O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, fechou 2018 em 3,75%, abaixo do centro da meta fixada pelo governo, que era de 4,5%. Em 2017, o índice ficou em 2,95%.
O resultado, divulgado nesta sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio dentro do esperado pelo mercado e cumpriu com folga a meta de inflação perseguida pelo Banco Central, ficando dentro do intervalo de tolerância previsto pelo sistema, que era entre 3% e 6%.
A previsão dos analistas era de uma inflação de 3,69%, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
Plano de saúde, energia e gasolina foram os vilões
Segundo o IBGE, a inflação de 2018 foi pressionada principalmente pelos preços dos produtos e serviços de habitação, transportes e alimentos. Juntos, estes três grupos foram responsáveis por 66% do IPCA do ano.
Individualmente, o preço do plano de saúde foi o item de maior impacto na inflação do ano, segundo o IBGE. Com alta acumulada de 11,17%, os planos de saúde responderam por 0,44 ponto percentual (p.p.) do índice geral de 2018, de acordo com o gerente da pesquisa, Fernando Gonçalves.
Na sequência, os outros dois itens com maior impacto individual no indicador foram a energia elétrica, com alta de 8,7% e impacto de 0,31 p.p. no índice, e a gasolina, que aumentou 7,24% nos 12 meses impactando em 0,31 p.p. o IPCA acumulado do ano. O óleo diesel fechou o ano acumulando alta de 6,61%, enquanto o etanol teve queda de 0,40%.
Outros destaques de alta no ano, foram passagem aérea (16,92%), ônibus urbano (6,32%), eletrodomésticos (6,28%) e cursos regulares (5,68%).
Em alimentos, as altas que mais pesaram no índice geral foram as do tomate (71,76%), frutas (14,10%) e refeição fora (2,38%).
Veja abaixo a inflação acumulada em 2018 por grupos pesquisados e o impacto de cada um no índice geral:
- Alimentação e Bebidas: 4,04% (0,99 ponto percentual)
- Habitação: 4,72% (0,74 p.p.)
- Artigos de Residência: 3,74% (0,15 p.p.)
- Vestuário: 0,61% (0,04)
- Transportes: 4,19% (0,76 p.p.)
- Saúde e Cuidados Pessoais: 3,95% (0,48 p.p.)
- Despesas Pessoais: 2,98% (0,33 p.p.)
- Educação: 5,32% (0,26 p.p.)
- Comunicação: -0,09% (0 p.p.)
Inflação em dezembro
O IPCA de dezembro foi de 0,15%, a menor variação para um mês de dezembro desde o início do Plano Real, em 1994. Em novembro, o país registrou deflação de 0,21%, a menor taxa para o mês desde 1994.
Em outubro, o índice acumulado em 12 meses chegou a 4,56%, mas desacelerou nos dois últimos meses do ano, favorecido pela queda do preço da gasolina e recuo do dólar.
“Ao longo do ano, foram deixadas para trás todas as quedas na alimentação registradas ao longo de 2017. Alguns itens, como o tomate, subiram mais de 70% no ano. Considerando que a retomada do emprego se dá pela informalidade, isso traz uma preocupação para as famílias na hora de consumidor, priorizando itens essenciais como alimentação”, afirmou o gerente da pesquisa, Fernando Gonçalves.
Ele destacou que outra forte influência em 2018, não registrada no ano anterior, foi da energia elétrica. “Em 2018, ela ficou sob bandeira tarifária vermelha dois durante cinco meses”, destacou.
Segundo o gerente da pesquisa, a inflação poderia ter sido mais baixa em 2018 não fosse a greve dos caminhoneiros. “A greve teve efeito pontual em junho [alta de 1,26%. A alta daquele mês foi sendo devolvida ao longo dos próximos meses. De toda forma, ela [a inflação acumulada] seria menor”, disse.
Perspectivas para 2019
Para 2019, os economistas das instituições financeiras projetam um IPCA em 4,01%, segundo a pesquisa Focus. O centro da meta deste ano é um pouco menor, de 4,25%. A meta terá sido cumprida se o IPCA ficar entre 2,75% a 5,75%.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o BC eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), atualmente em 6,5% ao ano.
Os analistas seguem prevendo alta dos juros em 2019, mas em menor intensidade. O mercado baixou de 7,13% para 7% ao ano a previsão para a taxa de juros no fim deste ano, segundo a última pesquisa Focus.
Para o analista de inflação da consultoria Tendências, Marcio Milan, a inflação deve acelerar ligeiramente em 2019, como reflexo de uma esperada recuperação da economia e do mercado de trabalho, o que tende a favorecer a demanda.
“Mas nada muito diferente do que vimos em 2018. Essa aceleração deve ser pautada por uma reação dos preços livres, e em contrapartida espera-se alta menor dos preços administrados, como energia e combustível”, disse à agência Reuters.
O IPCA começa o ano pressionado pelos reajustes ocorridos em várias capitais em preços de preços administrados como passagens de ônibus (7,5% em São Paulo e 11% em Belo Horizonte), água e esgoto (8,6% em Porto Alegre e 4% em Campo Grande) e telefone fixo no país (2,4%).