos não fossem descobertos. O mais peculiar em Mato Grosso avaliamos estar vinculado ao setor imobiliário, que de forma generalizada utiliza da fronteira internacional, gigante e frágil para o tráfico de drogas, que alimenta 80% do mercado brasileiro, com pasta base e cocaína”, pontuou o delegado.

O presidente do Sistema Fiemt, Gustavo Oliveira, recepcionou os convidados e ressaltou a importância do tema “combate ao tráfico de drogas”, que se tornou um drama real na sociedade, impactando em muitas vidas. “Temos um projeto já há 6 anos, que se chama Multiação, que nos coloca em contato com a  população. A partir dele a gente percebe como a questão das drogas é hoje um drama real das famílias”, destacou. 

Presente no evento, o desembargador Marcos Machado, que representou o presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Carlos Alberto Alves da Rocha, fez apontamentos importantes sobre a realidade do tráfico de entorpecentes. Ele também parabenizou a iniciativa do Governo Francês em promover o curso em Mato Grosso, que faz fronteira com o principal fornecedor de pasta base e cocaína.

“O Estado é um verdadeiro laboratório para essa capacitação, pois a cocaína chega aqui de mototáxi, avião, ônibu ou carro de passeio e já não somos mais apenas rota, também temoms um grande mercado consumidor, não só da cocaína pura, mas da merla e do crack”, afirmou o desembargador, que aponta para mudanças na legislação de modo a contemplar as variações que implicam o uso e a comercialização das drogas e suas variações.

A senadora por Mato Grosso, Selma Arruda, disse que a iniciativa do curso é uma resistência do Estado às forças que convergem a favor das organizações criminosas. “Esse tipo de iniciativa, principalmente, em que há trocas de experiências com culturas legislativas mais avançadas do que a nossa vão ajudar no combate ao crime”.

Troca de experiência

O comandante da Polícia Nacional Francesa, Serge Giordano, que é Adido-Adjunto na Embaixada da França no Brasil, informou que grande parte da cocaína que entra na França vem do Brasil e como a fonte é a Bolívia, Peru a Colômbia, o governo francês trabalha com esses países para minimizar o problema, visando encontrar uma solução conjunta com as policiais locais para diminuir o impacto na sociedade, no Brasil e na Europa.

O diretor do Centro Interminesterial de Formação de Anti-Drogas da França (CIFAD), tenente-coronel Pierre Fernandez, explicou que o trabalho desenvolvido pelo CIFAD, que existe já há 27 anos, é o único no mundo na coordenação de trabalhos junto ao Exército, as polícias e os aduaneiros.

“Trabalhamos em mais 20 países da América do Sul, Central e Caribe. Nossa ação é intervir entre a oferta e a demanda da cocaína e de todas as drogas. A Embaixada França propôs ao Brasil o catálogo de formação deles e o Brasil escolheu a lavagem de dinheiro. Mato Grosso foi escolhido e viemos aqui por conta de um pedido da Polícia Civil e da Embaixada da França”, disse.

A abertura do curso também contou com a presença do Consul Honorário da França no Brasil, Pascal Edourad Crepini. A capacitação conta com tradução simultânea das aulas ministradas por dois policiais franceses.  

Instrutores

O curso tem duração de cinco dias (com 40 horas/aulas), iniciando nesta segunda-feira. Os primeiros quatro dias ficarão a cargo de dois policiais franceses, a capitã da Polícia Nacional Francesa, Sylvie Flamand, que é especializada na luta contra crimes financeiros, lavagem de dinheiro e a apreensão de bens adquiridos por meio de crimes e o tenente-coronel Pierre Fernandez, da Gendarmerie National Francesa, que é diretor do Centro Interministerial de Formação Anti-Droga (CIFAD) desde agosto de 2017. 

A capitã Sylvie trabalha no Centro Interministerial de Formação Anti-Droga (CIFAD), desde março de 2015. O encerramento se dará com palestras dos delegados da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Cristiano Reschke e Felipe Bringhente, especializados também no tema de lavagem de capitais. Os dois delegados vão apresentar casos de boas práticas utilizados no Estado do Rio Grande do Sul, sobre o efetivo combate ao crime organizado e aplicação da  inteligência nas investigações sobre à lavagem de dinheiro.

“São estudos de casos práticos voltados à proteção da sociedade e da rede financeira face ao enfrentamento da criminalidade organizada”, explicou o diretor de Inteligência da PJC, Juliano Silva de Carvalho.

As disciplinas abordarão assuntos ligados às questões do tráfico de drogas e lavagem de dinheiro: Geoestratégia e drogas; Os crimes de lavagem de dinheiro e a não-justificação de recursos; Lavagem de dinheiro: definição, tipologias e técnicas; A investigação patrimonial; Apreensão de aquisições advinda do crime, e aulas práticas.

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