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VITALIDADE

Idosa completa 104 anos no Dia das Mães e distribui bolo em ‘drive-thru’

A aposentada de São Carlos (SP) Cecília Ferreira da Silva completa 104 anos neste domingo (10), Dia das Mães.

Como faz parte do grupo de risco da Covid-19, a idosa não poderá reunir os netos e os sobrinhos, mas a família improvisou um sistema ‘drive-thru’ para que os convidados passem pela casa da matriarca ao longo do dia e não fiquem sem bolo.

A comemoração teve que ser adaptada em meio à pandemia do novo coronavírus para seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e evitar aglomerações.

Além disso, a família fará diversas chamadas de vídeo para que netos, bisnetos e tataranetos possam parabenizar a aposentada que nasceu em 1916, viu duas guerras mundiais, mais de 20 eleições presidenciais no Brasil, passou pela gripe espanhola e já enterrou quatro filhos.

“Só vai ser a gente de casa mesmo, porque não dá. Aquele almoço de família, que você reúne todo mundo, esse ano não vai ter porque não tem condições”, lamentou o caçula da família, Dema de Francisco.

Quarentena

Dona Cecília é moradora da Vila Isabel e, durante a quarentena, está recebendo os cuidados das filhas, Anadina Alves e Maria Aparecida de Almeida, e da nora, Benedita dos Santos, viúva de um de seus filhos.

Além delas, o filho caçula veio de São Paulo para passar o confinamento com a mãe e ajudar nas tarefas da casa.

“Trabalhei muito na vida, desde criança trabalhei na roça, lavei muita roupa. Agora a vida está boa, estou muito feliz, graças a Deus!”, disse a aniversariante.

Tanto mãe como filhas e nora fazem parte do grupo de risco da Covid-19, por isso, as proteções têm sido redobradas.

“Evitamos chegar muito perto, a não ser em momentos que ela precise de mais ajuda, como na hora do banho. Álcool em gel tem em todo lugar aqui, literalmente”, contou Francisco.

Cecília, 104 anos, e sua tataraneta Alice em São Carlos — Foto: Arquivo Pessoal

Cecília, 104 anos, e sua tataraneta Alice em São Carlos — Foto: Arquivo Pessoal

Na hora de tomar sol, eles também se protegem, usando máscaras e não indo para muito longe da residência, onde há aglomerações.

“Como ela se sente insegura de andar na rua, então coloco ela em uma cadeira de rodas que tem aqui e dou uma volta dentro de casa, no quarteirão. Também colocamos máscaras para não correr risco, é só para tomar um pouco de sol mesmo”, completou Francisco.

Jornada de Cecília

Distante 750 km de Salvador, a idosa nasceu na Vila Urubu, posteriormente chamada de Rio Branco e, hoje, Paratinga (BA). Aos 20 anos, casou-se com Francisco dos Santos, que a deixou com duas filhas ainda pequenas, na Bahia, para tentar a sorte no interior de São Paulo.

Segundo o caçula, que ainda não era nascido, o pai ficou sem dar notícias por dois anos e, como a mãe estava passando por dificuldades, ela também resolveu migrar para São Paulo à procura do marido.

“Na travessia de Salvador para Santos, em um navio cargueiro, minha irmã mais velha morreu de desnutrição e tiveram que atirar o corpo ao mar”, relatou.

Após muita procura, dona Cecília reencontrou o marido e logo na sequência perdeu outra filha. Ao todo, a idosa teve sete filhos, sendo que três deles morreram quando ela ainda era jovem e um quando ela tinha 96 anos.

O marido de Cecília morreu aos 45 anos devido à problemas cardíacos. Com isso, ela se mudou para São Carlos e começou a lavar roupas para sustentar a família.

Homenagem em livro

Para contar toda a história da aposentada, o filho caçula, que é jornalista e ator, escreveu, em 2016, o livro “Jornada de Cecília” em homenagem aos 100 anos de sua mãe.

“Ele foi escrito, basicamente, com as informações que eu trazia das memória de infância, dos fatos que ela me contava e também das minhas vivências já adolescente”, explicou.

A obra tem 37 capítulos e conta os principais desafios que a aposentada enfrentou ao longo da vida. “A ideia decorreu do fato de que os netos e bisnetos de Cecília, a maioria jovens universitários, não tinham ideia do que foi a difícil jornada dessa mulher”, declarou.

Segundo ele, o o objetivo é que seus descendentes soubessem suas raízes, origens e de como Cecília foi peça fundamental na formação da história que hoje eles estão construindo.

“O livro é um tributo a memória dela. Vale ressaltar que Cecília nunca aprendeu a ler ou escrever, ela é analfabeta, mas isso não a impediu que fizesse com que os filhos sempre valorizassem e priorizassem os estudos”, finalizou Francisco.

Cecília Ferreira, 104 anos, entre seus bisnetos em São Carlos — Foto: Arquivo Pessoal

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