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SONHOS CEIFADOS

Família pede justiça por garoto morto com tiro

OLHAR DIRETO / FABIANA MENDES
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REPRODUÇÃO

Um garoto cheio de sonhos, carinhoso, estudioso e que não fazia mal a ninguém. Assim definem os familiares de Gustavo Henrique da Silva Macedo, de 16 anos, que morreu vítima de um tiro de espingarda no rosto, no Assentamento Santo Antônio da Fartura, zona rural de Campo Verde (140 km de Cuiabá), na noite do último sábado (20). O suspeito de matar o adolescente é um amigo de infância de 15 anos, que também é enteado de seu pai.

Estudante do 1ª Ano do curso Técnico em Agropecuária no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), ele tinha o sonho de entrar na Instituição.“Quando entrei no IFMT São Vicente, ele falou para mim: maninha, quando eu tiver idade, eu quero fazer prova para entrar lá”, lembra Nayara Alves, de 20 anos, irmã do adolescente, com voz embargada e os olhos cheios de lágrimas.

Dias antes de morrer, Gustavo, que desde criança teve contato com a agropecuária, tinha compartilhado com o pai a notícia de que teria sido aprovado nas aulas e iria cursar o segundo ano do curso técnico.

“O sonho dele era formar ali, seguir nesta área de fazenda, trabalhar com animal. Tanto que no dia que aconteceu [a morte], ele passou o dia todo ‘tocando’ gado, mexendo com os animais”, acrescenta a irmã.

O pai de Gustavo é padrasto do suspeito de efetuar o disparo. A mãe da vítima, Valdinete da Silva Costa, 37 anos, se separou do pai dele quanto o menino tinha cerca de seis anos.

Apesar disso, o convívio entre as famílias sempre foi tranquilo. Gustavo, inclusive, tinha o suspeito como um irmão. “Era uma convivência familiar”, relata Valdinete.

Mãe conta que a convivência entre as famílias sempre foi tranquila. 

O dia da morte

Gustavo Henrique tinha passado o dia fora de casa com o suspeito e no fim do dia, sua mãe enviou algumas mensagens por Whatsapp questionando onde ele estava, pois queria ir comer espetinho. Em duas vezes, elas foram visualizadas. Já na terceira, não.

Stefhany Alves, de 18 anos, também é irmã de Gustavo e foi a primeira a receber a notícia. Por volta das 18h, ela estava na casa do namorado, que foi até o local ver o que de fato teria acontecido. Depois disso, contou para a jovem que seu irmão teria sido atingido por um tiro no rosto.

“Eu fiquei desesperada. A primeira coisa que eu pensei foi em como eu ia contar para minha mãe. Ela era muito apegada a ele. Liguei para Nayara, falei que tinham matado Gustavo. Na hora, ela não acreditou, começou a chorar. É uma coisa que ninguém esperava”, conta Stefhany.

Stefhany foi a primeira da família a saber da morte de Gustavo. 

“Pensei que era uma brincadeira, porque não tinha motivo para ninguém fazer isso com Gustavo”, pontua Nayara, que mora em Cuiabá e estava aproximadamente um ano sem ver o irmão por conta da pandemia do coronavírus.

A notícia da morte de Gustavo causou uma aglomeração de pessoas, entre vizinhos, amigos e familiares. A mãe precisou ser medicada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Deram calmante para ela, ficou dopada”, diz Stefhany.

“Eu cheguei lá por volta das 22h. Demoraram bastante para tirar o corpo porque é longe o IML. Não tive coragem de olhar para o local. Aconteceu na frente da casa do avô do suspeito. Tinha sangue, pedaços do rosto, dente”, conta Nayara.

Nayara estava há cerca de um ano sem ver o irmão. 

Se não bastasse a demora, dentes do adolescente foram deixados em frente da residência e posteriormente encontrados quando moradores foram limpar o local.

O suspeito passou o dia com Gustavo e desapareceu após a morte. Depois de dois dias, ele compareceu na delegacia, onde foi ouvido e liberado.

Há relatos de que o suspeito teria ameaçado dar um tiro na cabeça do próprio padrasto.

Investigação

Duas hipóteses são investigadas pela Polícia Civil. A de disparo acidental e de homicídio, que possivelmente seria motivado por inveja, já que Gustavo sempre foi estudioso e dava orgulho para seu pai, que é padrasto do suspeito.

Entretanto, o suspeito teria parado de estudar e tinha histórico, inclusive, de ameaçar pessoas com a arma de fogo, que é do avô, pessoa com influência política em Campo Verde.

A família diz que não foi procurada pela Polícia Civil até o momento. Sabe-se que apenas uma pessoa foi chamada para oitiva. A dinâmica da morte será apontada por laudo da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec).

Família procura respostas. 
De acordo com a Politec, o perito responsável pelo caso recebeu da Polícia Civil a espingarda usada pelo adolescente no dia 25 de fevereiro e está realizando os exames.

O prazo mínimo para conclusão do laudo é de 10 dias, mas pode ser prorrogado e neste caso, por conta da complexidade, levara mais tempo para confecção.

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