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RAQUEL MARTINS FERNANDES

Mulheres: o poder

A luta das mulheres para um lugar reconhecido na sociedade, é uma luta de todos os dias da sua vida. A mulher empoderada, termo que virou jargão e slogan, é muito mais do que ter um espaço de destaque na sociedade; porque a jornada tripla da mulher continua (tarefas domésticas, cuidado dos filhos e vida profissional), a mulher gestora em alguma organização pública tem os mesmos desafios de outras mulheres e recebe cobranças constantes. Todos os dias precisa provar que é capaz, numa sociedade que ainda valoriza o homem, pelo simples fato de ser homem, e desconfia das qualidades da mulher, pelo simples fato de ser mulher.

O título deste artigo foi inspirado no título de uma ‘live’ da UNIO DIGITAL, com três mulheres marcantes, vale a pena conferir (https://www.youtube.com/watch?v=3uYyRfZXQrg), nesta e em tantas outras ‘lives’ que conferimos, durante o contexto da pandemia do COVID-19, em que a jornada da mulher tornou-se tripla e concomitante (espaço e tempo); percebe-se a valorização da mulher no espaço de gestão democrática no século XXI pela sua capacidade de contemplar o belo e ter postura humanista/empática nas relações; valores tão bem quistos nas organizações; e, por que não dizer também, da capacidade da mulher de engajar outras pessoas em suas metas, com cooperação, com visão global e forte influência.

Dizer que uma mulher é empoderada, que ela tem poder, ou que ocupa um espaço social de poder e autoridade em uma instituição, é dizer que todos os dias, esta mulher com muita resiliência procura se adaptar em uma liderança colaborativa e está constantemente aprendendo a aprender ou aprendendo a desaprender, parafraseamos aqui Fiamma Zarife (diretora geral do Twitter Brasil), sobre o que lhe permitiu alcançar uma carreira de sucesso enquanto gestora. Esta e tantas outras mulheres que tem alcançado um lugar de destaque na nossa sociedade, dependem de circunstâncias que muitas vezes fogem ao seu controle, tais como: preconceitos culturais e históricos, preconceitos profissionais; vulnerabilidades emocionais, econômicas e sociais; desafios hormonais, biológicos e de gestação; não equiparação de salário e carreira em relação ao homem; dentre tantos outros fatores.

Nosso lugar de fala: atualmente ocupo um espaço de gestão no IFMT, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso; a Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação do Campus Cuiabá Bela Vista. Durante muitos anos relutei em ocupar cargos de gestão, principalmente por entender a responsabilidade e nível de cobrança que haveria, todos os dias, cobranças estas até mesmo, simplesmente, por ser mulher. Atualmente, estou muito realizada neste papel social e consciente de que, a cada dia que passa, nós mulheres temos muito a oferecer na gestão de diferentes organizações, sejam elas, públicas ou privadas. A cada ano o número de mulheres que se dispõe e procura oportunidades de atuar como gestora cresce, o número de mulheres que se candidatam a cargos públicos aumenta; temos até mesmo movimentos de ajuda mútua que fortalecem a auto-confiança feminina; tais como a hashtag ‘mulhervotaemmulher’. No contexto institucional do IFMT, as mulheres têm alcançado lugares proeminentes na gestão, e gestão de qualidade; mas, ainda, em número percentual bem menor que a maioria de gestores do sexo masculino. Eleições para diretores e diretoras nos diversos campi chegando e a presença feminina também, com candidatas se destacando em todo estado de Mato Grosso.

Enfim, o poder que uma mulher que chegou onde chegou tem, é o poder de superação de toda negação socialmente imposta, inclusive a negação de sua identidade. Muitas causas do desastre ou da não ascensão na vida de mulheres vêm da sobreposição masculina, por isso, a necessidade de nosso engajamento na luta pela igualdade de direitos.

Uma mulher gestora tem a peculiaridade de todos os dias procurar o bem comum, atender aos que necessitam, compreender a melhor solução para os problemas, não se acomodar com as situações; e, por esta firmeza em suas atitudes, a mulher inspira confiança. Mas, o mais frustrante para ela, é quando de tudo que faz, ainda assim não é reconhecido o seu lugar na sociedade, sua dedicação e seus feitos, pelo simples fato de ser mulher.

Poderia aqui alguém dizer: “mas não são direitos iguais?”, “o homem também pode ter estas mesmas qualidades” … sim, ele pode e tem também muitas qualidades semelhantes entre ambos e sutilezas biológicas e culturais que os diferem também; mas, a polêmica toda reside no simples fato, de que o homem não precisa todos os dias da sua vida ser extremamente perfeito no que faz para ter ao menos a possibilidade de ser ouvido, ou reconhecido ou digno de confiança para assumir um papel de gestão.

Enfim, a mulher, ah!, a mulher … faz a diferencia: emana dela o amor, algo maternal, geracional. Seu empoderamento não está na sedução da nudez do hedonismo sensorial da nossa sociedade pansexual; mas no poder de amar e com extrema sensitividade, sensibilidade e/ou compartilha, construir uma história que valha a pena ser vivida, por um mundo no qual valha a pena viver; um lugar melhor, onde estiver.

Raquel Martins Fernandes

PHD em Psicologia Social (UFPB), doutorado e mestrado em Educação (UFMT) e graduação em Filosofia (UFMG). Líder do Grupo de Pesquisa em Humanidades e Sociedade Contemporânea do IFMT há 12 anos.

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2 comentários em “Mulheres: o poder”

  1. Claudir von Dentz disse:

    Professora Raquel, parabéns pelo artigo e pela oportuna reflexão. A emancipação de uma sociedade requer consciência e atitude. E sobre a participação da mulher nos espaços de poder, penso que está na hora da atitude. Colocar em prática o que já está suficientemente esclarecido e consciente para todos nós. Grande abraço.

  2. Jairo da Luz Silva disse:

    Professora Raquel, muito esclarecedor seu texto. Parabéns.

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