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CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Soja: 71 milhões de hectares foram poupados com adoção de tecnologias

O uso de tecnologias poupa-terra no cultivo de soja no Brasil economizou 71 milhões de hectares em área plantada, de acordo com estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Isso aos territórios da França e da Irlanda somados. Inovar também permitiu que a avicultura de corte economizasse 1,55 milhão de hectares e a suinocultura, 1 milhão de hectares.

As tecnologias poupa-terra são aquelas que permitem incrementos sustentáveis na produção total em uma mesma área e, graças ao seu uso, evita-se a abertura de novas áreas para produção agropecuária. Entre as mais conhecidas estão os sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e uso de bioinsumos.

“O Brasil já conta com uma série de sistemas e tecnologias sustentáveis que podem ser consideradas estratégias poupa-terra em franca adoção para os principais sistemas produtivos agropecuários do país”, diz o engenheiro-agrônomo da Embrapa Samuel Telhado.

Segundo o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Guy de Capdeville, uma das principais vantagens das tecnologias poupa-terra é que atendem a produtores de todos os portes: pequeno, médio e grande. “Trata-se de modelos extremamente democráticos e que têm alcançado resultados impressionantes em todos os biomas brasileiros”, afirma.

O diretor ressalta o impacto das tecnologias poupa-terra na produção de soja. Na safra de 2019/2020, foram produzidos 251 milhões de toneladas de grãos em uma área de 65,8 milhões de hectares. A contribuição da soja para esse montante foi de 120,9 milhões de toneladas em 36,9 milhões de hectares, o que representa uma produtividade de aproximadamente três quilos por hectare. A leguminosa responde por 3,6% dos empregos gerados pelo agro no Brasil.

“Se nos reportarmos à década de 1970, sem a tecnologia existente hoje para produção de soja no Brasil, para manter esses índices de produtividade, seria necessário expandir a área em 195%, ou seja, praticamente o triplo do que temos hoje. Com a ciência e as tecnologias poupa-terra conseguimos preservar uma área de 71 milhões de hectares”, acrescenta Capdeville.

A pecuária também vem poupando

Na avicultura e suinocultura, o progresso tecnológico contínuo nas últimas quatro décadas garantiu às atividades lugar cativo no ranking das melhores do mundo. Grande parte desse sucesso se deve ao processo de conversão alimentar, a quantidade de ração que um animal precisa consumir para cada quilo de peso que ganha. Essa tecnologia é o resultado direto dos progressos obtidos ao longo dos anos em vários segmentos, como o melhoramento genético, nutrição, sanidade animal, manejo e ambiência.

No caso da avicultura de corte, em 1975, o frango precisava de 2,1 kg de ração para ganhar um quilo de peso vivo. Em 2020, esse mesmo quilo de peso foi obtido com 1,7 kg de ração. Considerando a produtividade atual do milho e soja no país, caso o desenvolvimento tecnológico não tivesse dotado os frangos de maior capacidade de conversão de ração em ganho de peso, a avicultura de corte demandaria um adicional de 1.551.056,40 ha de terra para entregar as mesmas 16,4 milhões de toneladas de peso vivo de frango produzidas em 2020. Essa economia de terra equivale a três vezes o tamanho do Distrito Federal.

Na suinocultura comercial brasileira, a melhora na conversão alimentar entre os anos de 1975 e 2020 permitiu reduzir o consumo de ração de 3,5 kg para 2,6 kg. Sem o aporte tecnológico, seriam necessários 1.007.745,70 ha de terra para produzir as 5,3 milhões de toneladas de carne suína produzidas hoje. A terra poupada corresponde ao território inteiro da República do Chipre.

“De forma geral, esses números mostram claramente que sem tecnologia não há sustentabilidade. E para levar a ciência ao campo, contamos com o apoio dos produtores brasileiros, que são altamente receptivos aos avanços tecnológicos”, pontua Capdeville.

As tecnologias que poupam terra no Brasil

Entre as principais tecnologias poupa-terra já consolidadas no Brasil, estão os sistemas ILPF, que integram lavoura, pecuária e floresta em uma mesma área. Em 2015, eles ocupavam uma área de aproximadamente 11 milhões de hectares no Brasil. Em 2021, esse número saltou para 17 milhões.

Os sistemas ILPF aliam produtividade e benefícios ambientais, especialmente para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa (GEE). “São modelos de produção que se adaptam com facilidade a todas as regiões brasileiras e têm sido bastante importantes para o aumento de renda e geração de empregos na região Nordeste do país, a partir do consórcio de macaúba com outras culturas”, diz Capdeville.

Outra tecnologia poupa-terra importante no agro brasileiro é o sistema de plantio direto (SPD). Trata-se de uma forma de manejo conservacionista que mantém a cobertura do solo, por meio da manutenção dos restos culturais e de colheita e palhas. Implicam diminuição da compactação do solo, manutenção da umidade, redução da erosão e do assoreamento dos recursos hídricos.

A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é realizada por bactérias presentes no solo ou adicionadas por meio da prática da inoculação. Ao lado da ILPF e do SPD, essa tecnologia foi escolhida como um dos pilares do Plano Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC), do Ministério da Agricultura, criado para incentivar o uso de técnicas sustentáveis na agricultura, visando à redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE).

Por dispensar o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura de soja, a FBN gera uma economia anual de divisas para o país da ordem de US$ 7 bilhões a US$ 10 bilhões. Mais informações estão disponíveis na página sobre a FBN no portal da Embrapa. Os cientistas trabalham agora para estender os benefícios dos bionsumos para a disponibilização de fósforo e potássio.

O emprego de bioinsumos em substituição aos insumos não renováveis também tem forte impacto como tecnologia poupa-terra. Entre os mais utilizados, estão os inoculantes (que promovem a fixação de nitrogênio nas plantas) e os agentes biológicos para o controle de pragas (insetos, fungos, vírus e bactérias), que utilizam a biodiversidade para proporcionar ferramentas de manejo mais equilibradas e sustentáveis.

O lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos, em 2020, visa impulsionar o uso de recursos biológicos na agropecuária e reduzir a dependência dos produtores rurais em relação aos insumos importados. Estima-se que, com esse programa, a área agropecuária com uso de recursos biológicos aumente em 133%.

O Pronasolos, o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) e a agricultura de precisão também apresentam potencial poupa-terra por auxiliar a gestão territorial e otimizar o uso de recursos naturais, diminuindo custos de produção e aproveitando melhor as áreas de plantio.

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