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JUSTIÇA SEJA FEITA

Pai de Henry: “Jairinho não é maluco. É psicopata lúcido, assassino”

METRÓPOLES / ALINE FREIRE
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Reprodução

Evangélico, em casa, sozinho, sem dormir direito desde o fatídico dia 8 de março, o engenheiro Leniel Borel de Almeida Júnior, pai do menino Henry Borel Medeiros, conta que está orando muito, todos os dias, e que se apega a Deus para seguir em frente. “O poço não tem fundo. Têm sido dias muito difíceis. Uma notícia pior que a outra. Todos os dias sinto uma angústia diferente.”

Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Leniel chama o vereador e médico Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), de “psicopata” e “assassino”, e não isenta Monique da obrigação de proteger Henry. O engenheiro relata, ainda, um encontro com o parlamentar, no qual pediu a Jairinho para não abraçar mais o menino, e a recusa de falar com o político no enterro da criança. Padrasto e mãe do garoto estão presos, desde o último dia 8, acusados de envolvimento na morte de Henry Borel.

É verdade que Jairinho te disse para ter outro filho, logo após a morte de Henry, no hospital?

Sim. Na antessala do hospital. Já era mais ou menos umas seis e pouco da manhã, Monique estava chorando, e eu esperando a troca de plantão da assistente social para pegar um documento, quando Jairinho virou para mim e disse: “Leniel, você resolve a partir daqui?”. Eu respondi: “Sim, eu resolvo, deixa comigo”. Aí ele falou: “Bora, Monique, vamos para casa. Vamos virar essa página. Vida que segue. Vocês fazem outro filho”.

Eu virei para um amigo que me acompanhava e perguntei: “Você ouviu o que esse cara falou?”. Meu amigo me tirou do local e me levou para tomar um café. A partir dali, nunca mais falei com Jairinho. Minha vontade era de pegar ele naquele momento, mas precisei ter muito sangue frio ali. Não sei o intuito dele de falar aquilo, mas depois vimos que ele falou a mesma coisa para alguém do hospital. (Segundo a investigação, a partir de conversas recuperadas no celular de Jairinho, o vereador pede para algum conhecido do hospital para agilizar o atestado de óbito para ‘virar a página’).

Hoje, olhando friamente, o cara achava que meu filho era um boneco. Nunca vou virar essa página! E está muito claro. Eu procurei a polícia, a imprensa, e o cara procurou o governador do Rio (Jairinho ligou para Cláudio Castro, governador do Rio em exercício, na noite da morte de Henry).

No seu depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), ao qual o Metrópoles teve acesso, você conta um episódio que o menino reclamou que o “tio abraçava muito forte”. Você chegou a falar com Jairinho sobre isso? O que ele disse?

Eu tive contato com Jairo três vezes. Nesse episódio, na segunda semana de janeiro, fiquei sabendo pela primeira vez que Monique estava morando no Majestic (prédio onde Jairinho, Monique e Henry moravam). Nesse fim de semana, estava combinado que eu iria pegar meu filho, e perguntei para Monique o local onde eles estavam. Ela me mandou o endereço e passei lá.

Logo quando meu filho entrou no carro, me falou: “Papai, o tio me machuca”. Eu falei: “Como assim, filho? Ele te machuca como?”. Ele disse que Jairo dava abraço muito forte nele. E continuou: “Minha mãe falou que é sonho”. Eu respondi: “Sonho não é, não”. Liguei no mesmo momento e questionei: “Monique, o Henry está me contando aqui que o tio machuca”. Ela falou assim: “Leniel, isso foi sonho. Isso não existe”. E falei pra ela: “Quando eu voltar para entregar ele, quero falar com esse tio aí”.

Quando levei o Henry de volta para a mãe, pedi para conversar com ele (Jairinho). A Monique interfonou, e o Jairo desceu. Eu falei: “Meu filho me contou que você dá abraço muito forte nele”. Ele respondeu que o Henry pedia abraço. E a Monique confirmou. Eu respondi na hora: “Forte ou fraco, eu não quero que você dê abraço nenhum no meu filho”. Ele foi defensivo e disse: “Não… tudo bem”.

Meu filho me contou também que ele ficava sozinho com Jairo. Falei para Monique: “Não quero que deixe ele sozinho em nenhum momento, a babá (Thayna de Oliveira Ferreira) foi contratada para isso. Se você precisar ir para sua academia, tudo bem, mas não deixa meu filho sozinho”. Os dois me responderam que isso não acontecia.

Quando caiu a ficha de que o Henry teria morrido por agressão e não por acidente doméstico?

Naquele momento no hospital, eu pedi: “Deus, me leva, mas não leva meu filho”. Ajoelhei para os médicos e implorei para eles não pararem de reanimá-lo. Os médicos deram oito injeções de adrenalina nele, acho que o normal são quatro. Eles tentaram salvar meu filho, mas nada daquilo fez meu filho voltar.

Naquela madrugada, acreditava que meu filho havia infartado. Estava me martirizando naquele hospital, pensando em um mal súbito ou uma má-formação. Por volta de umas 19h, recebi o laudo preliminar da necropsia que dizia “hemorragia interna”, “laceração hepática causada por ação contundente”. Ali, eu vi que meu filho tinha sido agredido.

Perguntei para o policial de plantão o significado do laudo, e ele respondeu que não era causa natural, seria agressão. A analogia que ele fez foi de uma queda do quarto andar. Os dias seguintes foram muito angustiantes. Porque eu já tinha pensado que tivesse sido Monique, já tinha pensado que tinha sido o Jairo, já tinha pensado que tivesse sido os dois. Todos os dias, isso me martirizando. Um dia, em casa, eu orando, só pedia a Deus a verdade. Não quero vingança. Só quero saber o que aconteceu com meu filho.

Nesse dia, a Natasha (de Oliveira Machado, cabeleireira, ex-namorada de Jairinho) me procurou e disse: “Leniel, se eu tivesse falado o que sei há oito anos, eu teria salvado seu filho”. Quando ela me contou tudo que presenciou, tudo que viveu com a filha, a minha ficha caiu que tivesse sido o Jairo. Ali, eu falei: “Cara, ele é um psicopata”. Depois vieram denúncias de outras ex-namoradas e mulheres, e vimos que se tratava mesmo de um psicopata. O cara tem prazer em agredir mulheres e crianças.

No enterro do corpo do Henry, você falou com Jairinho e Monique?

Depois que o Jairo me falou no hospital para ter outro filho, eu não quis mais falar com ele. Eles ficaram pressionando para ser caixão fechado, para eu liberar logo o corpo no Instituto Médico Legal (IML). Eu sofri muita pressão deles. Quando eu cheguei ao enterro, o Jairo já estava lá, cheio de seguranças, e veio me cumprimentar. Eu disse: “Ó, cara, não quero conversar nada com você, não”.

Depois até pedi desculpa para uma assessora dele: “Esse cara não é nada meu, não é nada do meu filho. Não quero falar com ele. Pede desculpas para ele”. Conversei com a Monique no enterro, dei um abraço nela, disse que estaria orando. E depois não nos falamos mais.

No inquérito que apura a morte do Henry, há uma nuvem cinzenta do que realmente aconteceu com o menino naquela noite. O que você acha que possa ter acontecido?

Essa questão me angustia todos os dias, mas eu deixo para a polícia preencher essa nuvem cinzenta. Já pensei em muita coisa. Por exemplo: será que foto pode ter sido tirada em outro momento (foto de Monique e Henry na cama, enviada a Leniel pela mãe do menino, cerca de duas horas depois de ele voltar para a casa no domingo, 7 de março)? Na imagem, que mostra meu filho descendo com Monique no elevador, parece que o Henry já estava morto. Eu contratei um perito. Parece que meu filho já estava morto horas antes. Tá muito estranho, entendeu?

O papel do Jairinho é claro para todo mundo. Trata-se de um assassino, que poderia ter matado a filha da Natasha, o filho da Débora (Mello Saraiva, ex-namorada de Jairinho) ou outras crianças. Infelizmente, meu filho foi o que veio a falecer. Esse modo de tortura e de agressão que ele faz é para matar. Se não matou antes, é por sorte, por Deus. E Deus permitiu que meu filho se fosse, nesse momento, para todo mundo ver quem é o Jairo.

Teve que acontecer com meu filho para a gente tirar um psicopata da sociedade. Um cara desse não pode viver em sociedade, porque ele vai fazer de novo. E você vê que ali não tem remorso algum. Você vê pelo semblante, pela cara, pelas coisas que estavam acontecendo. E não é maluco, não. É um psicopata lúcido.

Você acredita na culpa da Monique ou acha que ela foi somente omissa?

Até o momento da prisão da Monique, eu achava que ela estava sendo coagida. Como pai, não posso acreditar que uma mãe não proteja o filho. Era essa a minha concepção de vida, de criação. Eu conheci a Monique. Ela era uma boa mãe. Tudo mudou a partir do momento que ela conheceu o Jairo.

Hoje, quando vejo as mensagens de que ela sabia das agressões sofridas pelo meu filho, não dá para entender. Em uma conversa por telefone com Monique, sobre a história que “o tio machuca”, ela ainda me falou: “A Thayna não sai de perto dele, passa a manhã toda com ele. Eu parei de ir para a academia para cuidar dele. Eu durmo com ele. Muitas vezes, o Jairo nem vê o Henry, porque chega tarde da Câmara. Se eu souber de alguma coisa, Leniel, eu mato ele”.

Ela me falou tudo isso na quarta-feira antes da morte do meu filho. Agora, como vou acreditar que uma mulher que falou isso tudo para mim estava sendo coagida? Ela não defendeu o filho dela! Se ela estivesse tomando pancada, se estivesse sendo agredida, que me desse o meu filho para eu criar.

No contexto, eu deixo essa investigação para a polícia. Mas, possivelmente, o delegado já sabe de tudo – de quem é Monique, de como ela estava agindo. Eles chegaram à delegacia e colocaram o pé na mesa, Monique tirou selfie. Um escárnio! Como alguém que sabe que o filho foi morto, agredido, sendo coagida, faz um escárnio como esse?

O que você espera que aconteça daqui para frente?

Eu espero que a verdade apareça. É sempre o que eu peço. Todos os dias, eu dobro meus joelhos, peço a Deus para que a verdade apareça. Eu vou até o fim. Meus advogados estão aí. Já chamamos um novo advogado para o caso. Se tiver que ir para o tribunal do júri popular, e eu creio que tem que ir mesmo, tenha algo bem julgado, bem analisado para os dois.

Eu não quero vingança, eu quero justiça. Não quero que Jairinho morra, Monique morra, não é isso. Quero que a justiça seja feita, e principalmente a justiça de Deus, que é perfeita. Para todos os envolvidos que não salvaram meu filho, que não me falaram do que estava acontecendo, que desacreditaram o Henry, que tenham a justiça de Deus. Levaram a minha paz.

Ao encerrar a entrevista, informado pela repórter que também tem um filho de cerca de 4 anos, mesma idade do menino Henry Borel, Leniel dá o recado final: “Nossa, dá muito beijo no teu filho. Daria tudo que tenho por mais um dia com meu filho. Nada do que conquistei, trabalhei, tem mais valor. Nada faz mais sentido. É muito difícil para um pai enterrar um filho”, conclui.

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