ESTADÃO/PABLO PEREIRA
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“Cheguei ao hospital desesperada e vi na TV que meu filho seria uma das vítimas fatais”, conta Sandra Regina Ramos, mãe de José Vitor, o aluno do 2º ano, agredido com a machadada no peito no massacre da Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, em março de 2019.
Diante da escola, Sandra relembra que achava que o filho estivesse morto. Ela relata que estava em casa quando o telefone tocou.
“Não atendi, mas minha mãe atendeu e era do hospital”, disse. Moradora do bairro da escola, Sandra fazia a limpeza de casa para, depois, preparar o almoço, à espera do filho na casa onde ambos viviam com a avó. José Vítor é filho único.
“Hoje mudamos para outro bairro e ele não está mais nesta escola”, explica Sandra, que só descobriu que o filho estava vivo quando um parente, que a acompanhou na correria de casa ao hospital, conseguiu ver o rapaz na maca do Pronto Socorro.
“Só aí fiquei sabendo que ele não tinha morrido”, explica Sandra.
De acordo com a mãe de José Vítor, que não revela o local no qual foram morar, um terceiro participante do ataque teria dito na cidade que a ideia dos criminosos era “matar meu filho”.
Ainda hoje ela acredita que “queriam matar, sim”. Sandra e outras mães do colégio criticam a decisão judicial, anunciada dias atrás, de libertar os quatro acusados de fornecer as armas aos dois ex-alunos, que estavam com prisão preventiva decretada.
“Já estão por aí, soltos, no bairro”, emenda outra mãe, que frequenta uma igreja evangélica no bairro Casa Branca, em Suzano.
“Não é um absurdo, isso?”, questiona uma outra mãe de aluno, enquanto esperava o filho sair da aula na escola provisória da turma, a Faculdade Piaget, em frente à Raul Brasil.
O filho dela, de 17 anos, era colega de um dos garotos assassinados. “Meu filho foi criado com o Douglas”, afirma.
Ela elogia a escola, mas afirma que também está preocupada com o clima de insegurança na cidade.
“A escola é muito boa, sim, mas tem de oferecer segurança.”
Ela conta ainda que o filho, já pai de um menino de um ano e dois meses, também não gosta de falar do crime.
E continua: “Ele frequenta, às sextas-feiras, uma sessão de acompanhamento psicológico no posto de saúde”.
Mães criticam liberação judicial de acusados de envolvimento no crime
Diante da portaria da Faculdade Piaget, a contadora Weslia Dias Campos, que mora na vizinha cidade de Poá, mas mantém a filha, Victória, de 12 anos, estudando no Raul Brasil, também vive apreensiva.
“Venho trazer e buscar”, diz a contadora, que também tem formação em educação, mas não exerce o magistério.
Ela reclama que atualmente os alunos têm de ficar em fila do lado de fora da faculdade à espera do horário da aula. “Já reclamei, eles ficam expostos na rua”, afirmou.
A filha dela está matriculada nas aulas de Espanhol do Centro de Línguas que funciona na Raul Brasil.
O espaço, a partir de abril, deve voltar a atender no prédio reformado da escola da chacina.
Por enquanto, Victória é uma das centenas de alunos que vão às aulas no prédio emprestado.
“Ela quer ser atleta, joga vôlei, faz natação e quer ser veterinária”, diz Weslia.
“O curso lá na Raul Brasil é muito bom, reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação)”, afirma.
“Eu mesma fiz esse curso”, lembra a mãe, justificando a permanência da adolescente na escola.
Mas Weslia afirma também que “há insegurança na cidade” em relação ao caso, principalmente depois da decisão judicial de libertar acusados de vender as armas e de participação no planejamento do caso, que estavam com prisão preventiva desde o ano passado.