Um cheque no valor de R$ 120 mil encontrado pelo mesmo sistema utilizado na Operação Lava Jato pode ser uma forte evidência de que a ex-juíza Selma Rosane Arruda (PSL) utilizou “caixa 2” para conseguir se eleger ao Senado em outubro do ano passado.
O cheque foi pago por Gilberto Eglair Possamai à KGM Institucional Ltda, empresa do publicitário e jornalista Kleber Lima, durante o período eleitoral. Os gastos não constam na prestação de contas de Selma e Possamai é o primeiro suplente da senadora e um dos principais doadores da campanha da juíza aposentada.
Em depoimento ao Ministério Público Federal em dezembro de 2018, Kleber Lima foi questionado sobre quais pagamentos recebeu de Selma Arruda e de seus correligionários. Sem citar o cheque de R$ 120 mil, o publicitário disse apenas que recebeu dois repasses: um no dia 31 de julho no valor de 80 mil e outro no dia primeiro de agosto totalizando R$ 20 mil.
O depoimento foi interpretado pelo MPF como uma espécie de “omissão”, uma vez que o Lima não comentou sobre o pagamento de Possamai, que sequer foi registrado na prestação de contas.
A movimentação financeira foi identificada pelo Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias, o mesmo sistema utilizado pelo Ministério Público Federal (MPF) nas investigações da Operação Lava Jato. Selma e Possamai são investigados por gastos ilegais na campanha, que podem configurar caixa dois eleitoral.
A quebra de sigilo bancário de Selma foi decretada no dia 26 de outubro pelo desembargador do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MT) Pedro Sakamoto. Desde então, os bancos em que Selma e Possamai possuem contas não estavam alimentando o Simba, sistema responsável pelo rastreio das informações. Para solucionar o problema, Sakamoto decretou, no dia 17 deste mês, que os bancos enviassem os dados em até 5 dias. Os bancos Bradesco, do Brasil e Robobank foram notificados.
Selma Arruda também responde por pagamentos que teriam sido feitos fora do período eleitoral à Genius Publicidade, empresa que pertence ao publicitário Júnior Brasa. A empresa alega que foi contratada, em abril, para prestar serviços de campanha na ordem de R$ 1,8 milhão, mas apenas R$ 470 mil foram pagos por Selma.
A contratação ocorreu dias após Selma Arruda se aposentar do cargo de juíza e anunciar a pré-candidatura. A empresa iniciou os serviços recebendo o valor inicial na pré-campanha. Selma pediu para fazer um novo contrato, com valores menores, mas a empresa negou. Pouco depois, a própria juíza pediu rompimento do contrato.
O também candidato ao Senado, Sebastião Carlos (Rede) utilizou as informações prestadas por Brasa para acusar Selma de caixa 2, o mesmo foi feito por Carlos Fávaro (PSD), que ficou em terceiro lugar na disputa.
Outro lado
A assessoria jurídica da senadora Selma Arruda (PSL) e da KMG Assessoria Institucional negam a existência de pagamento via cheque de R$ 120 mil realizado pelo empresário Gilberto Possamai. Por meio de nota encaminhada à reportagem do jornal A Gazeta, Selma e a KGM informaram que todos os gastos foram discriminados na prestação de contas eleitorais.
Segundo a KGM, os pagamentos em cheque foram todos da conta da campanha junto às notas fiscais. A investigação tem apontado, no entanto, que o cheque de R$ 120 mil pago por Possamai não consta na prestação de contas.
A empresa também ressaltou que o único pagamento feito fora da prestação de contas é relativo a uma pesquisa de posicionamento anterior à convenção do PSL. Esse pagamento, inclusive, já teria sido esclarecido pelo próprio Kleber Lima durante depoimento ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE/MT) em ‘novembro ou dezembro’ do ano passado.
A juíza aposentada Selma Arruda também reiterou que todos os pagamentos já foram explicados em Ação de Investigação da Justiça Eleitoral (Aije) movida contra ela pelos ex-candidatos Sebastião Carlos (Rede) e Carlos Fávaro (PSD). As informações teriam sido prestadas em audiência publicada realizada no dia 13 de novembro do ano passado.
Selma corre o risco de perder o cargo e ser condenado por caixa 2, caso as acusações contra ela sejam comprovadas. A ex-juíza chegou, inclusive, a sofrer pedido para que sua chapa não fosse diplomada no Senado. O pedido foi negado pelo desembargador Pedro Sakamoto.