Mulheres trans e travestis também devem prevenir o câncer de próstata

No Novembro Azul é assim: dedica-se um mês inteiro para falar sobre o câncer de próstata, que ainda é uma questão de saúde pública no mundo todo. É um importante momento para conversar com os homens e lembrar que eles também se cuidam e que todos devem ficar de olho na prevenção e na detecção precoce do câncer de próstata.

Mas, também é importante lembrar que não são só homens que têm próstata. Mulheres trans, travestis e algumas pessoas com identidade de gênero não-binária também possuem a glândula, que faz parte do sistema genital biologicamente masculino e, por isso, estão suscetíveis à doença.

“A tendência é o câncer de próstata acontecer na faixa etária acima de 50 anos. Então, é importante que, independente da identidade de gênero, se a pessoa tem a próstata existe esse risco e, portanto, deve manter a prevenção conforme o habitual. Ou seja, a partir dos 50 anos, uma vez ao ano, realizar exames de sangue (PSA) e o toque retal. As pessoas que têm histórico na família ou pessoas negras devem começar a prevenção aos 45 anos”, explica o médico oncologista André Crepaldi.

A lojista, que também atua na cena artística de Cuiabá como cantora, musicista, compositora, atriz e poetisa, Luisa Nayara Soares Lamar, 21 anos, é travesti e, apesar da pouca idade, milita desde a adolescência pelos direitos LGBTs. Luisa Nayara ressalta a importância de a campanha Novembro Azul falar com o público LGBT.

“Já observamos em edições passadas da campanha do câncer de mama essa preocupação em incluir mulheres trans como público alvo, uma vez que, por conta do tratamento hormonal, passam a desenvolver as glândulas mamárias e correm risco de desenvolver a doença. O mesmo cuidado deve ser direcionado ao público LGBT em relação ao câncer de próstata”, observa Luisa Lamar.

O médico oncologista reforça que as pessoas que não fazem nenhum tipo de terapia hormonal constante ou que tomam hormônio sem acompanhamento médico devem ter as mesmas preocupações que os homens quanto ao câncer de próstata. Já as pessoas que fazem terapia hormonal com acompanhamento médico, que bloqueia a testosterona e aumenta a quantidade de estrógeno, podem, em tese, se preocupar menos, pois a próstata para de crescer com a terapia. Mas vale a recomendação médica.

 “Em relação aos grupos que têm próstata e que repõem hormônio feminino, não existem, ainda, muitos estudos sobre isso. Então, o que se deve fazer é manter a prevenção conforme a característica biológica da pessoa: se tem próstata, faz como é recomendado”, orienta Crepaldi.

Luisa Nayara afirma que conhece relatos de meninas que fazem uso de hormônio e que tiveram a diminuição da próstata, mas que em um dos casos houve o diagnóstico positivo para o câncer de próstata. “A gente acaba entrando nessa pilha de que a gente é mulher e acaba não se atentando para os cuidados com a saúde”.

O especialista lembra ainda que, para as pessoas que passaram pelo processo de adequação do gênero, a cirurgia não retira a próstata. Nesses casos, apesar de o exame de toque retal não ser muito pedido, é importante seguir com o monitoramento anual de saúde e estar atento à qualquer alteração. “O câncer de próstata é o principal câncer no homem (pessoa com próstata), quase 70 mil casos são registrados por ano no Brasil. O diagnóstico precoce cura quase 100% dos casos. Quando o diagnóstico é feito com a doença avançada, é difícil atingir a cura e se faz mais um acompanhamento da doença. Apesar de haver outras formas de diagnosticar a doença, é importante fazer o exame de toque  que aumenta a  certeza no diagnóstico”.

Luisa Nayara deixa o recado: “Quero reforçar para as meninas não deixarem de fazer os acompanhamentos médicos. Eu sei que é muito difícil para nós, travestis e trans, chegarmos ao médico, mas precisamos ser fortes e cuidar da nossa saúde. Vamos buscar conhecimento, procurar médicos mais conscientes e humanizados para cuidarmos da nossa saúde. A nossa vida é dura e precisamos nos manter vivas”.

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