Embora os preços da gasolina na bomba sirvam como um dos símbolos mais proeminentes da inflação galopante, os economistas estão mais preocupados com os efeitos colaterais dos aumentos de preços de outra fonte importante de combustível: o diesel.

O diesel desempenha um papel descomunal nos preços ao consumidor porque ele e seus primos químicos, combustível de aviação e óleo combustível marítimo, movimentam quase tudo o que é cultivado, processado ou fabricado em todo o mundo.

“O diesel é o que impulsiona os caminhões. É o que impulsiona nossa economia global”, disse Joseph Sykora, analista de ações da Aptus Capital Advisors. “Não pode ser ignorado por se tratar de um condutor para o preço das coisas.”

Os Estados Unidos consumiram cerca de 128 milhões de galões de diesel por dia em 2021, de acordo com a Administração de Informações sobre Energia dos EUA, mas a produção – especialmente a capacidade de refino – não acompanhou o aumento na demanda pós-Covid e a escassa oferta elevou os preços.

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor de junho divulgado quarta-feira, a categoria de energia que inclui o diesel aumentou 75,8% em relação ao ano anterior, um aumento ainda maior do que o aumento de 59,9% nos preços da gasolina.

Embora o custo do petróleo e da gasolina tenha recuado nas últimas semanas em relação aos picos da primavera, os analistas estão céticos de que esse alívio durará – e isso antes de considerar a perspectiva de uma temporada de furacões incomumente ativa ou choques geopolíticos adicionais, como a Rússia reduzindo as exportações de combustível para o União Europeia.

“Os estoques não foram tão baixos em uma geração em todo o mundo. Você tem potencial para problemas, mesmo se passarmos por essa série de preocupações com redes elétricas e furacões nos próximos meses”, disse Tom Kloza, chefe global de análise de energia para OPIS. “Se há um combustível que pode se tornar absolutamente balístico, acho que é o diesel.”

A demanda por diesel é menos elástica do que por gasolina comum. Embora as pessoas possam responder aos altos preços do combustível usando menos seus carros, não há boas alternativas ao diesel no nível industrial, disse Bill Fitzpatrick, diretor administrativo e gerente de portfólio da Logan Capital Management.

“Estamos todos lutando por soluções, mas as tecnologias inovadoras ainda não se concretizaram. Parece que estamos tentando preencher a lacuna em relação à nossa dependência de combustíveis fósseis, mas simplesmente não estamos lá ainda”, disse.

Embora os veículos elétricos tenham ganhado terreno como alternativa aos carros e caminhões movidos a gás, disse Sykora, as frotas de caminhões, aviões e cargueiros ainda são movidas a hidrocarbonetos. “A tecnologia não existe em escala para transições de veículos elétricos em transporte de alta capacidade”, disse ele.

Efeito dominó de diesel

O alto custo do diesel está se espalhando pelas cadeias de suprimentos corporativas. O Walmart disse em um memorando obtido pelo Wall Street Journal que começará a adicionar uma sobretaxa de combustível a alguns de seus fornecedores no próximo mês. A Amazon impôs uma taxa semelhante aos vendedores que a usam para determinados serviços de atendimento em abril.

O impacto já está atingindo os preços nas prateleiras das lojas, e os analistas dizem esperar mais do mesmo.

“Essencialmente, todos os bens que precisam ser enviados por caminhões serão impactados”, disse Michael Englund, economista-chefe da Action Economics. Ele apontou para o aumento do custo dos mantimentos – o relatório CPI de quarta-feira mostrou que o custo da comida em casa aumentou mais de 12% ano a ano – como um exemplo gritante.

O diesel mais caro não apenas aumenta o custo do transporte de alimentos – ele também aumenta o custo de cultivá-lo, e especialistas do setor agrícola estão alertando que preços altos sustentados podem levar à escassez.