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VARIAÇÕES

Possível impacto da alta dos juros no PIB coloca país em impasse

Michael Melo/Metrópoles

O cenário de inflação acima do dobro da meta do governo para o período de 12 meses vai resultar nesta quarta-feira (22) na quinta elevação consecutiva da taxa básica de juros da economia brasileira. A alta, prevista em 1 ponto percentual, deve levar a Selic a 6,25% ano, patamar inferior àquele que chegou a ser cogitado por analistas do mercado financeiro.

variação pouco mais contida e semelhante à da última reunião reflete um dilema entre elevar a Selic ao patamar necessário para conter as altas do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e prejudicar o desenvolvimento econômico e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) — soma de todos os bens e serviços produzidos no Brasil.

“Quanto mais altos são os juros, menores são os investimentos, a economia cresce menos, mas pelo menos existe um controle da inflação”, explica Murillo Torelli, professor de contabilidade financeira e tributária da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A alternativa pela elevação da taxa de juros é o instrumento de política monetária mais utilizado para reduzir a inflação. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam novas alternativas de investimento pelas famílias.

Silvia Matos, pesquisadora sênior da área de Economia Aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) aponta que o dilema para os atuais entraves econômicos do Brasil não pode ser solucionado apenas pelas ações da autoridade monetária, que agora precisa “domar uma situação difícil”.

Entre os problemas adicionais à inflação para o crescimento econômico, Silvia cita a crise hídrica, a segunda onda da pandemia, a chegada da variante Delta e os ambientes político e fiscal como alguns dos fatores que vão pesar na produção nacional dos próximos meses. “Temos ainda muita incerteza e esse é o pior dos mundos. O final dessa história é um equilíbrio macroeconômico pior, com mais inflação, mais juros e menos PIB”, lamenta a pesquisadora.

De acordo com Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, as altas pontuais da taxa de juros ocorrem justamente por elas serem “nocivas” ao crescimento econômico do país. Ele, no entanto, vê como positiva a atual elevação da Selic mais rápida do que em outros países. “Uma vez que o BC sobe os juros mais rápido, aumenta o diferencial entre outros países, o que eleva a possibilidade de atrair investimentos e o dólar cair”, observa.

Na semana passada, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária busca combater a inflação em um horizonte mais longo e vai “fazer o que for necessário” para devolver o índice de preços à meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Ele garantiu ainda que não haverá reações precipitadas a cada novo dado inflacionário.

“A gente tem um instrumento na mão que vai ser usado da forma como ele precisa ser usado e a gente entende que a gente pode levar a Selic até onde precisar ser levada para que a gente tenha uma convergência da meta no horizonte relevante”, disse Campos Neto em evento do banco BTG Pactual.

Em linha com a fala de Campos Neto, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, reforça que o objetivo do BC é controlar a inflação no longo, sem se preocupar com os demais efeitos causados por suas decisões. Por isso, ela cita que os vereditos ocorrem gradualmente.

“É lógico que o Banco Central leva em consideração os efeitos de uma eventual elevação da taxa de juros e outras ferramentas de política monetária em todo restante da economia, inclusive no crescimento do PIB, só que esse não é o objetivo dele”, destaca Rachel.

Decisão oficial

O veredito a respeito dos novos juros básicos será anunciado nesta quarta-feira (21), após o fechamento do mercado financeiro. A decisão valerá ao menos pelos próximos 45 dias, quando os diretores do BC voltam a se encontrar para discutir novamente a conjuntura econômica nacional.

De acordo com os economistas do mercado financeiro, a Selic deve atingir 8,25% ao ano até dezembro, o que corresponde a uma alta de 3 pontos percentuais em relação aos atuais 5,25% ao ano nas reuniões desta quarta-feira (22) e nas últimas duas a serem realizadas neste ano.

Ontem (21), os chefes de departamento do BC apresentaram dados sobre a inflação, o nível de atividade econômica, finanças públicas, economia internacional, câmbio, reservas internacionais e mercado monetário.

Agora, participam da reunião os diretores e o presidente do BC. Eles analisam as perspectivas para a inflação e os reflexos da decisão antes de definir a nova taxa básica. Após a revelação, o BC divulga a ata da reunião na terça-feira da semana que vem (28), com as explicações mais detalhadas sobre o veredito.

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