Arrombamentos, furtos e medo viram rotina

Como de costume, no dia 4 de dezembro de 2017, José Osmar Furlan, hoje com 59 anos, acordou cedo para abrir sua drogaria, localizada atrás da Praça Bispo Dom José, na Avenida Tenente Coronel Duarte (Prainha), em Cuiabá. Quando chegou, porém, teve uma das piores surpresas que poderia imaginar: todo o estoque havia sido furtado. “Não sobrou um vidro de Dipirona para contar história”, lembra.

Naquele momento Osar contou que não teve mais como seguir adiante, decidiu fechar as portas da drogaria que foi seu “ganha-pão” durante mais de 20 anos.

Nesta semana, um dos proprietários de uma loja na mesma rua decidiu fazer um protesto contra as constantes invasões e furtos ao seu estabelecimento.

Uma faixa, com os dizeres “Os comerciantes pedem socorro; a cada quatro dias um comércio é arrombado” foi fixada em frente à loja de José Braga Tabosa, que foi furtada duas vezes em menos de três dias, deixando o proprietário com prejuízo de mais de R$ 5 mil.

Osmar contou cada uma das vezes em que teve a drogaria invadida pelos criminosos. No total, foram 18. Antes de levarem todo o estoque do estabelecimento, que valia cerca de R$ 70 mil, ele já teve que repor os medicamentos roubados algumas vezes.

Alair Ribeiro

Comerciantes Praça Bispo 04-07-2019

Celma já registrou ao menos 16 BOs após invasões no salão de beleza

“Segundo a polícia, era um estoque encomendado. Decidi fechar porque dessa vez não tive condições de repor o estoque, porque das outras vezes eles [os bandidos] arrebentavam a porta dos fundos ou estouravam o telhado, pegavam algumas coisas, mas eu conseguia repor. Na 18º vez não teve como”, disse.

A história de Osmar circula como uma “lenda urbana” entre os lojistas que ainda lutam para manter os comércios funcionando na região. “Ficou tão triste que fechou tudo, nunca mais nem trabalhou com venda de remédios”, conta Janete Cirilo, de 57 anos, dona de uma loja de cosméticos na mesma rua.

Durante o dia, os comerciantes afirmam não terem grandes problemas com segurança. A doir de cabeça começa quando cai a noite.

Osmar contou que todas as invasões a antiga farmácia dele aconteceram durante a madrugada.

“Minha sobrinha fez um plano de segurança uma vez, tinha um alarme, mas não adiantou nada. Eu era um dos comerciantes mais antigos daquela praça, tudo que eu tinha estava ali [na antiga farmácia]”, desabafou.

Apesar dos criminosos terem levado toda a mercadoria em 2017, Osmar precisa lidar com as dívidas do furto até os dias atuais. Precisou renegociar os pagamentos com os distribuidores para conseguir arcar com o prejuízo.

“Nos sentimos impotentes, derrotados, choramos e entramos em desespero. Quando temos Deus no coração seguimos em frente, mas é terrível, não desejo isso para ninguém”, disse.

“Construam um muro!”

O sentimento de importência e indignação é comum. Para muitos, a solução seria erguer um muro entre o Morro da Luz, que é conhecido por servir de abrigo para pessoas em situação de rua e dependentes químicos, e os fundos dos estabelecimentos.

Para Janete, a construção da barreira seria a única solução para impedir as constantes invasões. A senhora de cabelos brancos e olhos azuis trabalha no local há mais de 25 anos e contou que o problema é recorrente.

Na primeira vez que invadiram  sua loja de cosméticos, os criminosos levaram mais de R$ 15 mil em secadores, chapinhas e máquinas para cortar cabelo, tesouras especiais e aparelhos para manicures.

“Foi o maior prejuízo que já tive, nesse mesmo dia tinha chegado uma carga de escovas no valor de R$ 6 mil. Eles [os ladrões] levaram metade em um dia e voltaram no dia seguinte para terminar de pegar tudo. Há umas duas semanas está impossível ter tranquilidade aqui”, contou.

“Já tentamos de tudo, fizermos abaixo-assinado com assinatura de mais de 500 pessoas, mas nada resolveu o problema. O alarme toca e quando chegamos a polícia já está aqui [na loja], vasculham tudo. Uma vez chegamos quase a pegar ele aqui dentro. Mas os policiais não sobem no Morro da Luz, disseram que não podiam arriscar a vida deles. Então estamos à mercê”, desabafou.

Janete já registrou mais de cinco boletins de ocorrências. Muitos comerciantes da região afirmaram já terem desistido de fazer um BO, já que a mercadoria furtada, na maioria das vezes, não é recuperada.

Os comerciantes também afirmaram que o prédio onde funcionava uma Delegacia da Mulher serve como esconderijo, tanto para os criminosos quanto para as mercadorias roubadas.

Para reforçar a segurança na loja de cosméticos, Janete já gastou mais de R$ 7 mil.

“É humilhante, me sinto despereza pela sociedade e pelos políticos corruptos”, disse.

Lojas cobertas por grades 

Para tentar proteger as lojas e as mercadorias, os comerciantes têm optado por cobrir o telhado das lojas com grandes chapas de metal, assim como os portões e fachadas com grades. Um dos lojistas, que prefere não se identificar, aderiu a técnica após ter mais de R$ 15 mil em produtos furtados.

Dona de um salão de beleza no local, Celma de Araújo também precisou desembolsar R$ 700 para colocar arames farpados no muro que fica nos fundos do estabelecimento. A medida fez com que as invasões parassem nos últimos dias.

A proprietária contou já ter registrado ao menos 16 BOs.

“Cansei de registrar BO, mas é preciso para a polícia saber que aqui nesse local os ladrões não estão brincando, entravam toda semana, mas agora eles estão tão ‘tranquilos’ que entram toda noite se quiserem”, desabafou.

Na última invasão, os criminosos levaram secadores, chapinhas, ventiladores e outros objetos do salão – o prejuízo foi de R$ 3 mil. Para evitar novos furtos, as cabeleireiras e manicures do salão precisam levar as máquinas de trabalho para casa todos os dias.

Alair Ribeiro

Comerciantes Praça Bispo 04-07-2019

O comerciante José Braga decidiu fixar faixa de “protesto” após loja ser invadida duas vezes em três dias

 

“Está muito difícil trabalhar, não temos paz, nem conseguimos dormir direito. Deitamos para descansar e ficamos pensando se as lojas vão ser invadidas. Isso desanima, ficamos sem saber o que fazer mesmo”, disse Celma.

Limpeza no Morro da Luz 

Uma das reinvindicações dos comerciantes, além do aumento das rondas policiais, é de que o Morro da Luz seja limpo com frequência. Por meio de nota, a Secretaria de Serviços Urbanos informou que periodicamente trabalhos de varrição e roçagem são feitos no local.

A cada 90 dias o Morro da Luz também recebe um Mutirão de Limpeza, com atuação de mais de 50 servidores. Segundo a pasta, o próximo está agendado para agosto.

A Polícia Militar também informou que na área central de Cuiabá há uma unidade de policiamento que mantém serviços de rondas diurnas e noturnas, além de ações estratégicas.

Conforme a nota, a PM também afirmou que as ações no local não podem se resumir a policiamento ostensivo, sendo necessárias intervenções de órgãos de saúde e assistência social para atender a população em situação de rua que vive no Centro da Capital.

Leia a nota da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos na íntegra: 

Em relação à demanda do Parque Antônio Pires de Campos (Morro da Luz), a Prefeitura de Cuiabá esclarece que: 

– A Secretaria de Serviços Urbanos realiza periodicamente o trabalho de varrição e roçagem. 

– Além disso, em uma média de 90 dias o local recebe um grande Mutirão de Limpeza, com a atuação de mais de 50 servidores. 

– O último mutirão foi realizado no mês abril e o próximo está agendado para agosto. 

– Também é efetuado o trabalho de manutenção na iluminação pública, mas, infelizmente, os equipamentos são alvos de atos de vandalismo. 

– Entendo o valor histórico, turístico e ambiental do espaço, o Município trabalha na construção de um projeto para sua requalificação.

Leia a nota da PM na íntegra: 

A Polícia Militar informa que na área central de Cuiabá há unidade de policiamento que mantém serviços de rondas diurnas e noturnas e ações estratégicas, entre as quais blitz e bloqueios para abordagem e checagem de pessoas e veículos, entre outras modalidades de prevenção e repressão à violência.

Além de reforçar o policiamento nessa área, a PM se coloca à disposição da comunidade para discutir a adoção de outras medidas para melhoria da segurança.

A PM lembra que na área central, como Praça Bispo e Maria Taquara, as ações públicas não podem se limitar ao policiamento ostensivo, não necessárias intervenções de órgãos da saúde e assistência social.

Serviço

A sociedade pode contribuir com as ações da Polícia Militar de qualquer cidade do Estado, sem precisar se identificar, por meio do disque-denúncia 0800.65.3939. Nesse número, sem custo de ligação, qualquer cidadão pode informar situações suspeitas ou crimes.

Exemplos: a ocorrência de crimes( roubos, furtos…), a presença de foragidos da justiça com mandado de prisão em aberto e ponto de venda de droga.

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