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IRÁ CONTINUAR CARO

Preço do óleo de soja dobrou e deve continuar alto em 2021

Depois de disparar 103% em 2020 e ter sido o produto com maior alta de preço no ano passado, o óleo de soja continua custando praticamente o dobro do que há um ano atrás.

A inflação do produto no Brasil acumula alta de 87,5% nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No estado de São Paulo, por exemplo, o consumidor está pagando, em média, R$ 7,45 pela garrafa de 900 ml, valor duas vezes mais caro do que em fevereiro de 2020 (R$ 3,86).

“Há um ano atrás, eu não pagava nem R$ 4 no óleo de soja. Hoje a gente brinca que, quando o óleo está R$ 6,90, está na promoção”, diz Luana Machado Pereira, de 27 anos, que tem uma empresa de marmitex e bolo na cidade de São Paulo.

Ela conta que a diferença de preço da garrafa de óleo varia muito pouco entre as marcas mais e menos conhecidas. “Quando você vai ver, a diferença entre elas é de 2, 3 centavos”, diz.

O dono de uma barraca de pastel na Praia Grande (SP), Ailton Quirino da Silva, também percebeu o mesmo. “Tanto no varejo como no atacado, a gente está pagando o dobro pelo óleo. A saída foi repassar o custo para as porções e para os pastéis. Foi difícil e está difícil”, conta.

E a tendência é que o consumidor brasileiro continue pagando caro pelo óleo ao longo deste ano, afirmam economistas consultados pelo G1. Segundo eles, isso deve ocorrer pelos seguintes motivos:

  • Cotação da soja muito alta no mercado internacional: isso está acontecendo porque a demanda pelo grão está aquecida e maior do que a produção. Quando a procura é maior que a oferta, os preços sobem.
  • Desvalorização do real frente ao dólar: cotação da soja no mercado internacional é em dólar e o preço praticado no Brasil segue essa variação. Como o dólar valorizou muito em relação ao real, as operações que envolvem o grão também ficaram mais caras e o produtor tem repassado esse custo para os produtos finais, como o óleo de cozinha.
  • Disparada do preço do óleo de palma: o valor do óleo de soja também é definido com base nos preços de outros óleos vegetais. E o óleo de palma disparou no mercado externo por causa de uma redução dos estoques nos principais países exportadores do alimento, como Malásia e Tailândia.

“O único fator que poderia derrubar o preço do óleo de soja no Brasil seria o dólar cair. Mas essa é uma chance muito reduzida”, diz Carlos Cogo, sócio-diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio.

Veja a seguir mais detalhes sobre por que o óleo vai continuar caro:

Preço da soja nas alturas

O preço da soja no atacado nacional subiu 84% nos últimos 12 meses até 19 de março, segundo levantamento do analista Carlos Cogo, com base nos dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP.

E essa alta tem sido repassada para o consumidor. “Quando a gente olha para o óleo de soja, o preço ao consumidor esbarrou neste patamar de aumento de quase 100%. Então, o repasse de preço foi praticamente integral”, André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV).

O forte aumento no atacado é explicado pelas cotações recordes do grão no mercado internacional, que tem sido puxadas por um aumento do consumo do grão no mundo.

Um dos países que mais procura pelo grão é a China, que usa o produto, por exemplo, como ração para os seus animais.

“Os chineses estão recompondo o seu rebanho suíno, pois parte importante dele foi dizimado pela peste suína africana”, afirma Felippe Serigati, coordenador do do mestrado profissional em Agronegócios da FGV EESP.

Demanda maior que a produção

Serigati destaca, porém, que a procura pela soja está maior do que a produção, o que contribui para deixar os preços altos.

A oferta está menor porque no Brasil e na América Latina a colheita da soja está atrasada, os estoques estão baixos e parte da soja que ainda nem foi colhida já foi vendida.

“A partir de setembro começa a entrar a safra norte-americana. E os Estados Unidos estão passando por um inverno rigoroso. Isso pode atrasar também o plantio por lá“, diz Serigati.

Porém, ele afirma que, mesmo que tudo ocorra bem na colheita dos EUA e na do Brasil, o mundo terminará esta safra com os estoques mais baixos de soja desde 2014.

Além disso, no Brasil, o óleo de soja é usado tanto pela indústria de alimentos como pelas usinas para produzir o biodiesel.

“Em março, a mistura do biodiesel no diesel aumentou [de 12%] para 13%. Então, o óleo de soja está sendo disputado no mercado externo e aqui dentro pelas usinas de biodiesel, pelo atacado e varejo para o consumo humano”, diz Cogo.

Essa maior disputa pelo produto fez o óleo de soja (+116%) subir mais que o grão (+84%) nos últimos 12 meses até 19 de março.

Real desvalorizado

Somente a cotação da soja no mercado internacional já deixaria o preço do óleo mais caro. Mas o que pressiona ainda mais o valor do produto é a forte valorização do dólar em relação ao real.

A soja é cotada em dólar e o preço praticado no Brasil segue essa variação. “Como nosso real está valendo menos, tudo o que é precificado em dólar lá fora, chega aqui mais caro”, diz Serigati.

Por conta disso, o professor da FGV avalia que o preço do óleo de soja deve permanecer no mesmo patamar que está hoje. “Não há motivo para imaginar que vai ficar muito abaixo desse nível”, diz.

Óleo de palma disparou

valor do óleo de soja também é definido pelos preços de outros óleos vegetais. E a cotação do óleo de palma disparou no mercado externo por uma diminuição nos estoques dos principais países exportadores do alimento, como na Malásia e na Tailândia.

“Os preços internacionais do óleo de palma aumentaram pelo 10º mês consecutivo em fevereiro, impulsionados pelas preocupações com os baixos níveis de estoques nos principais países exportadores, com produção afetada nas últimas temporadas”, diz Cogo.

Além disso, há um aumento do consumo de diversos óleos vegetais no mundo, como de soja, palma, canola, diz Daniel Amaral, economista-chefe da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). “Países asiáticos como a China, por exemplo, estão consumindo mais”, diz.

“Mas a produção não aumentou na mesma proporção e isso se reflete nos preços que estamos vendo agora“, finaliza Amaral.

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