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DICAS

Escrever sua biografia pode ser um bom projeto para crianças em quarentena

Paulo Libert/Estadão

Mesmo nesses tempos estranhos e atribulados da quarentena por causa do coronavírus, com pais tendo que se desdobrar entre o home office, as tarefas da casa e o cuidado com as crianças, e com as próprias crianças ocupadas com aulas a distância e tarefas escolares, há espaço para a introspecção e para o autoconhecimento. Mas não, essa não é uma matéria de autoajuda.

Em 9 de março de 2013, o Estadinho publicou uma reportagem que incentivava as crianças a escreverem sua autobiografia e que discutia questões como identidade, mostrando, ou ajudando, a meninada a descobrir como nos tornamos quem somos.

“Quem é você? Olhe-se no espelho. Como você é? Com quem se parece?” Assim começava o texto, e essas perguntas, o próprio texto admitia, eram fáceis de serem respondidas. Difícil mesmo é olhar para dentro e descobrir como somos. “Tímido, tagarela, nervoso, calmo, agitado, organizado, bagunceiro, alegre, quieto… Que características compõem a sua personalidade?”, continuava. A sugestão era seguir pensando nos ambientes frequentados, nas coisas que mais gostamos de fazer, nos nossos sonhos.

A matéria partia de um projeto desenvolvido no colégio Santo Américo, em São Paulo, no qual os alunos de cerca de 6 anos escreviam sua história e isso tudo virava um livro depois. A reportagem reproduzia algumas dessas autobiografias.

Giovanna, por exemplo, contou que era loira, risonha e engraçada, que adorava rock e não gostava que a irritassem. Ela demorou quatro dias para escrever sobre sua trajetória que já entrava no sexto ano. Nela, a garota relembrou o dia em que viu o mar e também quando saiu correndo atrás do cachorro que tinha roubado seu queijo.

João Pedro começou sua autobiografia falando dos amigos e contou uma memória que ele guardava com carinho e orgulho travesso: quando escondeu, com sua turma, todos os docinhos de uma festa.

Maria Clara começou falando sobre sua família e contou que gostava muito de animais. Seu sonho era participar de uma olimpíada, na modalidade hipismo. O pequeno notívago Ricardo contou que ficou sabendo o que era uma biografia quando leu uma sobre Jacques Cousteau, e achou que podia ser legal escrever a dele também.

A versão online da matéria, com o conteúdo completo publicado no blog do Estadinho, indicava três livros para as crianças lerem antes de se aventurarem na escrita de suas biografias. Eram eles: Alberto – Do Sonho ao Voo (Scipione), de José Roberto Luchetti com ilustrações de Angelo Abu; Frida (Cosac Naify), de Jonah Winter; e O Homem Peixe: A História de Jacques Cousteau (Gaia/Global), de Jennifer Berne e Éric Puybaret. Os dois últimos estão disponíveis apenas em sebos.

Estadinho

Há muitas outras opções de biografias para os pequenos no mercado, lançadas mais recentemente. Para as crianças maiores, adolescentes e pais que quiserem conhecer a vida da artista mexicana, a dica é a graphic novel Frida Kahlo, de María Hesse, publicada pela L&PM. Para os menores, Frida Ama Sua Terra – Uma História Para Conhecer Frida Kahlo (Autêntica), de Silvia Sirkise Tomi Hadida.

Pensando nos ídolos juvenis atuais e com versões em e-book à venda, Malala: A Menina Que Queria Ir Para a Escola (Companhia das Letrinhas), de Adriana Carranca, e A História de Greta (Sextante), de Valentina Camerin, são boas opções de leitura. Isso sem contar os inúmeros volumes reunindo várias biografias, sobretudo de mulheres, como Histórias de Ninar Para Garotas Rebeldes (V&R), que virou um best-seller e fez escola, ou As Cientistas: 50 Mulheres Que Mudaram o Mundo (Blucher).

E se a ideia for aliar leitura a estudo, que tal O Menino Nelson Mandela (Melhoramentos), de Viviana Mazza? Tem em e-book.

Mas de volta à página em branco, ou à tela do computador. A matéria do Estadinho explicava para os leitores que estudos mostram que cerca de metade de nossas características de comportamento tem influência da genética, ou seja, quando nascemos, trazemos informações vindas dos nossos pais. Mas que o meio também tem grande influência na formação de nossa personalidade.

O texto explica ainda que é com sete meses que descobrimos que existimos e que com 3 anos, percebendo o meio em que vivemos, começamos a distinguir o que gostamos. Por fim, diz que na infância funcionamos como uma espécie de esponja que pode absorver os valores passados pelos nossos pais e ainda as coisas que acontecem com a gente – e que é assim que, aos poucos, nos tornamos quem somos.

Por onde começar. As professoras que acompanharam os alunos do Santo Américo naquele março de 2013, Patrícia Diniz Oliveira e Camila Assumpção Goulart, deram dicas para a reportagem sobre como começar a escrever uma biografia.

A primeira sugestão foi: converse com seus amigos e peça que eles contem como acham que você é, já que visões diferentes nos ajudam a entender mais sobre nossa personalidade. Ler biografias e autobiografias de pessoas famosas também pode ajudar – a ver, inclusive, como esse tipo de texto é feito.

A terceira dica é fazer uma entrevista com os pais para que eles ajudem a juntar as peças do quebra-cabeça da nossa vida, uma vez que não nos lembramos dos nossos primeiros anos de vida. Sobre o texto em si, a sugestão para quem não sabe como começar o primeiro parágrafo é escolher o simples: escreva qual é o seu nome, quantos anos tem e quem são os seus pais. E depois conte sobre as coisas que gosta de fazer, lembre dos dias especiais e dos momentos engraçados. Isso tudo ajuda a compor a nossa a história, a passar o tempo, e a nos conhecermos melhor nesses dias de isolamento social.

Série de livros propõe um diálogo íntimo na família

Quando a mãe da holandesa Elma Van Vliet ficou doente, ela percebeu que conhecia muito pouco do seu passado. Foi aí que surgiu Mãe, Me Conta a Sua História, o primeiro de uma série de livros que podem ser interessantes também neste momento de quarentena. Isso porque eles podem funcionar como um projeto para as crianças desenvolverem com a família, sobretudo com os avós – se eles também estiverem procurando passatempos neste período de isolamento. Esse livro de estreia e os seguintes, voltados a pais, avôs e avós, foram publicados pela Sextante.

Os volumes são, na verdade, cadernos de perguntas que deram origem a outros produtos, como jogos para famílias, inéditos aqui, e viraram best-seller. “A demanda e o sucesso de obras como essas vêm da nossa necessidade de nos conectarmos com as pessoas que são mais importantes em nossa vida”, disse a autora em entrevista recente ao ‘Estado’.

Outro livro que pode ser de grande utilidade neste momento – agora pensando em crianças que estão aprendendo a lidar e a nomear sentimentos novos e também nos pequenos que se animarem a escrever sua biografia – é o infantil Emocionário: Diga o Que Você Sente, da espanhola Cristina Nuñez Pereira com ilustrações de vários artistas, também publicado pela Sextante. A ilustração acima, da argentina Cynthia Orensztajn, por exemplo, acompanha a explicação sobre o que é irritação. Na obra, que está disponível também na versão digital, a autora nomeia mais de 40 emoções.

Estante: Biografias para crianças

  • Greta

Nascida na Suécia em 2003, a ativista ambiental Greta Thunberg tem inspirado toda uma geração de crianças e tem sido tema de alguns livros. ‘A História de Greta’ (Sextante), de Valentina Camerini, foi lançado no País em novembro de 2019 e é uma biografia não oficial

  • Malala

‘Malala: A Menina Que Queria Ir Para a Escola’ (Companhia das Letrinhas) é um misto de livro-reportagem para crianças com biografia lançado por Adriana Carranca em 2015. É a história da paquistanesa que levou um tiro do Taleban, quase morreu e ganhou o Nobel da Paz

  • Frida

Há muitos livros sobre a mexicana Frida Kahlo (1907-1954), e para todas as idades. Um dos lançamentos mais recentes, para um leitor mais crescido, é ‘Frida Kahlo’ (L&PM), biografia em graphic novel que María Hesse fez de uma das principais artistas do século 20

  • Mandela

‘O Menino Nelson Mandela’ (Melhoramentos), de Viviana Mazza, é uma biografia romanceada de uma das mais importantes personalidades do mundo. Acompanhamos a trajetória do garoto que se tornaria o primeiro presidente negro da África do Sul e Nobel da Paz

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