CARLOS AVALLONE
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Uma das mais antigas lutas da sociedade mato-grossense, a chegada da ferrovia a Cuiabá, está prestes a ter o seu desfecho. Uma luta que remonta ao primeiro ano do século XX, quando o escritor e jornalista Euclides da Cunha defendeu a construção de uma ponte sobre o rio Paraná, para a ligação ferroviária entre São Paulo e Mato Grosso. A concretização desta ideia só aconteceria em 1974, quando o deputado federal Vicente Vuolo apresentou projeto alterando o Plano Nacional de Viação e incluindo a ligação SP/ MT.
A partir daí, sucederam-se vários capítulos desta luta impulsionada pelo visionário Vicente Vuolo, que anteviu o futuro próspero de MT a partir da superação das barreiras da logística de transportes. Luta que mereceu o apoio de vários governadores e presidentes, de deputados e senadores. Em 1998 o governador Dante de Oliveira e o vice de São Paulo, Geraldo Alckmin, inauguravam a Ponte Rodoferroviária Rollemberg-Vuolo, ligando Rubinéia (SP) a Aparecida do Taboado (MS), superando a última grande barreira física para a chegada dos trilhos.
Em 1999, no governo Dante, do qual tive a honra de participar, os trilhos entraram em MT via Alto Taquari. Dante ainda trabalhou até 2001 para assegurar a conclusão do trecho até Alto Araguaia. Dez anos depois era inaugurado o terminal de Rondonópolis, que já assegura a retirada da grande produção de grãos, além de trazer diferentes cargas da região sul.
Faço este breve resgate histórico para mostrar que esta luta, resultado dos esforços de tantas lideranças políticas, empresariais e comunitárias, não pode ter resultado diverso da chegada dos trilhos a Cuiabá. Seria até uma desonra aos que deram o melhor de suas vidas e capacidade de trabalho por esta nobre causa. Nobre, acima de tudo, porque estamos falando de uma verdadeira transformação na economia e na vida de milhares de pessoas, de geração de empregos, de aquecimento da economia de toda a baixada cuiabana onde vivem mais de 1 milhão de pessoas.
A viabilidade da construção de um terminal na grande Cuiabá foi confirmada pela concessionária no dia 9 de julho de 2019 na sede da Fiemt, durante audiência pública por nós requerida, em sessão conjunta com o Senado Federal. Na ocasião a Rumo fez um compromisso com a comunidade ao confirmar a viabilidade econômica do terminal na grande Cuiabá. Estudos da concessionária detectaram uma grande capacidade de cargas na região, um potencial de 20 milhões de toneladas/ano para produtos que vêm de SP.
A diretoria da Rumo tem conhecimento do apoio e da participação efetiva das forças politicas e sociais na superação das barreiras desde a década de 70. No dia 27 de maio comemoramos a renovação antecipada da concessão da Malha Paulista, uma das condicionantes para a expansão dos trilhos em MT. Ela garantiu à Rumo mais 30 anos de operação daquele trecho, em troca de R$ 6,1 bilhões em novos investimentos.
A renovação aprovada pela ANTT e TCU foi o resultado de quase cinco anos de tratativas entre governo federal, empresa e órgãos de controle. Este processo teve o apoio efetivo de lideranças como o senador Wellington Fagundes, Presidente da Frente Parlamentar de Logística e Infraestrutura, do senador Jayme Campos, do federal Neri Geller, da ALMT, do Fórum Pró-Ferrovia e do governador Mauro Mendes, entre outros agentes.
Logo depois da assinatura do aditivo, a Rumo confirmou que a prioridade será a extensão da malha ferroviária em MT, levando os trilhos às regiões produtoras. Nos últimos dias tomamos conhecimento de iniciativas da concessionária como a aquisição de área para um terminal em Nova Mutum. Não recebemos informações sobre providências semelhantes em relação a Cuiabá, o que aumentou nossa preocupação.
Agora é o momento da decisão, de assegurar definitivamente a extensão dos trilhos a Cuiabá. Por isso estamos reforçando a união da sociedade em torno da realização deste sonho de todos nós. A construção de um novo terminal é prioridade para toda a baixada cuiabana, que terá sua economia revitalizada, e pode ser compatibilizado com o acesso às regiões produtoras.
Não podemos permitir que esta luta histórica seja prejudicada, em detrimento das necessidades da população da Grande Cuiabá. Aguardamos uma manifestação da concessionária, esclarecendo objetivamente sobre o trajeto da expansão da ferrovia, ao mesmo tempo em que continuamos trabalhando com o apoio decisivo da classe política, do setor produtivo, de entidades representativas como a Fiemt e Fecomércio, do movimento comunitário e da sociedade organizada em geral.
A luta de Vuolo e de todos nós pela ferrovia em Cuiabá não vai parar!
*Carlos Avallone é deputado estadual pelo PSDB e preside o Observatório Socioeconômico da ALMT