O horário de verão chega ao fim neste sábado. Quem vive nos dez Estados e no Distrito Federal onde os relógios tiveram de ser adiantados há pouco mais de três meses, deve agora fazer o contrário e atrasar os ponteiros em uma hora à 0h de domingo.
Pode parecer uma mudança pequena, mas ela pode afetar o funcionamento do organismo e ter impactos sobre o nosso bem-estar e saúde, explica o médico John Araujo, professor titular de Cronobiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
“As pessoas pensam que vão ganhar uma hora, acabam ficando acordadas uma hora a mais e perdem o controle do horário de ir dormir. Acabam dormindo menos de sábado para domingo e de domingo para segunda-feira”, diz Araujo.
Araujo explica que o sono tem um “efeito reparador” para o nosso corpo, principalmente para o cérebro e que o acúmulo de deficit de sono tem “os mesmos efeitos de estar embriagado”.
“Afeta nossa capacidade de atenção e concentração, reflexos e destreza motora e aumenta a chance de haver acidentes”, afirma o médico.
Mas como minimizar esses efeitos e “atrasar” também o ritmo do corpo, acostumado desde 4 de novembro do ano passado com dias que amanhecem e anoitecem mais tarde?
O que fazer para se acostumar à mudança de horário?
A boa notícia é que é mais fácil se adaptar ao fim do horário de verão do que ao começo, explica a neurologista Andrea Barcelar, presidente da Associação Brasileira do Sono.
“Também é assim quando viajamos. É mais simples se acostumar com um novo fuso horário e dormir mais tarde quando vamos para oeste, rumo aos Estados Unidos, por exemplo, do que dormir mais cedo quando vamos para o leste, na direção da Europa”, diz Barcelar.
Horário de verão foi mais curto neste ano
Este período de horário de verão foi menor do que o anterior, porque seu início se deu mais tarde do que ocorria normalmente.
Antes, costumava começar no terceiro domingo de outubro. Mas, em dezembro de 2017, o então presidente Michel Temer assinou um decreto que reduziu sua duração, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral. Assim, seu início não mais ocorreria entre o primeiro e o segundo turno da eleição.
O Planalto chegou a cogitar que a data fosse mais uma vez adiada, para 18 de novembro, desta vez para atender um pedido do Ministério da Educação, para não interferir com a realização do Enem. Mas acabou sendo mantido seu começo em 4 de novembro.
O horário de verão foi criado no Brasil em 1931 durante o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), mas suspenso por decreto várias vezes – os mais longos períodos sem horário de verão foram de 1933 a 1949, e de 1968 a 1985.
O governo Temer chegou cogitar acabar por completo com essa medida, após um estudo do Ministério de Minas e Energia apontar queda na efetividade da iniciativa na economia de energia.
O ministério explicou que o perfil do consumo de eletricidade não estava mais ligado diretamente ao horário e sim à temperatura, com os picos de uso de energia passando do início da noite para o começo da tarde, período mais quente do dia.
Onde tem horário de verão?
- Distrito Federal
- Espírito Santo
- Goiás
- Mato Grosso do Sul
- Minas Gerais
- Paraná
- Rio de Janeiro
- Rio Grande do Sul
- Santa Catarina
- São Paulo
A melhor forma de atenuar as consequências do fim do horário de verão, explica a neurologista, é adaptar o corpo aos poucos à mudança de horário, antecipando o momento de ir dormir dia a dia. “Nosso corpo leva cerca de dois dias para se ajustar a uma mudança de 15 minutos, então, para 1 hora, seria necessária uma semana”, diz Barcelar.
Mas quem não se antecipou ainda pode seguir outras recomendações:
- Desacelere: não programe muitas coisas à noite no fim de semana e, se possível, escureça a casa. “A claridade inibe o sono. Se você estimular um sono precoce, vai estar mais desperto na segunda-feira”, diz Araujo.
- Desligue as telas: a televisão, o computador e o celular devem ser evitados. “A luz azul na retina atrasa a produção de melatonina (o hormônio do sono)”, explica Barcelar. Uma alternativa é instalar aplicativos no celular e no computador para filtrar e diminuir a luz azul durante o período noturno.
- Evite atividade física à noite: fazer exercícios ativa o sistema nervoso central, o que nos deixa excitados e dificulta dormir mais cedo.
- Jante leve e mais cedo: adiante também em uma hora a última refeição, que não deve ser pesada e feita no máximo duas horas antes de deitar para não ir dormir com o estômago cheio demais.
Seguir esses passos é uma forma de fazer um “ajuste manual” em nosso relógio biológico, nome dado aos mecanismos usados por nosso organismo para ditar o ritmo do corpo em compasso com ciclos de 24 horas. “Isso é fruto da evolução, uma reação aos eventos geofísicos da rotação da Terra”, diz Araujo.