FABÍOLA KAREN
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É muito difícil, mesmo em um contexto dito “normal”, fazer projeções para o futuro. Isso se complica ainda mais quando falamos em crise sanitária, econômica, social e afetiva. Tudo isso caiu de uma vez só sobre o colo dos brasileiros e em questão de meses aquele velho “normal” – o pré-pandemia – já não existe mais.
Mas nada muda assim do nada. O que a gente pode perceber é que a pandemia, causada pelo novo coronavírus, está fazendo as vezes de um catalisador, um acelerador dessas mudanças que já vêm acontecendo desde a virada do século.
Mas como fica a comunicação no meio disso tudo? Aqui, utilizo comunicação no sentido descrito por Vera França (2001) – tanto os meios de comunicação como nossos processos comunicacionais. Para memorar o dia 31 de maio, Dia Mundial das Comunicações Sociais, vou me arriscar a pontuar o que tenho percebido.
Assim como a pandemia, a crise econômica também afeta o Brasil e sabidamente o corte de gastos na publicidade é algo avaliado por inúmeras empresas. Por isso, acredito em uma seleção ainda mais aprimorada dos investimentos nesta área – ponto positivo para quem se dedica à área com zelo.
Além da implementação de uma comunicação mais humanizada, visando o Content Marketing e as relações com o público-alvo, a utilização das plataformas do Google para direcionar seu conteúdo publicitário para quem realmente vai acessar é mais visada. Em conformidade com a campanha, o produto, o serviço, a ideia e a persona em foco, um banner patrocinado do Instagram chega a seu público alvo com muito mais eficiência que uma outdoor na Av. do CPA.
O boom das fakenews assustou tanto os leitores quanto os jornalistas e comunicadores. Com essa experiência, acredito na acentuação da busca mais apurada pela veracidade, pelo fato. Diante disso, o acesso aos jornais via sites, televisão e até mesmo a rádio tende a se intensificar. E isso já está ocorrendo mesmo agora durante a pandemia. A busca por informações sobre a doença, meio de prevenção, entre outros, já tem intensificado a audiência do jornalismo.
O isolamento social é real e necessário para a prevenção da doença. Com isso, nossos hábitos de consumo tendem a mudar. Os gastos são bem mais pensados e controlando, deixando o consumismo exagerado de lado, focando no que é essencial e no propósito.
A busca por marcas de presam pela sustentabilidade, que defendem bandeiras, que possuem um cuidado maior com a produção, com os insumos, a matéria prima e a relação de trabalho dos funcionários, entre outros tendem a ser o foco. As pessoas vão consumir aquilo que elas acreditam, que se identificam.
Por fim – e particularmente a projeção mais óbvia de todas – é a digitalização. Hoje quase tudo pode ser digitalizado. O e-commerce e o delivery tendem a intensificar seus serviços – novamente, nada novo sob o sol que a gente já não estivesse vivendo antes. Farmácia, supermercado, banco, ensino à distância (EAD), até mesmo consultas médicas podem ser feitas de forma digital. Com isso, a necessidade de estar presente nas redes sociais é ainda maior para as marcas. É aquela máxima, “quem não é visto, não é lembrado”.
BÔNUS. Como eu iria falar da comunicação sem citar minha grande paixão, o teatro? A cultura, o entretenimento também estão passando por adaptações. Quantas lives de cantores você já ficou sabendo ou assistiu recentemente? Aposto que já perdeu a conta. As plataformas de streaming de filmes e séries já eram amadas. Agora, têm sido uma válvula de escape para muitos durante esse período de isolamento social.
Ir ao cinema já era raro no antigo normal. Apesar de não acreditar na completa extinção, creio que a experiência seja o único motivo para buscar esses locais. E o teatro online? Virou cinema? Audiovisual? Postar sua peça no YouTube te faz um videomaker? Como pensar o teatro, a arte do encontro, impossibilitados de nos encontrar? Eu acredito que nada substitui o encontro. Como subverter isso? Aí está uma projeção que ainda não consegui identificar.
*Fabíola Karen é atriz e publicitária. Como teatreira e amante das artes, fica fácil identificar porque escolheu o design como área de atuação – rs. Recentemente se aventura – como pode- a escrever e estudar teatro. Atualmente, é designer pela Íntegra Comunicação Estratégica e atriz pela Companhia Corpo Núcleo e Grupo Cena Livre e Teatro.