VALDIR BARRANCO
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Num país em que 75% dos presos são negros e negras, o governador Mauro Mendes mais uma vez mostra sua face cruel, carregada de preconceito, e escolhe o Dia da Consciência Negra para inaugurar o raio 6 da penitenciária central de Cuiabá.
A população negra esperava para este dia a apresentação de programas de resgate da cidadania e de oportunidades de emprego e educação.
Quando há 132 anos, o Brasil se viu forçado pelo mercado internacional a abolir a escravidão, haja vista ser o único país que ainda mantinha esta prática, a princesa Isabel assinou a lei Áurea. No entanto, não concedeu aos pretos e pretas acesso à trabalho, remunerado e educação. Enquanto isso, os “donos dos escravos” forçavam a coroa portuguesa a desenvolver políticas para trazer ao Brasil europeus brancos como mão de obra remunerada.
Tais injustiças governamentais, em fina sintonia com as casas brancas brasileiras, formaram o embrião das desigualdades que jamais foram reparadas em nosso país. Os pretos e pretas, sem casa, sem comida, sem escola, sem terra e sem esperança subiram os morros para construírem seus tetos; formando, mais do que favelas, espaços de resistência, de samba e de fortalecimento da fé pelas religiões de matriz africana.
A ausência de oportunidades construiu, ao longo destes 132 anos, um abismo infeliz entre brancos e negros. Em relação à renda, 1% dos brasileiros ganham os maiores salários no Brasil, dos quais somente 12,4% são negros e negras. Na outra ponta, dos 10% mais pobres, com renda de até R$ 130 reais por pessoa, 76% são negros e negras.
Há três anos, o Brasil se tornou o 3º país do mundo que mais encarcera, ultrapassando a Rússia e ficando atrás apenas da China e dos EUA, que é o campeão. Dos 812 mil habitantes nas masmorras brasileiras, 609 mil são negros, contra apenas 203 mil brancos.
Basta olhar para os números para compreendermos que as raízes das desigualdades são as responsáveis por termos governantes como Mauro Mendes, que se preocupa mais em inaugurar prisões para os negros do que oportunizar-lhes políticas públicas de acesso à educação, moradia, trabalho, saúde e dignidade.
Neste mês da Consciência Negra, desejo que possamos revisitar o passado tão cruel com os pretos e pretas e ao fazê-lo pedir desculpas a Zumbi e Dandara dos Palmares, Tereza de Benguela, Zeferina, Adelina Charuteira, Luís Gama, entre tantos negros e negras que doaram a vida na luta por uma liberdade que governantes cruéis e preconceituosos insistem em negar-lhes.
Espero que o governador de Mato Grosso reflita sobre a maldade do seu pensado e planejado simbólico presente aos negros e negras de Mato Grosso e que ele não instale no centro do raio 6 um pelouro para descerrar a faixa sobre a placa de inauguração. Por fim, peço a Deus, nosso Senhor, que apiede-se de sua alma tão carregada de maldades.
Viva Zumbi dos Palmares! Viva o dia de termos consciência das maldades praticadas contra negros e negras para que deixem de ocorrer neste país!
*Valdir Barranco é deputado estadual e presidente do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso.