“Eu não costumo ver jornal, eu prefiro ver essas notícias pela internet.”
Foi com base nos vídeos que Maria Clara Ferreira, de 16 anos, encontrou na internet que ela foi para o debate sobre os incêndios na Amazônia com a turma do segundo ano do ensino médio, em uma escola de Uberaba, em Minas Gerais.
“Uso muito na escola, essas buscas. Eu vi que eles estavam falando no vídeo muito sobre poluição e queimadas fazendo o aquecimento global ficar mais quente”, conta ela.
Só que o mergulho nessa busca pelo conhecimento pode servir para que internautas, como a Maria, liberem acesso também para a desinformação. Uma pesquisa feita pela Avaaz, uma ONG de mobilização social, em vídeos do YouTube mostra que 21% carregam informações erradas quando o assunto é “manipulação climática”.
São vídeos que aparecem na pesquisa principal ou no conteúdo recomendado pela plataforma após cada exibição. Se o verbete de busca for “aquecimento global”, 16% contém “fake news”. O índice é de 8% quando a pesquisa é sobre “mudanças climáticas”.
Ao todo, 300 vídeos foram analisados. Conteúdo que, apesar de falso, já recebeu mais de 21 milhões de visualizações de diversos internautas. Flora Rebelo, coordenadora de campanha da Avaaz, e uma das autoras do relatório, afirma que ao checar os dados com fontes especializadas em meio ambiente deu para atestar o que é mentira:
“Teve um vídeo que diz que não houve nenhuma tendência significativa de aquecimento global, no século XXI, que, por exemplo, não há evidências de que a emissão de carbono é fator dominante para as mudanças climáticas. Um outro dizia que a grande maioria dos estudos que existem tem problema de cálculo e, por isso, exageram as previsões das mudanças climáticas. A gente fez uma checagem de fatos. Todas as três afirmações são comprovadamente falsas.”
A pesquisa também observa que pelo menos 108 marcas tem seus anúncios exibidos antes dos vídeos, como ocorre normalmente nas publicações de mais alcance – até mesmo companhias que pregam a defesa pela sustentabilidade e proteção do meio ambiente acabam aparecendo no mesmo clique. A cada acesso, o produtor do vídeo, com informação errada, recebe dinheiro, a chamada monetização, o que a autora da pesquisa critica:
“A gente não acha que esses vídeos devam ser retirados da plataforma, mas a gente acha que existe responsabilidade do YouTube de não promovê-los, porque, afinal, a liberdade de expressão está aí, é direito de todo mundo. Mas existe responsabilidade de não promovê-los e também de corrigir o erro.”
A pesquisa sugere também às plataformas uma mudança no algoritmo, um tipo de código que facilita a localização de alguns conteúdos, de acordo com as preferências de cada um. Há ainda outra recomendação: que os usuários, que assistirem uma informação errada, sejam avisados.
Procurado pela reportagem, o YouTube não respondeu.