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ARTÉRIAS

Aneurisma cerebral: entenda o diagnóstico de Emilia Clarke

Divulgação/HBO

A atriz Emilia Clarke voltou a falar, no domingo (17), durante uma entrevista, de como “perdeu” parte de seu cérebro depois de ter sofrido dois aneurismas, um em 2011 e outro em 2013, enquanto gravava a série “Game of Thrones”.

Um aneurisma é uma dilatação das artérias do nosso corpo. Na maioria das vezes, ela parece uma bexiga (ou balão) de festa de aniversário. O aneurisma pode ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive no cérebro, como foi o caso da atriz britânica.

Como a parede dessa dilatação é mais frágil, ela pode romper, causando uma hemorragia ao redor do cérebro que pode levar à morte imediata em 50% dos pacientes.

“Muitos desses pacientes podem falecer na hora – porque o cérebro incha, aumenta de tamanho. Como o crânio é osso, é uma caixa fechada, o cérebro começa a se movimentar e o indivíduo morre”, explica o médico Feres Chaddad, professor e chefe de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Beneficência Portuguesa (BP) de São Paulo.

Nesta reportagem, você vai entender mais detalhes sobre o problema:

  1. Que danos um aneurisma pode causar no cérebro?
  2. Quais são os sintomas de um aneurisma?
  3. Como é o diagnóstico?
  4. Quem geralmente é afetado e quais são as causas?
  5. Como é feito o tratamento?

1) Que danos um aneurisma pode causar no cérebro?

Na entrevista de domingo (17), a atriz declarou ao programa “Sunday Morning”, da BBC britânica, que “a quantidade do meu cérebro que não é mais utilizável – é notável que eu seja capaz de falar, às vezes de forma articulada, e viver minha vida completamente normal, sem absolutamente nenhuma repercussão”.

Feres Chaddad explica que os aneurismas podem causar sequelas a depender da área do cérebro que afetam. Segundo o neurocirurgião, 25% dos pacientes que têm um rompimento de aneurisma ficam com sequelas.

“Você tem a área que controla o movimento, que é a área motora, a área da sensibilidade, a área visual, a auditiva, a área da compreensão da fala, da expressão da fala. Se você lesar essas estruturas, o paciente vai ter uma sequela”, explica o neurocirurgião.

Emilia Clarke posa no tapete vermelho do 'TIME 100 Gala', que celebra as 100 pessoas mais influentes da revista Time no mundo, em Nova York, EUA — Foto: Dimitrios Kambouris/Getty Images North America/AFP
Emilia Clarke posa no tapete vermelho do ‘TIME 100 Gala’, que celebra as 100 pessoas mais influentes da revista Time no mundo, em Nova York, EUA — Foto: Dimitrios Kambouris/Getty Images North America/AFP

Por outro lado, o paciente pode ter uma lesão cerebral e, mesmo assim, não apresentar sequelas – como Emilia Clarke relata ter sido o caso dela.

“Se você lesar outras estruturas, apesar de o cérebro ter uma lesão, não se manifesta clinicamente, porque são áreas silenciosas”, explica.

“Geralmente, elas estão associadas a manifestações cognitivas – de comportamento, de atenção. E você tem uma integração entre os dois lados do cérebro dessas regiões. Ele [o paciente] só passa a apresentar manifestações clínicas nessas áreas quando você tem lesões extremamente extensas –ou lesões bilaterais”, completa Chaddad.

2) Quais são os sintomas de um aneurisma?

Os aneurismas que rompem trazem os seguintes sintomas associados:

  • uma súbita e forte dor de cabeça, que aumenta com o passar do tempo;
  • problemas na visão – caso o aneurisma cresça perto do nervo da visão;
  • desmaios, náuseas, vômitos;
  • dor no pescoço;
  • rigidez bucal;
  • podem ocorrer perda de memória ou alucinações, mas esses sintomas são mais raros e costumam ocorrer como uma sequela da doença, não na fase aguda.

No caso de Emilia Clarke, por exemplo, ela relatou à revista “The New Yorker”, em 2019, que sentiu uma dor de cabeça muito forte enquanto se exercitava na academia, com um treinador.

“Quando comecei meu treino, tive que me forçar nos primeiros exercícios”, disse Clarke. “Então meu treinador me colocou na posição de prancha, e imediatamente senti como se um elástico estivesse apertando meu cérebro”, contou.

Em seguida, a atriz relatou que vomitou, no banheiro, e foi levada ao hospital, onde descobriu que tinha sofrido uma hemorragia subaracnoide – o tipo de sangramento que ocorre quando um aneurisma cerebral se rompe.

Ela também contou à revista que, anos antes do ocorrido, se considerava saudável, mas, às vezes, sentia tonturas por causa da pressão baixa e baixa frequência cardíaca.

“De vez em quando, eu ficava tonta e desmaiava. Quando eu tinha catorze anos, tive uma enxaqueca que me manteve na cama por alguns dias, e na escola de teatro eu desmaiava de vez em quando. Mas tudo parecia administrável, parte do estresse de ser atriz e da vida em geral. Agora eu acho que eu poderia estar passando por sinais de alerta do que estava por vir”, disse.

3) Como é o diagnóstico?

Em geral, a doença é silenciosa. Caso não haja rompimento, somente exames médicos, como uma ressonância magnética ou uma tomografia, poderão indicar a enfermidade.

“Geralmente são achados acidentais. O paciente vai investigar alguma dor de cabeça, algum problema do tipo e aí a gente identifica esse aneurisma que não rompeu”, explicou, em entrevista anterior ao g1, o médico Enrico Ghizoni, diretor da Neurocirurgia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Depois que um aneurisma se rompe, uma angiografia cerebral digital é mais indicada para o diagnóstico – um procedimento mais invasivo que utiliza cateteres para chegar até os vasos cerebrais.

“O rompimento de um aneurisma é um problema bastante grave porque aumenta a pressão intracraniana. Chamamos de uma catástrofe intracraniana”, explicou Ghizoni.

“O diagnóstico precoce da hemorragia é muito importante porque, se o aneurisma sangrar de novo, o risco [de morrer] é maior. A mortalidade beira a 70%”, completou o médico.

4) Quem geralmente é afetado e quais são as causas?

Desenvolver um aneurisma é um problema que atinge principalmente mulheres – com frequência duas vezes maior do que os homens – com idade por volta dos 50 anos.

“O estrógeno fortifica a parede do vaso – estimula a proliferação da camada muscular do vaso. A mulher que entra na menopausa reduz os níveis de estrógeno, então ela enfraquece a parede do vaso. Por isso que o aneurisma rompe mais nas mulheres a partir da sexta década de vida”, explica Feres Chaddad, da Unifesp e da Beneficência.

Fumar, usar cocaína, ter síndromes genéticas, hipertensão, doenças de colágeno (como as síndromes de Marfan e de Ehlers-Danlos), rim policístico, malformações arteriovenosas (MAVs) cerebrais, placas de gordura ou malformações nas artérias carótidas (do pescoço) também trazem mais risco de desenvolver um aneurisma.

5) Como é feito o tratamento?

Diagnosticado o aneurisma, o tratamento em geral é cirúrgico. Isso depende da idade do paciente, do tamanho do aneurisma e do grau de risco que a complicação representa.

Os dois procedimentos mais comuns são a embolização ou a cirurgia aberta, explicou Enrico Ghizoni, da Unicamp.

“Em geral, se você descobriu um aneurisma que não sangrou, você precisa de tratamento. É muito raro que isso não aconteça”, explicou o médico.

A embolização coloca uma espécie de mola dentro do aneurisma, o que impede a circulação de sangue para lá e, consequentemente, o seu rompimento.

“O aneurisma que rompeu tem que ser excluído da circulação. Ou através da embolização, ou através da cirurgia aberta. E aí cada situação tem uma um tratamento que é melhor. Por exemplo, se for um aneurisma de grau III, que não é muito comum, a cirurgia aberta em geral é melhor”, esclareceu Ghizoni.

No caso de Clarke, a técnica usada foi a minimamente invasiva – sem abrir o crânio –, segundo a atriz contou à “The New Yorker”.

Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targarye (Emilia Clarke) em 'Game of Thrones' — Foto: Divulgação/HBO
Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targarye (Emilia Clarke) em ‘Game of Thrones’ — Foto: Divulgação/HBO

“O cirurgião introduziu um fio em uma das artérias femorais, na virilha; o fio seguiu para o norte, ao redor do coração e até o cérebro, onde selaram o aneurisma”, disse. “A operação durou três horas. Quando acordei, a dor era insuportável. Eu não tinha ideia de onde estava”.

Uma vez que o paciente fez o tratamento do aneurisma e ele foi completamente excluído, essa pessoa poderá ter uma vida normal, afirmou Ghizoni. Contudo, o especialista ressalta que alguns cuidados devem serem observados depois dessa recuperação.

“Se essa pessoa for tabagista ou hipertensa, ela não pode voltar a ter esses hábitos porque senão daí novos aneurismas podem voltar a se formar”, alertou. “O aneurisma é um diagnóstico muito importante grave. Então, se você tem uma suspeita de aneurisma, você tem que procurar um médico para o diagnóstico”.

No caso de Clarke, ela descobriu o segundo aneurisma ainda internada por causa do primeiro, antes que ele rompesse – mas os médicos decidiram monitorar o problema ao invés de operá-lo imediatamente.

“Enquanto estava no hospital, me disseram que eu tinha um aneurisma menor do outro lado do cérebro e que poderia ‘estourar’ a qualquer momento. Os médicos disseram, no entanto, que era pequeno e era possível que permanecesse inativo e inofensivo indefinidamente. Nós apenas manteríamos uma vigilância cuidadosa”, relatou à “The New Yorker”.

Um tempo depois, os médicos perceberam que a bolha de sangue havia crescido e ela precisaria passar por uma nova cirurgia. Dessa vez, entretanto, a recuperação foi pior e a atriz passou por uma terceira cirurgia – essa última precisou ser aberta.

Nesse tipo de intervenção, explica Feres Chaddad, a chance de o problema se repetir é menor.

“É muito melhor o paciente descobrir e tratar antes de romper do que descobrir com ele roto”, explica. “Como ela [Emilia Clarke] é portadora de aneurismas múltiplos, ela deve fazer um seguimento anual, com exames – aí podem ser exames não invasivos – porque ela tem aneurismas múltiplos – então ela tem chance de formar outros aneurismas”, conclui.

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ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO

  • 21 de julho de 2022 às 12:18:15
  • 21 de julho de 2022 às 12:07:10