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OPERAÇÃO PLACEBO

‘Parabéns para a Polícia Federal’, diz Bolsonaro sobre operação contra Witzel

Marcello Casal | Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro parabenizou nesta terça-feira (26) a Polícia Federal (PF) pelas buscas realizadas pela manhã no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), adversário político do presidente. “Parabéns para Polícia Federal”, respondeu Bolsonaro com um sorriso no rosto, quando questionado por um apoiador sobre a operação.

“A coisa está preta lá no Rio”, disse o apoiador. O presidente, então, aponta para a máscara preta que estava usando e disse que tinha sido informado há pouco sobre a operação. A ação foi autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus.

Segundo investigadores, a PF também busca provas em outros três endereços: no Palácio da Guanabara, onde o chefe do Executivo fluminense despacha; em sua antiga casa, usada antes de se eleger; e em um escritório da mulher dele.

A operação, batizada de Placebo, busca provas de um possível esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e “servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro”, diz a PF.

Witzel é desafeto de Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do então ministro da Justiça, Sérgio Moro, do governo.

A ação desta terça-feira foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no Estado está no centro de uma investigação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se o presidente busca interferir politicamente em investigações da corporação.

A investigação da PF no Rio apura fraudes na contratação da organização social Iabas para a montagem de hospitais de campanha. O inquérito contra Witzel foi aberto a partir de um depoimento de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde preso sob suspeita de fraudes na compra de respiradores.

Neves mencionou o nome do governador ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Estão sendo cumpridos 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e São Paulo.

A operação se baseia em apurações iniciadas no Rio de Janeiro pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal. Os dados obtidos foram compartilhados com a Procuradoria-Geral da República, que conduz a investigação perante o STJ.

Posição Witzel

Em nota, Witzel negou qualquer tipo de participação em irregularidades nas denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal e acusou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de oficializar a interferência na PF. Na véspera da operação, a deputada Carla Zambeli (PSL-SP) afirmou que operações da PF em breve teriam governadores como alvo.

“Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará”, afirmou Witzel.

“A interferência anunciada pelo presidente da república está devidamente oficializada. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o Estado do Rio de Janeiro”, concluiu o governador do Rio de Janeiro.

Carla Zambelli

Nesta segunda-feira, em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de Bolsonaro, falou de um suposto represamento de operações contra governadores, que passariam a ser deflagradas a partir de agora.

“A gente já teve algumas operações da PF que estavam na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de ‘covidão’ ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar. Mas já tem alguns governadores sendo investigados pela PF”, comentou.

Quando um jornalista, de longe, questionou hoje Bolsonaro se Zambelli tinha informações sobre as investigações da PF, ele respondeu: “Pergunta para ela, pergunta para ela”.

Na semana passada, perguntado em entrevista à youtuber Bárbara Destefani sobre uma possível ‘covidão’, Bolsonaro disse: “já começou a estourar acusações da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Dando minha opinião, porque eu nunca procurei saber inquéritos na Polícia Federal. Nunca procurei saber de inquéritos na Polícia Federal. Acho que tem metástase: vai pegar um Estado vizinho e mais gente pelo Brasil, tá? É isso que está parecendo.”

Reação PF

Uma possível relação da operação da PF na casa do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e a troca de comando da polícia no Rio de Janeiro foi levantada por políticos em Brasília ouvidos pela CNN. A hipótese, no entanto, foi negada por fontes da PF em Brasília.

O braço da corporação no estado não foi utilizado na ação. Em nota, a PF diz que os policiais saíram de Brasília para cumprir decisão do Superior Tribunal de Justiça, a pedido da Procuradoria Geral da República, ou seja, todos órgãos localizados na capital federal.

 O comando da PF no Rio mudou no início deste mês. O recém empossado diretor-geral, Rolando Alexandre, decidiu trocar o superintendente local – o que era de vontade do presidente Jair Bolsonaro. Escolhido desde então, o delegado federal Tácio Muzzi teve a nomeação formalizada no Diário Oficial da União, desta terça-feira.

As coincidências apontadas até mesmo por apoiadores de Bolsonaro em redes sociais incomodaram policiais que trabalham na ação. Em posts, nesta manhã, internautas afirmam ser uma PF sob nova direção e agradecem até mesmo à atuação do ministro da Justiça, André Mendonça, que assumiu no lugar de Sérgio Moro.

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