
ONOFRE RIBEIRO
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As delações de acusados em operações policiais ganharam vida no Brasil. Vem causando baixas incalculáveis nos esquemas de denúncias de corrupção.
Porém, na última quinta-feira li com preocupação matéria publicada no jornal A Gazeta, oriunda de uma entrevista da juíza Selma Arruda à Tv Bandeirantes de Cuiabá.
Nela, a juíza da Vara Especializada contra o crime Organizado da Capital, revelou a sua preocupação pessoal com as delações e mentiras que começam a emergir em algumas delas.
Na ânsia de sair da prisão temporária, presos propõem colaborar com a justiça através da delação e acabam mentindo. Saem da prisão e se descobre depois que mentiram. A partir daí, ficam imunes à ação rápida da justiça.
Advogados perceberam as brechas na lei que permite a delação e usam o mecanismo da mentira.
Pessoalmente não conheço a juíza Selma Arruda, mas tenho profunda admiração por sua coragem cívica e jurídica de conduzir questões muito graves e delicadas envolvendo poderosos esquemas de corrupção com dinheiro público.
Meu respeito cresce mais quando sabemos que ela não conta com o apoio irrestrito de toda a própria magistratura estadual, sabendo que pelo Poder Judiciário circulam interesses e interesses!
De outro lado, mesma juíza luta com o apoio de parte mais arejada da magistratura e esbarra em outros setores muito conservadores.
Mas, parece-me que existe outra frente de problemas nessa questão das delações e das operações policiais que estão em andamento. Se no Judiciário existem divisões sobre o assunto, no Ministério Público estadual é muito mais complicado. Existem fortíssimas divisões internas com interesses e interesses navegando em direções diferentes.
Nuns, a vaidade e o poder da visibilidade junto à opinião pública falam mais do que o interesse técnico.
Noutros, o interesse técnico prevalece. Quando a juíza defende reforço na lei que permite as delações por causa de mentiras de delatores, nas entrelinhas ela está sugerindo algo grave.
O afoitamento do Ministério Público somado com a esperteza dos advogados dos acusados em aproveitar as brechas da lei, está lentamente mudando o revolucionário conceito de investigação via delações.
De outra forma elas levariam décadas e morreriam sem oxigênio. Consequência das mentiras, é que pessoas delatadas nem sempre são aquilo que foi denunciado. Abrem-se campos como o das vinganças pessoais e políticas.
Omite-se aqui, carrega-se nas cores ali. Pior: constroem-se castelos de cartas falsas ou não-confiáveis num tema de tamanha importância sobre o qual a sociedade mato-grossense e brasileira depositam tamanha esperança.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso