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LANÇAMENTO

Seita sexual é exposta na série “The Vow”

Revelar a sujeira por trás de boas aparências é um mérito em documentários. Mas a série “The Vow” conta um esquema tão escabroso que começa pelo lado oposto: explica, com detalhes, a fachada limpa que encobria a seita sexual Nxivm.

Como um falso “grupo de autoajuda” baseado na violência existiu durante vinte anos e se infiltrou em Hollywood?

O lado podre já é conhecido: a atriz Allison Mack, atriz de ‘Smallville’, foi presa por recrutar escravas sexuais para o “coach” da seita. Elas tinham o peso controlado, eram chantageadas com fotos eróticas e até marcadas a ferro. Mack se declarou culpada em 2019.

O mérito inicial de “The Vow” é mostrar, através dos depoimentos longos de dois ex-integrantes da seita, o seu lado falsamente positivo e sedutor. O primeiro episódio da série é só amor e esperança.

O diretor Mark Vicente e a atriz Sarah Edmondson foram atraídos para o culto e tinham perfis semelhantes: artistas lutando por destaque na indústria de entretenimento dos EUA. Cheios de ambições e de frustrações, eram alvos perfeitos da seita manipuladora.

Os novatos viam vídeos e palestras que os ensinavam a abandonar suas “crenças limitadoras” e, depois, recrutar novos integrantes para subir na hierarquia. Por trás do mistério, a tal seita Nxivm era um misto de autoajuda e esquema de pirâmide.

Eles descrevem e o encantamento pelo líder, Keith Raniere, que posava de intelectual e mentor de ricos e famosos. Ao seguir seus mandamentos, se sentiam mais poderosos e seguros.

A chave para entender o mecanismo do culto aparece no final do episódio. É quando aparece a mulher de Mark, a australiana Bonnie Piesse. Ela atuou nos filmes da saga “Star Wars” do início dos anos 2000 como a jovem Beru Lars.

O perfil de Bonnie é o mesmo dos outros dois ex-integrantes: artista ambiciosa, mas frustrada – na época, tentava sem sucesso ser cantora. Aí fica claro como este tipo de seita seduziu Hollywood, um lugar movido a vaidade, cheio de pessoas vulneráveis ao tal “coach”.

Alison Mack aparece mais tarde, vista como estrela. Mas, apesar de atuar numa série em alta, na pele da melhor amiga do jovem Clark Kent, não era uma atriz consagrada. Seu maior prêmio foi de atriz coadjuvante no Teen Choice Awards de 2001. Perfil não muito diferente dos outros.

Após a boa estreia, a série ainda tem oito episódios para entrar nos detalhes sórdidos: como a seita conseguiu criar um ramo que se dizia feminista e estabeleceu ali um humilhante sistema de “escrava e mestre” entre as integrantes.

“The Vow” tem direção do egípcio-americano Karim Amer e da libanesa-americana Jehane Noujaim, dupla indicada ao Oscar em 2014 pelo eletrizante documentário político “The Square”, sobre os protestos da Primavera Árabe no Egito.

Se conseguir destrinchar a parte corrupta tão bem quanto a fachada de autoajuda, “The Vow” tem potencial para ser uma série consagrada – algo que, no fim das contas, nem um integrante da seita conseguiu.

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