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LUTO NO SAMBA

Nelson Sargento deixa legado de resistência e representatividade

CLAUDIA MARTINI/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

Quem vê o Brasil, lá em janeiro, fevereiro, vendendo o desfile das escolas de samba como um espetáculo turístico de apelo internacional, um dos cartões postais da nossa cultura, pode ter a sensação de que valorizamos demais esse movimento. Mas a realidade é bem distante disso.

O samba nasceu marginalizado, bandido, visto com desprezo pela elite dominante. Foi e ainda é símbolo de resistência, cronista das favelas, becos, vielas. Voz de um povo acostumado a ser oprimido e não visto, mas que fez da música vitrine e símbolo de representatividade.

Essa batalha pela afirmação do samba teve inúmeros soldados inesquecíveis. E teve também seu Sargento: Nelson Mattos. A passagem pelo Exército foi curta, mas foi na avenida, nos botequins e no morro que verdadeiramente serviu à pátria amada.

“Negro, forte, destemido”, risonho, elegante, gente boa e multitalentoso. Foi compositor, cantor, ator, pintor. Artista no melhor e mais completo sentido da palavra. Não por acaso, sua partida rendeu homenagens de nomes dos mais diversos segmentos: do samba, claro, mas do rock, do rap, da televisão, da literatura. É o país que se curva ao preto, velho, periférico. É o Brasil reconhecendo que perdeu um pouco da poesia neste dia.

Parceiro de nomes como Cartola, Carlos Cachaça, Paulinho da Viola, Zé Kéti e tantos outros, morreu nesta quinta-feira (27) levando consigo um pedaço importante da nossa cultura. Mas, como bem enfatizou a Estação Primeira de Mangueira, escola de samba a qual era apaixonado e presidente de honra, “a semente plantada por ele rendeu frutos que estarão eternizados junto à certeza de que ‘o samba agoniza, mas não morre’ jamais”.

Nelson Sargento foi uma das grandes cabeças brasileiras. Seu legado vai de Elza Soares a Mariene de Castro, de Gilberto Gil a Emicida. Para o sambista, hoje foi dia do suspiro derradeiro. Para quem fica, essa herança é imortal.

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