Jovem ar­tista de Cuiabá se des­taca na li­te­ra­tura na­ci­onal

Es­critor, ator, per­former e es­tu­dante de Ci­ên­cias So­ciais. Isso é um pouco do que é o ron­do­no­po­li­tano de 22 anos, Caio Au­gusto Ri­beiro, que já lançou três li­vros, di­rigiu um vídeo arte, pu­blicou em uma re­vista na­ci­onal e agora está entre os au­tores da pri­meira edição da Pixé, re­vista local en­ca­be­çada por Edu­ardo Mahon, que foi lan­çada este mês.

Além de ga­nhar pá­ginas na re­vista re­gi­onal, onde grandes au­tores lo­cais apre­sentam pro­du­ções au­to­rais, a Pixé, Caio foi o único mato-gros­sense a pu­blicar na re­vista di­gital Car­na­va­lhame, com “Só­lidos afo­rismos: es­tudos sobre so­lidão”.

“Partir a so­lidão no meio

Dar as duas me­tades
Suas so­li­tá­rias com­pa­nhias
Dar a suas com­pa­nhias
duas so­li­tá­rias me­tades
A ma­te­ri­a­li­dade
sem peso
deste apa­nhado de faltas/
fa­lhas
doa uma fome de
lados
Fu­zi­lados
esses vagos es­paços
que nin­guém com/​segue
pre­en­cher.”

“Esse tra­balho foi muito legal, porque uma das edi­toras da re­vista, Júlia Koller, en­trou em con­tato co­migo pelo Fa­ce­book no ano pas­sado di­zendo que tinha visto al­guns po­emas meus em ou­tros sites e re­vistas e gostou muito, então me apre­sentou o pro­jeto. Ela me ex­plicou que era uma re­vista di­gital que era pu­bli­cada na época de car­naval, com au­tores e au­toras que se afe­tavam de outra forma. Que não viam como festa, mas com ou­tros olhos. Me pediu para es­crever po­emas com o tema So­lidão, para abrir a re­vista. Fi­quei cerca de dois meses tra­ba­lhando nos po­emas, ex­pe­ri­men­tando a forma, a es­té­tica”, conta Caio.

De acordo com ele, a pro­posta da Car­na­va­lhame é di­a­logar com a ideia do car­naval, como a equipe da pu­bli­cação sa­li­enta na re­vista. “Pa­recia ser coisa muito sim­ples e efê­mera: reunir al­guns es­cri­tores com a mesma vi­bração de pen­sa­mento e pintar as ser­pen­tinas de cinza. Mas o que apa­ren­tava ser apenas um doce di­fe­rente em pro­moção, chega a sua ter­ceira edição com o corpo de um pro­jeto sem abismos”.

Pixé: uma re­vista de tchapa e cruz

Caio re­lata que o en­contro com a pu­bli­cação re­gi­onal se deu pela con­vi­vência com ou­tros es­cri­tores lo­cais, que acabam di­a­lo­gando nesse uni­verso que os apro­xima.

“O Edu­ardo Mahon teve a ideia de co­meçar a Pixé e quando ele tava mon­tando o time de es­cri­tores e es­cri­toras, en­trou em con­tato co­migo e foi muito su­cinto: ‘Caio, ma­te­rial iné­dito’. E aí mandei uns po­emas que fiz en­quanto es­tava numa ex­pe­ri­men­tação-ob­ser­vação do meu jardim.

A re­vista Pixé é um marco na li­te­ra­tura con­tem­po­rânea, porque tem textos de au­tores e au­toras po­tentes. Ló­gico que tem muita gente que não tá na pri­meira edição, mas que já estão en­ca­mi­nhados para as pró­ximas. Fi­quei muito feliz de ser con­vi­dado para pri­meira edição no meio de tanta gente que eu ad­miro, como San­tiago Vi­lela Mar­ques, por exemplo. Além disso, a re­vista tem uma cu­ra­doria apu­rada, pois pegou au­tores mais ex­pe­ri­entes na tra­je­tória e também jo­vens au­tores, como é o meu caso. A arte de Silvio Sar­tori na re­vista também está in­crível. Um tra­balho de muito bom gosto e ma­te­rial po­tente de Marta Cocco, Di­va­nize Car­bo­nieri, Marli Walker”, ex­plica ele.

O ar­tista

Caio conta que se mudou para Cuiabá em 2012 e de­cidiu montar um pro­jeto de ofi­cinas de te­atro no co­légio Liceu Cui­a­bano, onde es­tu­dava. Lá surgiu o Grupo The­a­treus, com o qual se apre­sentou no Fes­tival Es­tu­dantil Te­má­tico de Trân­sito (Fe­tran), e pelo qual ga­nhou prê­mios de me­lhor ator e me­lhor di­retor.

O rapaz montou ainda um grupo de te­atro na Uni­ver­si­dade Fe­deral (UFMT), par­ti­cipou do co­le­tivo Spec­trolab e di­rigiu o vídeo-arte Ré­quiem Para Flores, em ho­me­nagem ao ar­tista e mi­li­tante cul­tural An­derson Flores.

É autor dos li­vros: Porão da Alma (clube de au­tores, 2015), Co­le­ci­o­nador de Tem­pes­tades (Car­lini & Ca­niato, 2017) e Ma­ni­festo da Ma­ni­festa (Car­lini & Ca­niato, 2018).

“A arte sempre es­teve pre­sente na minha vida, desde quando eu era pe­queno e vestia roupas da minha mãe e do meu pai e criava mini-te­a­tros, até quando eu fazia mu­si­qui­nhas ou de­se­nhos de his­tó­rias em qua­dri­nhos. Sempre foi uma coisa que es­teve ali, mas de­morei um certo tempo pra co­meçar a viver apenas dela. Ainda que o sen­ti­mento pela arte seja muito forte, eu tenho isso como ofício. Sou um ar­tista e isso sig­ni­fica tra­ba­lhar, es­tudar, en­saiar. Às vezes fazer o que não quero, mas para ga­nhar ex­pe­ri­ên­cias e con­ti­nuar no sonho. Minha re­lação com a arte é muito in­crível e vem ga­nhando as mais va­ri­adas formas. Minha amiga e mestre Ma­rília Be­a­triz me de­fine como ‘Doutor Guri, o me­nino an­tro­po­fá­gico’, porque eu tô sempre de­vo­rando as coisas! O legal de tudo isso é que eu não me de­fino como ator – apesar de ter DRT – ou como es­critor ou ci­ne­asta. Eu sou um ar­tista que usa da lin­guagem para ex­pressar o que estou sen­tindo, seja livro, te­atro ou ci­nema” disse Caio.

Ele pontua que tenta, nesse ema­ra­nhado de coisas, con­ci­liar o am­bi­ente aca­dê­mico, onde diz ser co­nhe­cido como “o ar­tista”, de uma forma pe­jo­ra­tiva. “Eu tento que­brar, de al­guma forma, o ex­cesso de aca­de­mi­cismo pre­sente no meu curso, que é ex­tre­ma­mente teó­rico. Teve um se­mi­nário sobre Karl Marx que com­pu­semos um RAP e co­lo­camos um beat e co­me­çamos a cantar du­rante a apre­sen­tação. O pro­fessor adorou. Já em An­tro­po­logia, sempre tento con­ci­liar as duas artes. Tem pro­fes­sores que apoiam, ou­tros que me per­se­guem e, os que tratam como ‘brin­ca­deira des­ne­ces­sá­ria’. Um pro­fessor uma vez me disse ‘vai fazer te­atro, aqui é lugar de ci­en­tista’. E eu sorri e res­pondi ‘já sou ator, pro­fes­sor’”.

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