Os ventos liberais que sopram na Bolívia

A dificuldade vivida pela esquerda boliviana tem elevado o clima de tensão no país vizinho. Não conformados com a derrota nas urnas para o presidente Evo Morales, a direita liderada pelo candidato do Comunidad Ciudadana, Carlos Mesa, está definitivamente decidida à virar a mesa. A radicalização do movimento oposicionista ganhou força nos últimos 16 dias. E esse estado de ebulição pode virar uma bomba prestes a explodir, lançando pelos ares alguns planos de Mato Grosso.

O acordo bilateral firmado recentemente entre Mato Grosso e Bolívia para fornecimento de gás natural corre perigo. Se um rompimento ocorrer, o resultado será o encarecimento do custo de produção da energia. O produto visa atender a Usina Termoelétrica de Cuiabá, as indústrias, como a de gás GLP e de etanol e automóveis. Existe ainda uma expectativa grande para compra de uréia do país vizinho.

E caso a revolta popular encampada pela direita logre êxito, a mudança também pode alcançar o projeto de internacionalização do aeroporto de Várzea Grande, Marechal Rondon. O vôo até Santa Cruz de La Sierra já autorizado pela Agência Nacional de Aviação Boliviana, pode não decolar. As possibilidades são muitas nesse céu de incertezas.

O movimento é apoiado pelo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que já se manifestou pelo não reconhecimento da quarta reeleição constitucional de Morales, e é liderado por Luís Fernando Camacho, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz.

Apuradas todas as urnas, opositores decidiram fechar a fronteira da Bolívia com o Brasil, entre as cidades de Cáceres (MT) e San Matias (BOL). Restam ainda mais 900 km de fronteiras secas e úmidas, que podem nos separar ou nos unir. Aliás, aí mora um outro problema. O baixo poder de controle de quem passa pela região; situação que favorece o narcotráfico e o contrabando de veículos roubados.

Para isso, Camacho assegura ter o apoio da polícia e das Forças Armadas. E está definitivamente decidido a expulsar Evo do trono. A proposta atual para forçar sua saída é a paralisação dos serviços públicos. Isto, apesar do líder do Movimento ao Socialismo (MAS) ter obtido uma vitória com uma diferença considerável de mais de 10% dos votos válidos, no último dia 20.

Ao passo que a Organização dos Estados Americanos (OEA) realiza, desde a última quinta-feira (31), uma auditoria na apuração dos votos, a oposição sinaliza que não a aceitará, independentemente do resultado. O movimento dá a impressão de uma ação orquestrada pelos neoliberais, que têm como alvo a desconstrução dos dois maiores símbolos da esquerda na América do Sul – Bolívia e Venezuela.

O grande ponto favorável ao projeto da direita sul-americana é que tais governos populares socialistas se encontram exauridos pela falta de alternância no poder – consequência de um erro estratégico da esquerda que não se preocupou em formar novas lideranças políticas e seus sucessores.

E Mato Grosso precisa medir os impactos dessa crise e buscar alternativas. É bom se preparar, pois a certeza é de que se Evo ficar, gerará incertezas pelas resistências que deverá enfrentar para governar. Se sair, outras novas incertezas serão geradas pela insegurança jurídica e política que, aquilo que já vem sendo tratado como “tentativa de golpe”, causará. Por ora, nos cabe observar.

Hugo Fernandes é jornalista, especialista em Assessoria de Imprensa, Comunicação Estratégica e Marketing Político.

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