Como em qualquer outro dia de jogo, o bairro de San Blas se encheu de camisetas alvirrubras. O hino soava minutos antes do começo da partida em um lotado Wanda Metropolitano. Mas o desse domingo não foi um Atlético x Barcelona qualquer. Com a camisa 7 às costas das alvirrubras não subiu ao gramado Antoine Griezmann e sim Ángela Sosa. E com a 11 azul-grená não era Ousmane Dembélé e, sim Alexia.
O futebol feminino voltava à casa do Atlético de Madrid. E o fez em grande estilo, batendo o recorde histórico de público em uma partida de futebol feminino entre clubes não somente na Espanha, mas em todo o mundo: 60.739 espectadores. Ou seja, as arquibancadas praticamente lotadas, já que o estádio tem oficialmente 67.829 lugares.
Dessa forma, no domingo foi superado um número que permaneceu imbatível ao longo de 99 anos, quando no Boxing Day de 1920 53.000 pessoas compareceram ao Goodison Park para assistir ao duelo entre o Dick, Kerr’s Ladies e o Helen’s Ladies. A nível de seleções, o recorde é de 90.185 espectadores que presenciaram o jogo entre os Estados Unidos e a China na Copa do Mundo de 1999, no Rose Bowl de Pasadena.
Os milhares de torcedores que presenciaram a partida são mais uma demonstração de que o futebol feminino é um fenômeno em pleno crescimento. Se no final de semana passado foi a vez do basquete, que bateu o recorde histórico de público em um jogo feminino na Espanha, com 13.472 espectadores no Wizink Center de Madri, no domingo foi a vez do esporte mais popular. Os torcedores que encheram as arquibancadas do Wanda Metropolitano superaram os 48.121 que há pouco mais de um mês foram a San Mamés, no jogo da Copa da Espanha entre Athletic de Bilbao e Atlético de Madrid, que terminou com a vitória das colchoneras (como é conhecido o Atlético de Madrid) por 2×0.
Durante toda a semana, os dois clubes se encarregaram de alimentar o entusiasmo pelo jogo, e o público respondeu ao chamado. Na quarta-feira o Atlético anunciou que os ingressos estavam esgotados. Apesar disso, vários torcedores foram às bilheterias na manhã de domingo para tentar conseguir entradas, sem sucesso.
Antes do começo da partida, um lugar chamou a atenção dos torcedores colchoneros. Entre as diversas medidas tomadas pelo Atlético para continuar apoiando o crescimento do futebol feminino está a presença, pela primeira vez, de várias jogadoras no Corredor das Lendas, um espaço em que são homenageados os jogadores que disputaram 100 partidas oficiais com a equipe. Uma honra que coube a três integrantes do elenco que superaram o número: Amanda Sampedro (102 jogos), Silvia Meseguer (101) e Ángela Sosa.
“Vai Atlético Feminino”, dizia o cartaz que recebeu as jogadoras quando vieram ao gramado. O ambiente era o de um dia importante, e não era para menos. O jogo serviria, além de bater o recorde de público, para esclarecer se a Liga Iberdrola (como é chamado o Campeonato Espanhol Feminino) continuaria em disputa. Uma vitória das alvirrubras praticamente garantiria a conquista do campeonato faltando seis rodadas para o final. Não foi o que aconteceu.
Estimulado pelo impulso de sua audiência, o Atlético de Madrid estava disposto a assumir a reunião desde o início. Nem um minuto se passou quando tiveram a primeira grande ocasião. Ludmila ficou sozinha na frente de Sandra Paños depois de uma boa combinação das alvirrubras. Mas quando o Metropolitan já gritava gol apareceu a perna salvadora da goleira do Barcelona para proteger o canto.
Foi o primeiro aviso de um Atlético que durante o primeiro quarto de hora se submeteu à equipe Blaugrana, pressionando na criação do jogo culé. O time alvirrubro forçou várias intervenções da goleira Sandra Paños, especialmente em um cabeceio de Laia Aleixandri, mas não encontrou o prêmio do gol.
Com o passar dos minutos o Barcelona se esticou e deu um passo à frente, apoiando-se em Oshoana para contra-atacar. A atacante africana deu ar aos catalães e se tornou um pesadelo para a defesa adversária, atacando suas costas e revertendo o domínio inicial do Atlético. Graças ao seu desempenho, o Barcelona conseguiu mudar o rumo da partida antes de sair para o intervalo.
O resultado era bom para o Atlético, que com o empate praticamente garantia o título, e isso foi notável após o retorno do vestiário. As alvirrubras foram mais conservadoras no segundo tempo, enquanto o Barcelona definitivamente assumiu o jogo, que passou a ser jogado perto da área do time local. Com o empurrão das culés, veio o primeiro gol. Oshona aproveitou uma péssima saída de bola da goleira do Atlético, Lola Gallardo, para finalizar com tranquilidade e colocar em vantagem as jogadoras do treinador Lluis Cortés aos 20 minutos do segundo tempo.
A partida esfriou. O Atlético tentou com mais coração do que com a cabeça, e deixou espaços que as culés aproveitaram para fechar o placar. A dez minutos do final, um cabeceio de Esther acertou a trave e caiu nos pés de Duggan, que havia entrado no lugar de Oshona. Dois a zero. Com a vitória, o Barcelona está três pontos atrás do Atlético, com seis jogos restantes. Mas, neste domingo, o resultado foi o de menos. O verdadeiro triunfo ocorreu nas arquibancadas, que se despediu dois dois times com uma sonora ovação.