Pikachu e Sonic peludos

Eles são os bichos mais famosos dos games e estrelam seus primeiros filmes contracenando com atores. Mas Pikachu e Sonic estão mais peludos do que muitos fãs poderiam imaginar.

Após conversas com animadores e veterinários para entender o novo visual dos personagens, o G1 concluiu:

  • Quando se pensa nos animais que inspiraram Sonic (ouriço e porco-espinho) e Pikachu (coelho e rato), faz sentido ver tantos pelos
  • Já parou para pensar que eles parecem de pelúcia, porque aí é mais fácil vender bichos de… pelúcia? Bonecos desse tipo vendem mais do que os de vinil
  • Na época da criação do Sonic (1991) e do Pikachu (1996), não havia a tecnologia 3D para criar visuais tão realistas e deixá-los com jeitinho de pets
  • E eles parecem mesmo bichinhos de estimação: olhos grandes e focinho curto são traços infantilizados que despertam nosso carinho

Você diria ‘não’ para este bichinho?

Cena do filme 'Detetive Pikachu' — Foto: Divulgação
Cena do filme ‘Detetive Pikachu’ — Foto: Divulgação

O visual dos pokémons de “Detetive Pikachu”, que chegou aos cinemas brasileiros nesta semana, foi criado após dois anos de pesquisas com a Pokémon Company, no Japão.

“Estudamos animais e como se comportavam para termos certeza de que estava tudo certo. Observamos bulldogs para criar o Bulbasauro e entender como agiam em bando ou tentavam chamar a atenção”, contou Rob Letterman, diretor de “Detetive Pikachu”, ao site The Verge.

Lígia Panachão, pesquisadora com mestrado em comportamento animal pela Universidade de São Paulo (USP), conta que existem características que tornam os bichos mais queridos por humanos.

“Traços mais infantis, como testa e olhos grandes ou focinhos curtos, despertam o desejo de cuidar de um animal. Você pode ver essas características no Sonic e no Pikachu”, explica a veterinária.

“Algumas raças como bulldog inglês vêm sendo criadas com o focinho cada vez mais curto, buscando esses traços.” Segundo ela, costuma ser mais fácil arrecadar fundos para proteger mamíferos do que peixes ameaçados de extinção.

John Mathieson, diretor de fotografia indicado ao Oscar por “Gladiador”, trabalhou em “Detetive Pikachu”. Mas o britânico de 58 anos negou o convite para “Sonic”.

Para ele, a diferença dos dois é explicada por uma escolha técnica: o filme do Pokémon foi feito com película e o do ouriço foi gravado com tecnologia digital.

“Não existem razões para não fazer filmes como esses em película. Se fizessem assim, [Sonic] seria mais realista”, disse Mathieson à revista “Newsweek”. Ele garante que o contraste de cores e a qualidade de imagem ajudaram a criar um Pikachu mais detalhado.

Para o diretor de fotografia, a gravação digital não tem a mesma riqueza de cores da película. E isso faz com que a cenas de atores com bichos criados digitalmente pareçam ainda mais absurdas. A inserção do personagem no mundo real fica menos natural.

“Existe um apelo visual e sensorial. Ver um Pikachu ‘de pelúcia’ traz nos espectadores uma vontade de tocar, ter contato físico. Isso ajuda a vender produtos como pelúcias e miniaturas, é uma ótima estratégia de marketing”, explica Okusako, responsável por desenhos de bichinhos como “As Aventuras De Lilica, A Coala”.

“A polêmica do Sonic aconteceu por um conjunto de fatores, como a constituição física, os traços faciais. O Pikachu se manteve mais fiel ao traço original, por isso gerou uma aceitação maior”, compara o diretor.

“Mudou um pouco essa ideia, agora as coisas têm que ser o mais reais possíveis”, explica o diretor do Alopra Estúdio. “Sonic e Pikachu têm pelos para ficarem mais parecidos com pets. Eles se tornam quase parte da família, a empatia é maior. O Pikachu é um guerreiro. Ele vai destruir, bater, soltar raios, mas aparenta ser um fluffy, um bichinho de pelúcia.”

Stefano diz que não faria sentido bicho com aspecto emborrachado contracenar com atores reais. “Ficaria meio estranho, meio fake. Eles tentam aproximar da realidade.”

O apelo do pelo

Andrés Lieban, diretor Criativo da 2DLab, tem no currículo animações como “Meu amigãozão”, no qual um elefantinho é amigo de uma criança. Ele concorda que não faria sentido um Pikachu e um Sonic “lisos”.

“Tem também um apelo para parte de licenciamento. Boneco de pelúcia vende mais do que vinil. O personagem peludo é mais abraçável, ‘agarrável’. Eles também têm olhos grandes e nivelados com o nariz. Essa infantilização funciona”, comenta Lieban.

Ele lembra que a técnica de animação 2D, em duas dimensões, era a base da criação dos dois personagens. “Não é uma questão de qualidade estética, em 2D tem mais liberdade de animar e criar. Mas o 3D tem muita criação, luz e sombra, textura. São mais sutilezas para colar com a realidade.”

O que não foi muito sutil, porém, foi a criação do novo Sonic. “O Sonic original tem uma grande máscara branca. E eles pensaram em criar os olhos de um bicho que existiria… mas ficou sem estilo, sem o carisma de antes. Eles vão abrir mão da preocupação de parecer um animal do mundo real e fazer com que seja um personagem mais palpável”, arrisca.

Choque de cultura

Desde sua estreia, em um game de 1996, Pikachu havia sido retratado com pelos, embora mais curtos e estilizados. O pelo ouriçado da nova versão teria relação com a eletricidade que não para de percorrer o corpo do bichinho?

Lígia explica que os pelos do Pikachu ficariam arrepiados somente se a energia ficasse armazenada na superfície do corpo: “Se o armazenamento fosse interno, isso não aconteceria.”

Segundo outros veterinários ouvidos pelo G1, não há como imaginar um mamífero com uma corrente elétrica de maneira semelhante à do Pokémon.

Lisinhos: Sonic e Pikachu nas versões anteriores — Foto: Divulgação
Lisinhos: Sonic e Pikachu nas versões anteriores — Foto: Divulgação

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