Estudo aponta escassez de água na maior planície alagada

Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em parceria com trabalhadores assentados no município de Cáceres, concluíram que as águas do Pantanal estão se tornando escassas para uso humano, de animais e plantas, principalmente na época de estiagem, entre maio e outubro.

O Pantanal de Mato Grosso é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta.

A situação de pouca chuva e água foi o ponto de partida para que cientistas da Unemat e comunidade local se unissem na elaboração de um projeto de restauração ecológica, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, sob coordenação da professora Solange Ikeda Castrillon, denominado “Recuperação das nascentes e fragmentos de mata ciliar do córrego do Assentamento Laranjeira I e mobilização para conservação dos recursos hídricos no Pantanal mato-grossense”.

O projeto desenvolvido foi um processo de articulação e mobilização social de diversos atores sociais atuantes no Assentamento Laranjeira I para a restauração ecológica, principalmente a vegetação dos entornos das nascentes e da mata ciliar e dos córregos.

Por meio da experiência dos moradores locais, foi possível evidenciar que a água do Pantanal está diminuindo e começa a faltar. Isto estaria relacionado às atividades de intervenção humana na natureza, como desmatamento de encostas e matas ciliares de córregos, lagos e rios, retirando a vegetação na proximidade das nascentes e olhos d’água, que passam a ficar expostos ao pisoteio de animais e ao assoreamento pela erosão.

A constatação dos moradores sobre as causas da escassez de águas é também observada por estudiosos.

“A supressão da vegetação e a mudança de usos da terra desencadeiam uma série de alterações no meio físico, no ciclo hidrológico e no clima. Sem fazer estudos e pesquisas acadêmicas, alguns moradores, por experiência empírica, obtiveram os mesmos conhecimentos a que chegaram os cientistas e ecólogos. Sabiamente afirmou a moradora: a mata chama a chuva”, avalia a professora da Unemat Solange Ikeda, bióloga e doutora em Ecologia e Recursos Naturais.

O desaparecimento da mata do Cerrado e do Pantanal modifica as condições climáticas, influenciando diretamente o regime das chuvas que regulamentam a unidade do ar e a temperatura.

“O desmatamento para a agricultura ou a implantação de pastagens para a pecuária retira um tipo de vegetação natural, expondo os solos aos impactos diretos das águas das chuvas e aos raios solares, incidindo na estrutura física (compactação) e química (nutrientes) do solo, assim como na microfauna (que são os decompositores) para introduzir cultivos diversos ou monoculturas”, explicou a pesquisadora.

O desmatamento também expulsa a fauna nativa para substituí-la por animais de criação, como bovinos, porcos, ovelhas, cabritos, galinhas, patos, que impactam na superfície do solo pelo pisoteio, na hidrografia pelo uso excessivo da água ou sua poluição e contaminação com coliformes fecais pelos dejetos.

Metodologia

O projeto “Recuperação das nascentes e fragmentos de mata ciliar do córrego do Assentamento Laranjeira I e mobilização para conservação dos recursos hídricos no Pantanal mato-grossense” foi realizado no período de 2012 a 2016.

O Assentamento tem uma área territorial de quase 11 mil hectares, no município de Cáceres, inserido na Bacia do Alto Paraguai, onde afloram diversas nascentes e desaguam cursos d’água. No local, estão assentadas 126 famílias, oriundas de populações tradicionais no Cerrado e Pantanal cacerense e mato-grossense e de outros estados.

O projeto, executado pela equipe multidisciplinar da Unemat em Cáceres, buscou estimular a participação da comunidade assentada, numa metodologia conhecida como pesquisa-ação, na qual pesquisadores e representantes da situação envolvem-se de modo cooperativo ou participativo para a solução de um problema coletivo.

Foram executadas quatro metas prioritárias: 1) Diagnóstico ambiental multidisciplinar, para compreender geologia, clima, hidrologia, fauna e flora da área; 2) Restauração de quatro fragmentos de nascentes e matas do córrego com maior corpo d’água do Assentamento; 3) Processo de mobilização social para conservação da microbacias e sustentabilidade do projeto; 4) Identificação de experiências de recuperação em matas ciliares em nascentes com plantio de espécies nativas na Bacia do Alto Paraguai.

A experiência resultou na publicação do livro “Escassez hídrica e restauração ecológica do Pantanal: Recuperação das nascentes e fragmentos de mata ciliar do córrego no Assentamento Laranjeira I e mobilização para conservação dos recursos hídricos no Pantanal mato-grossense”, organizado por Solange Ikeda Castrillon, Alessandra Aparecida Elizania Morini Lopes (mestre em Ecologia) e João Ivo Puhl (doutor em História da América), da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e pelo professor Fernando Ferreira de Morais (doutor em Biologia Vegetal), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Além do MMA, a publicação contou com o financiamento do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal/Museu Goeld (INPP). A obra pode ser acessada diretamente no Laboratório de Educação e Restauração Ecológica/ Celbe da Unemat.

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