Na última semana, produtores mato-grossenses de algodão da região Sul de Mato Grosso (Rondonópolis, Primavera do Leste e Campo Verde) receberam a visita do pesquisador americano Dr. Peter C. Ellsworth, da Universidade do Arizona, cujo foco de estudo é o desenvolvimento e implantação de Programas de Manejo Integrado de Pragas, sendo atualmente a mosca branca uma das principais pragas. A visita foi viabilizada por meio do Instituto Mato-grossense de Algodão (IMAmt).
Esse inseto é conhecido por atacar diversos cultivos, como soja, tomate, feijão, algodão e hortaliças e por apresentar populações resistentes a uma ampla gama de inseticidas utilizados na agricultura. Nos últimos anos, o inseto tem sido muito presente no sistema de cultivo adotado no cerrado, onde há o plantio de diferentes culturas em sistema de rotação, que favorece a ocorrência de várias pragas, entre elas a mosca branca.
No estado americano do Arizona, Ellsworth pesquisa a mosca branca há mais 30 anos, suas particularidades, controle da população e dos danos causados por ela. Segundo o pesquisador, além de introduzir toxinas, o inseto pode transmitir doenças severas nas plantas de diferentes cultivos. A mosca branca é um inseto originário da região do Mediterrâneo e foi coletada e identificada pela primeira vez no Brasil em 1929. Desde então, com a entrada de novos biótipos, as técnicas de manejo da praga foram revistas, buscando sempre o controle eficiente das populações.
Segundo Ellsworth, a mosca branca pode ser encontrada em qualquer região do mundo cujo clima é quente, como na Austrália e Israel, onde aplicou seus estudos ao longo dos anos. “É sempre muito interessante ver outras partes do mundo onde a agricultura existe e, particularmente, onde há problemas com pragas. Em Mato Grosso, foi incrível conhecer os desafios enfrentados com as pragas e com o ambiente que manejam. Vi muitas coisas inéditas, o que tornou a experiência muito enriquecedora. Além de aprender com os produtores, entomologistas e consultores e passar minha experiência adquirida ao longo dos anos no Arizona. Lá, temos um programa de manejo que é único no mundo e ocasionou uma grande mudança em nossas lavouras”, explica Ellsworth.
Para o americano, o trabalho conjunto entre os produtores de algodão do Estado se mostrou uma importante saída para o controle desta praga. “Me impressionou a ótima comunicação entre os homens do campo, o que é bem diferente do que estou acostumado a ver. Observei muitos brasileiros jovens, focados, investindo em estudos e manejo de forma admirável. Foi uma experiência interessante e divertida observar os diferentes sistemas de produção, aprender como as pragas os impactam e o que deve ser feito em relação a este problema, visto que sempre existem outros desafios envolvidos”, frisa.
A visita também foi acompanhada pelo pesquisador Rafael Major Pitta, entomologista da Embrapa Agrossilvipastoril, que realiza uma série de trabalhos sobre Manejo Integrado de Pragas (MPI) e manejo da resistência de insetos-praga aos inseticidas em Mato Grosso. “Em 2017 tive a oportunidade de visitar, junto com alguns diretores da Aprosoja/MT, o trabalho desempenhado pelo Dr. Petter e fiquei impressionado com a eficiência do programa de manejo de pragas que eles conseguiram estabelecer no Arizona. O próximo passo seria trazê-lo a MT para ele entender a lógica dos nossos sistemas produtivos e então definirmos algumas ações, para que cheguemos a um patamar semelhante ao do Arizona. Após as diversas reuniões, ficou claro que temos condições de melhorar muito a qualidade do nosso manejo de pragas e consequentemente reduzirmos os custos produtivos e os riscos de perda de produtividade causada por infestações de pragas desequilibradas devido ao manejo preventivo/errôneo de pragas. Mas, para isso, será necessária maior interação entre pesquisa, indústria, extensão rural e produtores rurais”, explicou Pitta.
Para o pesquisador entomologista do IMAmt, Jacob Crosariol Netto, o trabalho conjunto dos produtores locais tem se mostrado uma ferramenta essencial, a exemplo dos trabalhos do Instituto focados na supressão das populações do bicudo-do-algodoeiro. “Tivemos acesso a trabalhos realizados pelo Dr. Petter nos EUA possíveis de serem replicados ou adaptados para a realidade local. Esses trabalhos evidenciam a importância de se utilizar a metodologia correta no monitoramento de pragas para verificar a infestação da mesma, bem como o tempo correto de aplicação de inseticidas, fator que reflete no melhor manejo da praga. Além disso o Dr. Petter nos colocou vários posicionamentos sobre a utilização de inseticidas mais seletivos aos inimigos naturais, fazendo a pirâmide entre o controle de pragas, preservação de insetos benéficos e inseticidas de alta eficiência, juntamente com o momento correto de aplicação, embasado pelo monitoramento”, frisou Netto.
O momento foi de destaque à pesquisa no campo. “Acima de tudo, o produtor deve acreditar no papel da pesquisa, que visa aplicar o estudo realizado, levando o resultado ao produtor, que por sua vez deve questionar e nos dar o retorno, para desenvolvermos novas pesquisas, sempre com o objetivo de buscar novas alternativas para o melhor manejo das pragas no sistema produtivo”, concluiu.
Além dos pesquisadores do IMAmt, acompanharam as visitas oentomologista do Instituto, Dr. Guilherme Gomes Rolim, além dos assistentes técnicos regionais Edenilson Souza, Gustavo Magnani e Renato Tachinardi.