Pesquisadores de três universidades brasileiras publicaram esta semana, na última edição da revista científica Biodiversity and Conservation (do inglês, Biodiversidade e Conservação), um extenso trabalho de mapeamento por satélite revelando que a Amazônia é maior e está localizada mais ao sul do que indicam os limites oficiais. De acordo com o líder dos estudos, professor Ben Hur Marimon Junior, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), a fronteira entre a Amazônia e o Cerrado não está adequadamente posicionada e também não é uma simples linha divisória, como consta nos mapas oficiais.
O pesquisador diz que não pode precisar ainda de quanto seria este acréscimo no tamanho da Amazônia, mas a sua fronteira com o Cerrado deve ser reconsiderada como uma extensa faixa, com larguras que podem chegar até 250 quilômetros. “É preciso reposicionar a Amazônia e o Cerrado nos mapas oficiais para melhor adequar os dois maiores biomas brasileiros às leis e políticas públicas de proteção da biodiversidade”, conclui Ben Hur.
De acordo com Eduardo Queiroz Marques, primeiro autor do artigo, existem falhas nos mapas oficiais, que eram baseados na antiga tecnologia de imagens de radar dos anos 1970. “Estas antigas técnicas de mapeamento não permitiam o mesmo nível de detalhamento que temos hoje”, revela o especialista em mapeamento por satélite e um dos coautores, professor Eraldo Matricardi, da Universidade de Brasília (UnB).
Para a professora da Unemat, Beatriz Marimon, também coautora, uma das consequências da imprecisão dos antigos mapas é que alguns tipos de florestas, que eram comuns no sul da Amazônia, foram confundidos com Cerrado denso, um tipo de vegetação menos protegido pela legislação, tanto pelo novo quanto pelo antigo Código Florestal. “Junto com a vegetação perdemos também espécies de animais nesta região única de biodiversidade”, revela o especialista em fauna da UnB, professor Guarino Colli, outro coautor.
Os pesquisadores afirmam que as imprecisões no mapeamento oficial permitiram que o desmatamento atingisse níveis excessivos. “A agropecuária é o grande motor do desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro, mas é preciso garantir a manutenção das florestas nativas para que elas continuem cumprindo o seu papel de regulação climática. Por isso, apontamos para a necessidade urgente da criação de uma zona especial de amortecimento ao sul e sudeste da Amazônia para preservar a vegetação e garantir chuvas regulares para as lavouras e pastagens da região”, conclui Ben Hur.
* O estudo foi realizado por pesquisadores da Unemat, UnB e Universidade Federal do Acre (Ufac).