Segundo o Artigo 5.º da Lei 11.340, Lei Maria da Penha, a violência doméstica é definida “como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”, sendo as mulheres as principais vitimas desse tipo de crime. De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só em 2020, oito mulheres foram agredidas a cada minuto naquele ano.
O professor de Psicologia Luiz Mafle explica que o problema da violência doméstica é primeiramente algo cultural, alimentado muitas vezes por ciclos de violência, em que pessoas que cresceram em ambientes de violência doméstica acabam por se tornarem agressores ou vítimas quando adultas.
“Os primeiros padrões de relacionamento que a gente aprende é dentro de casa, com a nossa própria família. No caso de relacionamentos amorosos, a pessoa vai entender que o normal entre um casal é a violência, isso pode ser causado até mesmo quando os pais batem nos filhos, pois muitos dizem que batem em suas crianças porque as amam, ‘estou fazendo isso, mas é porque eu te amo’ ou ‘eu estou batendo, mas eu te amo’. Pessoas nessa situação aprendem desde a infância que apanhar é um sinal de amor, como algo normal dentro de um relacionamento” , esclarece o profissional.
Além do ambiente familiar, o especialista também aponta os círculos sociais como um meio de se perpetuar padrões de conduta. As amizades e o ambiente de trabalho também influenciam no comportamento de uma pessoa.
“Às vezes pode ser uma regra social dentro de um grupo de amigos, ou de um grupo de bairro, essa violência também pode ser aprendida por pressão social de um determinado grupo de convivência”, diz Mafle.
Como quebrar um ciclo de violência?
Relatos de violência doméstica que atravessam gerações não são incomuns dentro dos lares brasileiros. Contudo, isso não significa que esses ciclos não podem ser quebrados. Para a advogada especialista em Direitos Humanos, Mayra Cardozo, uma das principais medidas que o estado deve adotar em relação ao combate a violência doméstica é trazer educação sobre esse tema desde a base educacional, para que essa cultura de violência seja interrompida e tratada em sua raiz.
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“Quando falamos de violência doméstica, nada mais é do que uma consequência de uma sociedade patriarcal e opressora. As políticas públicas têm de sempre ser pautadas no viés educativo. Porque não adianta apenas criminalizar e punir, senão teremos cada vez mais feminicídios, sem resolver de fato o problema”, alerta Cardozo.
Em concordância com a advogada, Luiz Mafle também defende a educação como uma ferramenta no combate à violência doméstica, devido aos agressores, em muitos casos, não enxergarem a gravidade de suas ações, por acreditarem que o seu comportamento é algo normal.
“A pessoa que é agressiva, em geral, não acha que está errada ou quando ela sabe que o que esta fazendo é errado, começa a criar estratégias para encobrir a própria culpa. Mas, geralmente, ela não entende que é agressora, acha que o comportamento é normal. Por isso, ela precisa ser confrontada e repensar seus padrões de comportamento. Como psicólogo recomendo a terapia, porque é muito difícil reconhecer os seus erros e mudá-los”, fala o especialista.
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A assistente administrativa Carolaine Santos Silva, de 24 anos, é uma das pessoas que conseguiram quebrar esse ciclo de violência em sua família. Dentro de sua casa, suas duas avós, tanto paterna como materna, sofreram agressões por parte de seus maridos e o mesmo aconteceu com sua mãe e algumas de suas tias.
Ela relata em como foi difícil e doloroso para ela conviver durante a infância em um ambiente de constantes brigas e violências. Carolaine conta que a experiência a fez a se tornar uma pessoa mais desconfiada e retraída em relação aos outros.
“Eu sentia muito medo, insegurança e desconfiança de todo mundo, porque eu tinha medo de passar pelas mesma coisas que vivenciei dentro de casa. Frequentemente, eu me questionava do porquê daquilo estar acontecendo comigo, do porquê daquilo acontecer apenas na minha casa. Eu sentia que não podia confiar nas pessoas da minha própria família, eu comecei a me tornar uma pessoa mais fechada e rígida, que evita demonstrar o que está pensando e sentindo, tudo para evitar discussões”, conta.
Hoje casada, Carolaine relembra os atributos que passou a buscar quando iniciou a sua vida amorosa. Ela afirma que procurou sempre alguém que se afastasse dos padrões que vivenciou no ambiente doméstico, observando como o possível pretendente tratava as mulheres à sua volta e as suas opiniões políticas sobre os direitos femininos.
“Tratamento foi a primeira coisa que eu observei no meu esposo, como ele tratava a mãe, a irmã, se ele era a favor ou contra o feminismo, dos direitos reprodutivos das mulheres. Kaue, o meu marido, sempre se preocupou e cuidou muito da família dele e nunca se mostrou possessivo com a sua irmã mais nova. Eu também prestava atenção nos posicionamentos dele em relação à violência doméstica e aos direitos das mulheres”, diz Carolaine.
Fonte: IG Mulher