Tenente da PM alega inocência e diz ‘Se tem Justiça, vai ser provada’

“Eu estou com a minha consciência limpa. Se tem Justiça, vai ser provada”. Esse é o relato do 2º tenente da Polícia Militar Cleber de Souza Ferreira, preso suspeito de facilitar a entrada de 86 celulares na Penitenciária Central do Estado (PCE), no dia 6 de junho, em Cuiabá. O pronunciamento foi feito durante a audiência de custódia, em que o HNT/ HiperNotícias recebeu o vídeo com exclusividade. Durante a oitiva, o oficial, que se emocionou, destacou os seus trabalhos na instituição e alegou que jamais “mancharia” o seu nome.

 O 2º tenente da Polícia Militar se emocionou durante a audiência de custódia

A audiência foi realizada no dia 18 de junho, data em que a Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) prendeu além do tenente, o subtenente do Batalhão de Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) Ricardo de Souza Carvalhaes de Oliveira, o cabo também da Rotam Denizel Moreira dos Santos Júnior, o ex-diretor da PCE, Revétrio Francisco de Souza, e o ex-subdiretor, Reginaldo Alves dos Santos, o “Peixe”. O depoimento foi presidido pela juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Ana Cristina Mendes.

À magistrada, Cleber afirmou que todo o procedimento da entrada e da compra do refrigerador, na unidade penitenciária, ficou a cargo do detento e líder da facção criminosa Comando Vermelho (CVMT), Paulo César da Silva, conhecido como “Petróleo” e que nenhum dos policiais militares tinham consciência que o freezer estava “recheado” com os celulares.

“Eu já apreendi mais de 200 armas, mais de seis fuzis na minha carreira de inteligência em três anos [na Polícia Militar]. Eu recuperei vários veículos, eu já perdi policial trabalhando. E a senhora [juíza] acha que eu ia manchar meu nome? Ia manchar o nome do meu colega que morreu, nunca. Se tem Justiça, vai ser provada [a inocência do militar]”, afirmou.

Cleber contou que foi à PCE, no dia da apreensão, após convite do subtenente Ricardo. O oficial disse que após ficar sabendo da intenção de levar o freezer à unidade, perguntou ao ex-diretor se a entrada do refrigerador era lícita.

“Aí o subtenente Ricardo falou comigo sobre a entrada do freezer na penitenciária [para um detento]. Aí eu questionei se o freezer era legal, a entrada dele [do freezer]. Nisso eu perguntei para o diretor [Revétrio] se era legal. Ele falou que era e que tinha apenas que informar [aos superiores]. Ai nessa data [6 de junho] o Ricardo ligou pra mim e perguntou se eu ia lá na PCE, eu falei vou, vamos lá. E fui com ele. Foi eu, ele e o cabo Denizel”, disse em outra parte da audiência.

Para a juíza, Cleber deixa claro que o comandante do 3º Batalhão (unidade em que trabalhava quando foi preso), Fernando Augustinho de Oliveira Galindo, não sabia que ele tinha ido ao presídio para ajudar “intermediar” a entrada do freezer. O tenente disse que apenas relatou que teria ido a uma missão com os militares da Rotam.

“É informado [sobre qualquer ação de inteligência aos superiores], é feito um relatório de inteligência. Eu informei o comandante coronel Fernando. Do freezer eu comentei depois, antes [do fato] eu comentei que o pessoal da Rotam só pediu para acompanhar eles, aí fui. Ele [subtenente Ricardo] pediu pra eu acompanhar. Eu informei. Eu estava de serviço e eu informei que estava em uma missão juntamente com a Rotam. Mas, eu não comentei que seria a entrada do freezer”, explicou o tenente.

O policial reafirmou o fato que nenhum dos PMs “colocou” a mão no freezer e que em nenhum momento foi inspecionado o aparelho. O agente voltou a afirmar que quem fez todos os procedimentos de compra e regularização foi o detento Petróleo.

“Foi ele [Petróleo] que arrumou isso ai [freezer], foi ele que regularizou tudo isso ai. A gente [policiais] não colocou a mão. Pode fazer perícia se tem digital, a gente não colocou a mão. Eu não sabia o que tinha dentro do freezer. Eu sei de todos os procedimentos. Eu sou tenente da Polícia Militar de carreira, eu tenho o meu nome a zelar. Trabalho dia e noite em prol da sociedade, em prol dos policiais”, se justificou.

Cleber disse também que foi “traído” por Petróleo. O oficial contou que antes da tentativa de entrada do freezer falou para que o líder do Comando Vermelho não colocasse nada de irregular no refrigerador.

“Eu fui traído porque a gente a todo momento falou para o detento [Petróleo] que o freezer conseguiríamos porque é lícito. A gente falou para ele: ‘cara não coloca nada de irregular porque tem raio x, todo o procedimento vai ser feito a gente não vai se meter com procedimento é o freezer só que é legal que vai entrar, não coloca nada [de irregular]. Eu também errei, até comentei com o meu comandante”.

Por fim, o tenente da Polícia Militar disse que tem a sua “consciência limpa” e que não sabia que o freezer estava “recheado” com celulares.  O PM alega que não inspecionou o refrigerador, pois tinha consciência que a entrada de objetos é verificada pelos agentes penitenciários.

“Moral é aquilo que a gente faz e ninguém vê. Eu tenho a minha consciência limpa que eu não sabia também. Tanto é que a gente não fez intervenção no procedimento deles. Eu não sabia, eu sabia que ia passar pelo Raio-x quando a gente pensou que era só freezer. E aí veio recheado. Na verdade, eu tenho a minha consciência limpa, eu nunca fiz nada de errado”, finalizou.

Prisões

Cleber está preso no 3º Batalhão da Polícia Militar. Ricardo e Denizel estão presos no Batalhão de Operação Especial (Bope).

Já os ex-diretores estão detidos no Centro de Custódia de Cuiabá (CCC).

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