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VOLTAS ÀS AULAS

Estresse, cansaço e inovação: como alunos e professores lidam com o aprendizado no ensino online

Em março de 2020, a pandemia de coronavírus eclodiu no Brasil após o registro do primeiro caso, ainda no final de fevereiro. Uma das primeiras medidas dos governos foi fechar as escolas, já que a aglomeração social dentro da sala de aula implicaria em números maiores de contágio. A priori, muitas secretarias de educação deram férias aos alunos até que os próximos passos fossem encaminhados.

Com o aumento dos casos e a falta de perspectiva de retorno em um futuro próximo, as escolas do ensino público e privado iniciaram a transição das aulas para as plataformas digitais. Passados seis meses desde o início da pandemia no Brasil, o ensino a distância continua em operação, dividindo opiniões e trazendo sensações novas para alunos e professores.

O cenário apresenta questionamentos: o que o ensino online trouxe para o país? Como alunos e professores têm lidado com a falta do contato diário da sala de aula? Veja análises sobre o tema.

Falta estrutura?

O problema inicial – e que ainda persiste em muitos lugares mesmo após quase seis meses – é a notável falta de estrutura. Muita das escolas, até mesmo da rede particular, não detinham qualquer organização para implementar ferramentas online para transferir suas aulas para totalmente para o digital; e a solução teve de vir às pressas.

De acordo com a pesquisa TIC Educação, no fim de 2019, apenas 28% das escolas em áreas urbanas tinham plataformas digitais. Entre as particulares, essa porcentagem chegava aos 64%. Porém, oferecer um espaço online para suporte do ensino não significa estar preparado para migrar para o digital. A função principal dos sites das instituições era auxiliar o aprendizado e permitir trocas simples de conteúdo, não servindo exatamente para a carga exigida na atualidade.

“Muitos alunos, professores e escolas estavam fazendo uso de sistemas e plataformas virtuais para troca de conteúdo, mas a gente verifica muitas diferenças e desigualdades. Muitas escolas não estavam preparadas e muitos professores não estavam preparados para esse momento de ensino remoto”, cita a coordenadora da TIC 2019, Daniela Costa, à Agência Brasil.

Outro problema que aparece na rede pública, ainda mais em regiões carentes, é a falta de acesso à internet. Ainda de acordo com a TIC 2019, 83% dos alunos estavam conectados à rede. Porém, 18% só tinham acesso por meio do celular, o que restringe significativamente as possibilidades para as aulas.

Os sistemas de 4G das operadoras podem ser suficientes para manter uma conversa no grupo da sala ou mandar arquivos por email. Entretanto, não suporta uma rotina de aulas diárias. Nesse sentido, os governos estaduais concentraram esforços no envio de equipamentos para os alunos e no estabelecimento de parcerias com empresas de internet.

“Os governos foram pegos de surpresa. Temos mais de duas décadas de políticas públicas, mas as políticas estavam focadas na tecnologia na escola, no uso dentro da escola. Agora que se levou a escola para dentro de casa. Muitas casas não estão preparadas, com conexão banda larga e dispositivos. As políticas precisam também olhar a inclusão dessas crianças no domicílio, que é espaço de ensino e aprendizagem”, citou o gerente do Cetic.br, Alexandre Barbosa, também em entrevista à Agência Brasil.

O ensino online funciona?

Enquanto o ensino regular, sobretudo da rede pública, sofre para se adequar ao digital, outros setores da Educação já mostram bases mais sólidas para o ensino a distância. Nesse sentido, encontram-se as escolas de inglês, que há anos já apostam em metodologias completamente desenvolvidas para as aulas online e para o suporte de professores por meio de aplicativos e de chats virtuais.

A English Live, por exemplo, é referência no mercado de cursos online. A escola acredita que o ensino a distância traz flexibilidade e mobilidade para o aprendizado, que se expande para muito além da sala de aula. Recentemente, a marca fechou uma parceria com o estado de São Paulo para o oferecimento de 17 mil bolsas para alunos do Ensino Médio da rede pública.

Com uma breve busca nas redes sociais, é possível encontrar elogios sobre o método de ensino a distância, tomado como algo ‘mais livre’. Apesar de críticas e das reclamações, exemplos como o do inglês online da EF mostram que o ensino a distância pode colher bons frutos para seus alunos se bem estruturado.

Portanto, a estruturação de ferramentas de ensino já pensadas para o digital consegue aproveitar a disponibilidade de tempo das alunos e engajá-los no aprendizado por meio da tecnologia. Assim, é possível afirmar que o ensino online conta com casos de sucesso que devem ser levados em conta na discussão para a Educação básica.

O que dizem alunos e professores?

A adaptação à nova realidade evidencia o papel da escola em ajudar o aluno a compreender o mundo a sua volta. As dificuldades das aulas online fazem parte do cenário complicado do planeta em 2020. As incertezas sobre o amanhã, o medo de sair à rua e a reclusão dentro de casa interfere seriamente no rendimento do aprendizado; cabe à Educação compreender as necessidades dos estudantes e intervir.

Após meses de aula online, é possível perceber um cansaço generalizado citado pelos alunos na internet. A questão não é ‘culpa’ apenas do ensino que ainda não conseguiu se organizar, mas também do próprio momento histórico, já que as pessoas estão passando por um contexto prejudicial para o psicológico. Veja alguns comentários de estudantes nas redes:

Do lado dos professores, o assunto se mantém à medida que a maior dificuldade é preparar aulas que não sejam cansativas para os alunos. O desafio é engajar e tornar a exposição do conteúdo algo interessante, além de driblar a falta de estrutura, como diz a professora Iacy Andrade, em entrevista a um portal de Brasília.

“Assim como tantos outros professores, tive que correr para preparar uma aula no mínimo atrativa para os alunos, maior dificuldade é a falta de equipamentos e de internet para os alunos. Grande parte dos pais não têm condições nem para alimentação”, citou a professora.

Em entrevista ao G1, ainda em maio de 2020, a professora Cristiane Zorzatto, da rede pública de educação, falou sobre as dificuldades do período fora da sala de aula.

“O professor não estava preparado totalmente para aquilo tão repentinamente. Alguns tiveram problemas, assistiram vídeos para aprender a dar videoaulas e tudo mais. Mas 40% é a preparação da aula, estudo do professor e tal. Os outros 60%, é do feedback do aluno e aí que fica puxado de saber”, citou Cristiane.

As dúvidas levantadas pela professora corroboram um estudo divulgado em maio pelo Instituto Península, indicando que 83% dos professores não se sentiam preparados para as aulas online. Para entender a situação, já em agosto, o MEC disponibilizou uma pesquisa para ouvir alunos e professores, buscando colher informações para melhorar os sistemas de aulas digitais.

Os professores também citam o período como fundamental para o próprio aprendizado do uso da tecnologia. Aproveitar as ferramentas é uma dificuldade, principalmente para os veteranos, como cita a professora Danielle Almeida a um portal carioca.

“As ferramentas e tecnologias são bastante avançadas, por isso eu encontro dificuldades. Mas tenho o suporte e a habilidade do meu filho, que me ajuda a desenvolver um bom trabalho. Ele está mais atento a esse quesito e sabe lidar melhor. Na sala de aula, tenho mais possibilidades, minhas aulas são com slides, uso Power Points direto porque acho mais prático. Na plataforma estou fazendo a mesma coisa. Tenho a curiosidade de aprender a mexer para fazer o melhor para o meu aluno”, contou Danielle.

Qual o futuro do ensino online no Brasil?

O decorrer da aula online no Brasil pode trazer dois fundamentos para entender o contexto do ensino digital no país. O primeiro é a importância da estrutura. As escolas que conseguem oferecer plataformas eficientes, como faz a English Live com o inglês, mostram um bom desenvolvimento do aprendizado e atingem marcas expressivas ao longo do tempo.

Para isso, é preciso investir. A grande dificuldade do governo é diminuir a desigualdade de ensino entre rede pública e privada, que ficou ainda mais distante com as aulas digitais. As telas não podem ser apenas meros mecanismos para projetar rostos, mas é preciso utilizar o potencial da tecnologia em prol da Educação, o que será o grande desafio para os próximos anos.

O segundo ponto diz respeito ao fato de que o estresse e o cansaço em relação às aulas online são frutos do próprio momento histórico. A pandemia gera reações psicológicas adversas, portanto, uma mensuração mais eficiente só se dará após o encerramento – ou pelo menos maior afrouxamento – das medidas de isolamento social, o que pode demorar anos. Porém, só aí os especialistas terão informações suficientes para medir a viabilidade do ensino digital.

De acordo com o professor e autor, Ismael Rocha, em entrevista à Agência Brasil, o país terá tempo para a implementação de modelos mais eficientes de aulas digitais, já que o ensino online – ou pelo menos híbrido – deve ser um dos principais legados da pandemia de coronavírus, desde que haja o investimento correto em infraestrutura.

“Se tiver um programa de educação que seja formatado de maneira que todos possam ter acesso à informação, certamente nós teremos um ganho. A pandemia traz exatamente esse desenho: a possibilidade de mudarmos definitivamente a realidade da educação no Brasil. Para a educação não existem limites, existe sim a necessidade de ter boa vontade, porque aprender é algo que o ser humano faz desde quando nasce, desde os tempos das cavernas, por diferentes plataformas, nós estamos só sistematizando isso”, citou Ismael.

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