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IMPRESSÃO MATEMÁTICA

PIB voltará a crescer em 2021, mas será mais efeito estatístico que melhora

EFE/ José Pazos

Depois de um ano em que despencou, a economia brasileira deve voltar a crescer em 2021. Projeções feitas por economistas falam em altas que variam de 2% a 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, depois de uma queda de pouco mais de 4% em 2020 (os números finais do ano passado ainda não foram fechados).

Boa parte desse crescimento, porém, se não ele todo, será apenas uma impressão matemática, por conta da base de comparação muito baixa de 2020. O PIB é a soma de toda a riqueza que é gerada no país a cada trimestre. Na prática, essa riqueza passará quase o ano todo estacionada no mesmo nível dos últimos meses de 2020, que já foram bem melhores que os do meio do ano.

Isso significa que, na média, a renda das pessoas não estará mais crescendo, o emprego não estará crescendo, a produção da indústria ou as vendas do comércio não estarão crescendo. Tudo ficará mais ou menos igual a como está agora.

Como, porém, o primeiro ano da pandemia teve meses extraordinariamente ruins –no segundo trimestre, o pior da história, o PIB chegou a cair 9,6% de uma vez–, ficar “mais ou menos igual a agora” já é muito melhor do que o ano passado inteiro. E é daí que virá o crescimento meramente matemático do PIB.

“Se o PIB não crescer mais nada, ele já estará maior que a média de 2020. A economia parou totalmente no segundo trimestre do ano passado, e qualquer comparação com esse período será de alta”

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados

Herança estatística

É o que os economistas calculam como o “carregamento estatístico”, uma espécie de impulso que é sempre deixado de herança do último trimestre de um ano para o ano seguinte.

Esse carregamento acontece todos os anos e pode ser tanto positivo quanto negativo. Um último trimestre mais forte ajuda o ano seguinte a já começar alguns degraus para cima em nível de atividade. Quando, por outro lado, o último trimestre termina em queda, o novo ano precisa de um esforço extra só para recuperar os degraus perdidos e conseguir manter a mesma média do ano anterior.

Como, no caso de 2021, o estrago do tombo foi muito grande, o ideal é que a recuperação pudesse ter outros fundamentos dando tração ao crescimento e muito mais força do que apenas o embalo numérico.

Nas contas do economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale, essa herança estatística deixada de 2020 para 2021 deve ficar na ordem de 3% (consideradas uma alta de 2,6% no trimestre encerrado em dezembro e uma queda de 4,3% em 2020 completo). Isso significa que, se neste ano, o PIB crescer 0% em todos os trimestres, sempre na comparação com o trimestre anterior, a soma completa já será 3% maior que a do ano passado.

A estimativa de Vale, porém, é que a economia cresça 2,5% em 2021 –quer dizer, não fosse por essa ajuda estatística, o resultado “real” seria uma queda de 0,5%. A alta projetada não leva em conta a criação de um novo auxílio emergencial, que já começa ser aventado por governo e parlamentares, mas com valores menores que os do ano passado.

“Há ainda efeitos da pandemia sobre a economia, mas há também o peso de um problema estrutural do país, que não consegue crescer há muito tempo”, disse Vale. Desde a recessão de 2015 e 2016, o Brasil engatou três anos de recuperação muito lenta em que o crescimento anual mal passou do 1%.

Queda brusca, recuperação rápida e estagnação

“O que estamos vendo é que o PIB de 2021 será formado por um alto carregamento estatístico e muito pouco de novo valor adicionado”, disse Tiago Tristão, economista da corretora Genial Investimentos. “O que isso mostra é que a economia saiu com muita força do fundo do poço, lá em abril, e vai aos poucos perdendo tração.”

A Genial projeta um crescimento de 3% para o PIB deste ano, dos quais 2,7% serão o efeito estatístico deixado de herança.

“Desses 3% de crescimento, o valor genuinamente gerado a mais será de 0% a 0,5%. Então, sim, a economia estará muito próximo da estagnação neste ano”

Tiago Tristão, economista da corretora Genial Investimentos

Tristão, da Genial, ressalva, porém, que não é desprezível o fôlego com que o Brasil saiu do buraco que a pandemia abriu na economia no primeiro semestre de 2020. Em poucos meses, o varejo e parte da indústria já estavam vendendo mais do que antes do choque. O PIB do terceiro trimestre cresceu 7,7%. “As ajudas fiscais acabaram impulsionando bem mais do que se imaginava e isso vai acabar levando um pouco de valor adicionado para 2021.”

Renda menor e desemprego na mesma

Muitos economistas estimam, por exemplo, que, sem uma nova ajuda, a renda total do país deve acabar de 2% a 3% menor neste ano em comparação a 2020, derrubada principalmente pela retirada dos R$ 300 bilhões que foram despejados sobre mais de 50 milhões de brasileiros de baixa renda com o auxílio emergencial. O benefício começou a ser pago em abril e foi encerrado em dezembro.

O desemprego é outro que ainda vai piorar antes de melhorar. Atualmente em 14%, a taxa de desemprego caminha para subir até os 15% ou 16% ao longo do primeiro semestre, conforme mais pessoas voltam a procurar (e não encontrar) trabalho.

Ao fim do ano, as projeções é que acabe mais ou menos perto dos mesmos 14% de hoje, já a maior taxa registrada pela série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que começa em 2012.

No primeiro trimestre, inclusive, já é consenso entre os economistas que o PIB voltará a cair, dados os primeiros indicadores de consumo e produção do mês.

“Não faltaram estímulos no ano passado, e isso não vai ter neste ano, em uma economia que ainda está zonza”, disse Vale, da MB Associados. “Quanto mais lenta for a vacinação, mais demorará para a economia e o emprego se recuperarem.”

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