Maggi diz que discurso de Bolsonaro coloca riscos para agronegócio

O ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que vê riscos para o agronegócio no discurso do atual governo em relação a questões ambientais. Maggi, afastado da política desde que deixou o Ministério no ano passado, avaliou que mercados podem ser fechados e que pode haver uma demora maior na entrada em vigor do acordo entre Mercosul e União Europeia, assinado há pouco mais de um mês.

“Não tem essa de que o mundo precisa do Brasil. Talvez precisem dos agricultores brasileiros em outros países, mas somos apenas um “player” e, pior: substituível. O mundo depende de nós agora, mas, daqui a pouco se inverte e ficamos chupando o dedo”, disse ele, na conversa publicada na edição desta quinta-feira (15/8).

Acionista do grupo AMaggi, maior trading de grãos de capital brasileiro, Blairo Maggi avalia que, como exportador, vê a situação ficando cada vez mais apertada. Na avaliação dele, o Brasil vinha conseguindo defender a produção com preservação e ganhando a confiança do mercado. No entanto, indica que a retórica atual traz retrocesso, levando ao agronegócio ao que chama de estaca zero.

Na avaliação do ex-ministro, a possibilidade de fechamento de mercados é maior justamente na Europa, com quem o Brasil e o Mercosul tentam destravar as relações comerciais a partir do acordo regional. Ele lembra que o acordo leva em conta o princípio da precaução, que permite o embargo de exportações brasileiras para o bloco europeu.

Ele pontua, no entanto, que, apesar do discurso “agressivo”, não houve nenhuma atitude concreta do governo Bolsonaro. E que, boa parte do que chama de “gritaria geral” dos europeus pode estar relacionada à oposição de alguns países ao fechamento do acordo, especialmente da França. Maggi avalia que o agronegócio é o mais prejudicado por essa retórica que, na visão dele, está longe da realidade.

“Quando estou exportando sojamilho, eles (importadores) querem saber mais do que nunca a origem da certificação do meu produto. Os importadores, principalmente europeus, vêm visitar mais as lavouras, a produção, e querem saber mais como produzimos. E, se plantamos em área desmatada, eles não compram. Então, o discurso só atrapalha”, disse, na entrevista.

Questionado sobre a necessidade de manutenção do Fundo Amazônia, dinheiro doado pela Noruega e pela Alemanha para a gestão de projetos na região, Blairo Maggi avaliou que o Brasil não precisa desse dinheiro. Segundo ele, é um recurso que não chega necessariamente na ponta mais necessitada e que coloca o Brasil em uma posição de dívida em relação aos doadores.

E, mesmo crítico da forma como o governo atual está tratando a questão do desmatamento, ponderou que os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) têm algumas incorreções. Usou como exemplo uma situação, vivida ainda como governador de Mato Grosso, em que discutiu o assunto com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva a respeito de dados relacionados ao Estado.

“Mais uma vez, o agronegócio brasileiro apanha sem nenhuma mudança ter ocorrido de fato. Não mudamos os processo internamente. O governo não deixa de ter razão em algumas coisas e os dados sobre o desmatamento têm algumas incorreções sim, mas o problema é a forma que ele expõe isso”, disse Maggi.

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