Crise na Bolívia pode atrasar renegociação de acordo sobre gasoduto

A crise na Bolívia vai provocar um atraso nos planos do Brasil de aumentar a competição no setor de gás natural e promover o que o ministro da Economia, Paulo Guedes, chama de “choque de energia barata”.

Isso porque enquanto um novo governo não se consolida em substituição ao de Evo Morales, que renunciou no domingo, a Petrobras não terá condições de continuar a renegociação de contratos de importação de gás natural do país vizinho por meio do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol) com a estatal boliviana YPFB.

Um acordo de importação de até 30 milhões de metros cúbicos por dia de gás da Bolívia, assinados em 1999, vence em 31 de dezembro.

Segundo fontes, a negociação já vinha enfrentando dificuldades nos últimos meses em função das eleições na Bolívia.

Solução só em 2020

Como o contrato é fundamental para a economia boliviana, a Petrobras aguardava a definição do resultado eleitoral para fechar um acordo, cumprindo parte dos compromissos que assumiu para abrir espaço para outras empresas no setor de gás.

— Agora as negociações vão atrasar. Só um novo governo poderá negociar o novo contrato — ressaltou uma fonte.

Para outro executivo próximo ao governo brasileiro, um novo acordo de importação de gás da Bolívia só deverá ser fechado em meados do próximo ano, com a definição de um sucessor para Morales:

— É uma pena porque a renegociação da importação de gás da Bolívia seria o primeiro teste da Petrobras referente ao acordo que fez com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de reduzir sua participação no mercado de gás, o que permitiria a entrada de outros atores privados no setor e a redução do preço.

De acordo com fontes de mercado, a Petrobras negocia com a YPFB reduzir o volume comprado de 30 milhões para algo em torno de 20 milhões de metros cúbicos por dia de gás.

Isso porque a projeção de aumento da produção de gás nos campos do pré-sal reduz a dependência brasileira do gás boliviano.

A redução abriria espaço para que empresas privadas negociem diretamente com a estatal boliviana a compra de cerca de dez milhões de metros cúbicos por dia, ocupando o espaço ocioso que a Petrobras deixaria no Gasbol.

Assim, poderiam obter preços mais baixos que o pago hoje pela estatal, cerca de US$ 7 por milhão de BTUs (unidade internacional de gás natural).

A definição é importante para que o setor privado saiba qual será a capacidade que a Petrobras abrirá a outras empresas.

Fontes do setor avaliam que a Petrobras e a YPFB buscarão um acordo preliminar provisório para manter as condições atuais e evitar interrupção no fornecimento de gás durante a transição boliviana.

O volume de gás importado da Bolívia já tem variado, ficando muitas vezes em 24 milhões de metros cúbicos por dia. Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

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