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RAFAEL CAMPOS

SPORTAINMENT: O diferencial para gestão qualificada dos clubes Mato-Grossenses

Sem dúvidas, o esporte é uma das maiores paixões do brasileiro. Aquele que faz sofrer, rir, se emocionar, ter esperança de um futuro melhor, às vezes se tornar um pesadelo… realmente é uma mistura de emoções e talvez seja esse o segredo. Para que essa chama se mantenha acesa, é preciso pensar em evolução, pensando em como se aproximar cada vez mais do torcedor. E certamente a resposta está na GESTÃO e no SPORTAINMENT.
O Sportainment é a junção de sport e entertainment, ou seja, esporte e entretenimento, com o objetivo de encantar e tornar momentos inesquecíveis por meio da construção de espetáculo em uma disputa. O esporte como um todo passa a deixar de ser passivo e tem a preocupação de trazer a experiência focada na estratégia de Consumer Centric, assim a preocupação passa a ser focada naquilo que o espectador espera, sente e precisa.
Alguns podem dizer que tem que continuar a ser do jeito que é. Entretanto, é só parar para pensar o quanto nossa sociedade mudou, no consumo de conteúdos digitais e a necessidade de buscar serviços cada vez mais personalizados.
O futebol, assim como outros esportes, está deixando de ser uma marca na camisa, chuteiras chamativas ou simplesmente venda de ingressos, assistir e voltar para casa. O Sportainment é mais do que simples 90 minutos. É eternizar momentos e buscar aquele sentimento de que “quem não foi, perdeu”.
Além do próprio torcedor que deve levar cada jogo como único, a intenção é trazer as marcas para dentro e revolucionar o marketing esportivo, já que elas podem explorar cada vez mais a atenção do público combinada a uma paixão.
O espectador necessita de experiências orgânicas complementares como sociabilidade, networking, comunidade, lazer e etc. Participar destas inúmeras opções, conduzem-nos a monetização por parte de todos envolvidos. Mas se faz necessário inovações e adaptações as novas necessidades e preferências das novas gerações. Dessa visão holística e integrada da indústria, surge o Sportainment.
Conceito esclarecido. Como executar isto? Gestão!
A fase atual do futebol fora de campo é de transformação. Estamos em um período em que se fala sobre SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol), criação da Liga, entrada de investidores, reestruturação de passivos. Possibilidades de grandes mudanças em direção à modernidade.
Sim, modernidade! Basta acompanhar comentários nas redes e nas conversas de bar – felizmente estão voltando – para ouvir repetidamente à exaustão: “Futebol de São Paulo/Rio de Janeiro parece outro esporte. Só vem pra cá as sobras.” Quanto mais percebemos a diferença, maior a distância. Quanto mais demorarmos para mudar o cenário local, mais difícil transformar o futebol que se pratica aqui, no mesmo que se pratica em outros lugares.
E essa mudança passa necessariamente por aspectos esportivos e de gestão. Esportivamente precisamos praticar jogos mais qualificados. O “outro esporte” que se vê, é qualidade de quem joga e entende o jogo, de quem orienta e principalmente de quem prepara. Não são os números de camisa padronizados ou a sequência de câmeras de transmissão, nem mesmo os efeitos gráficos. É o jogo. São os 90 minutos.
Porém, só é possível apresentar atletas e profissionais qualificados, se tivermos fora de campo um ambiente que permita acesso a dinheiro e a profissionais que sejam devidamente preparados e entendedores do produto futebol. O romantismo é bonito, mas como diria minha mãe, não enche barriga.
O dinheiro começará a chegar de forma consistente no futebol mato grossense, mudando sua estrutura, se for fruto da mudança estrutural de gestão. Existe uma sequência lógica para esta mudança. Por mais que a construção no caos possa gerar resultados, se ela for conduzida de forma organizada tende a ter sucesso mais rápido e consistente.
E essa lógica passa necessariamente pela organização da indústria (futebol, marketing, financeiro). Isto significa trabalharmos na criação de um campeonato capaz de operar em conjunto com as instituições como a CBF. Não há campeonato no mundo que opere distante da federação nacional, pois há aspectos da indústria que precisam ser geridos por terceiros. O campeonato não pode ser imposto e desenvolvido de fora pra dentro. É um instrumento que precisa ser formatado a partir dos clubes, a fim de garantir seus interesses. Mas como agir desta forma, se nossos clubes não possuem departamentos criados para operar o produto futebol? Se não possui profissionais inseridos dentro do clube que reproduzam a teoria na prática?
Dificilmente investidores chegarão ao futebol mato grossense com cheques polpudos, antes de termos uma indústria organizada e com clubes equilibrados. Inclusive porque há inúmeras opões no mercado. Vale mais quem tem mais a oferecer.
E mais a oferecer não é cair na conversa daqueles que não entendem do que estão falando (os consumidores do amadorismo), dando como exemplo que o futebol é um lugar pouco confiável porque “meu primo é conselheiro de um clube e falou um monte de coisas”, pode ter certeza de que não é esse pessoal que vai ajudar.
Quem pode fazer mais por este processo são aqueles que conhecem as estruturas de um futebol de alto nível. Suas mazelas, suas fortalezas, seus riscos e oportunidades.
O que uma gestão qualificada precisa saber e repassar aos investidores, para transformar o ambiente amador em um ambiente propício para bons resultados é o que podemos chamar de “ambiente de negócios”. E aqui podemos resumir isto em 4 pilares: Localização, Torcida, Demonstração financeira, Ambiente Político.
Sem entender o mínimo disto, o que acontecerá é a repetição de erros do passado, baseados mais no achismo do que na capacidade, transformando num ciclo vicioso.
Os envolvidos precisam estar imbuídos de um espírito cooperativo e um entendimento de que este é o momento de fazer diferente e melhor, sendo protagonista da mudança.
Não adianta um pacote bom na prateleira errada. Não é sobre um clube ou organização. É sobre todo um ecossistema. A pergunta não deve ser sobre o comprador, mas sobre o que se vende. É sobre o produto final!
A IFAB (órgão responsável pelas regras do jogo) já discute o aumento do intervalo de jogo de 15 para 25 minutos em uma tentativa de acomodar programas de entretenimento no estilo do “Super Bowl”. Finalmente começam a entender o que é o Sportainment.
Nesse sentido, já existem outros passos do Sportainment. Fora aprovada a MP 984, assinada em 18 de junho de 2020, que altera principalmente o artigo 42 da lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, que diz respeito sobre as regras de direitos de transmissão. A partir dessa Medida Provisória, os times mandantes podem negociar com a plataforma ou emissora que preferirem.
Tendo clubes unidos com boas gestões, um campeonato chamativo e pessoas qualificadas, fica claro que a MP 384 será mais do que sobre direitos de transmissão, é a abertura para a discussão do sportainment e incentivo a sociedade a buscarem mudanças, porque aqueles que não entenderem esse novo momento, vão perder espaço e dinheiro em um futuro próximo.
Uma simples placa em campo já não é há muito tempo a coisa mais lembrada pelo torcedor, isso aliás, nem é mais considerado marketing. O verdadeiro sentido de construir uma lembrança afetiva – e é isso que está em jogo para as empresas – é tornar momentos inesquecíveis através de experiências, trazendo o torcedor para dentro.
Não se trata de inventar nada ou de construir modelos incertos. Trata-se de aplicar modelos adaptados a nossa realidade. Por isso, o melhor caminho é fomentar cada vez mais as discussões acerca do assunto e os benefícios para toda a cadeia, que começa pelos clubes, federação, jogadores e envolve torcedores, patrocinadores e a sociedade em geral.
Já passou da hora do mundo conhecer ainda mais o potencial do esporte e do entretenimento do Mato Grosso. Sportainment é marcar território internacionalmente, fortalecer os times e estabelecimentos relacionados, fazendo com que o segmento tenha a alma e fisionomia de um verdadeiro entretenimento imperdível.
Essa deve ser a nossa luta: Fortalecer o setor, para que cada vez mais os benefícios do Sportainment sejam conhecidos. Provocar mudanças importantes e necessárias que devem impactar o futuro e a forma como é visto o cenário estadual.
Não é utopia, é questão de quando será realidade!

Rafael Campos é sócio-proprietário da BDL Sports, empresa de intermediação de atletas, negócios desportivos e do entretenimento

 

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