FERNANDA TRINDADE
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A velocidade do tempo, de uns anos para cá, anda me intrigando. Essas constantes mudanças das coisas e o sentimento de que o tempo está passando rápido demais, sempre me fizeram refletir em como as coisas são incertas e imprecisas. Parece que nada é feito para durar e que tudo é líquido. Hoje, tenho a impressão de que 24 horas passam num “piscar de olhos” e os anos avançam cada vez com mais velocidade.
É engraçado, como tudo muda muito rápido. E esse tema é realmente uma coisa que busco entender melhor. Será que isso também intriga outras pessoas ou sou a única? Foi a partir daí que conheci Zygmunt Bauman, um polonês que morreu em 2017, aos 91 anos e escreveu mais de 50 livros. Um sociólogo que definiu o termo ‘Modernidade líquida’ e assim, compreendi o momento da história em que vivemos.
E olha que interessante, Bauman diz justamente que os tempos são líquidos, porque tudo muda rapidamente. Nada é feito para durar, para ser sólido. “Escolhi chamar de modernidade líquida a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza, a única certeza”, afirma esse autor em uma de suas palestras.
Nessa perspectiva, levando em consideração tudo que li sobre a modernidade líquida, é impressionante afirmar que o mundo atual nasce com um enorme impulso de transgredir, de substituir, de acelerar, de evoluir ou mudar. Não podemos ficar parados, essa é a regra. As decisões precisam ser tomadas para ontem. Esse é o ritmo.
Não estou criticando tudo isso, porque de certa forma esse ritmo trouxe a chamada evolução, temos mais tecnologias, pesquisas, produtos e olhando pelo lado do bem, isso é sim, muito positivo. Mas, tudo acontece tão rápido que quando paramos por alguns segundos, nos sentimos mal. E principalmente nesta época de pandemia, muitas pessoas estão passando por esse sentimento de não saber o que fazer com esse tempo livre. Desacelerar parece difícil para esta geração.
A impressão é que não podemos parar e olhar uma paisagem. Já pensou que guardamos poucas coisas em nossa memória fotográfica? Me responda rapidamente: qual roupa usou ontem e o que comeu no almoço? Foi fácil obter essa resposta? Para muitas pessoas não é.
Quando viajamos, por exemplo, nos preocupamos em tirar 300 mil fotos. As vezes nem vemos direito os detalhes do lugar, passamos rápido, tiramos a foto e pronto. E quando alguém pergunta sobre esse lugar, você não consegue descrever direito ou “descreve” pelo que viu na foto após ser tirada.
Isso é preocupante? Não sei, não tenho essa resposta. Creio que depende muito de quais são as prioridades na sua vida. Só penso que o importante mesmo, é que cada pessoa defina sua prioridade e não deixe que a sociedade as defina por você. Até porque, estamos em um mundo pautado pelo agora, que promete satisfações imediatas e não valores e princípios.
E onde quero chegar com tudo isso? Na verdade, estou apenas compartilhando uma reflexão, conscientizando você sobre essa modernidade líquida em que vivemos e dividindo uma certeza de que desacelerar, parar por alguns segundos não vai te fazer mal. Isso não é nada fácil, entendo, mas definida suas prioridades, a mudança desse mundo líquido para o sólido pode ser interessante e só depende de nós mesmos.
Bauman diz que essa modernidade líquida está em tudo, no consumismo e principalmente nas relações sociais, humanas. Que tal então, permitir simplesmente que tudo isso se torne sólido?