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Produtos de femtechs descomplicam saúde sexual para mulheres reais

Marília Ponte e Marina Ratton estão à frente das femtechs Feel e Lilit
Bruna Bento

Marília Ponte e Marina Ratton estão à frente das femtechs Feel e Lilit

A consolidação das femtechs está revolucionando a maneira de encarar as demandas de saúde das mulheres e de pessoas com vulva. A sexualidade feminina e a saúde íntima estão, por muitas vezes, no centro dessas startups lideradas por mulheres. É o caso de Feel e Lilit , duas empresas com operações unidas que oferecem soluções de sexual wellness, com o intuito de promover bem-estar, informação e autoconhecimento.

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Marina Ratton, fundadora da Feel, e Marília Ponte, fundadora da Lilit, casaram as empresas antes mesmo de chegarem ao mercado. A decisão para isso, além das mesmas visões sobre esse mercado, foi a forma como perceberam que seus produtos e conceitos se complementam – algo que foi apontado pelas mulheres que participaram dos testes das marcas.

Ao disponibilizar produtos atóxicos e 100% naturais voltados para a saúde íntima, desde lubrificantes e sabonetes íntimos até vibradores, as duas já conseguiram faturar mais de R$ 1,5 milhão; além de terem recebido aceleração d’O Boticário. Após a primeira rodada de investimentos, que aconteceu em 2021, Marina e Marília conseguiram unir 84% de investidoras mulheres.

Os interesses para investir no mercado de sexual wellness são inúmeros, desde experiências pessoais até o desejo de colocar as mulheres no centro do desenvolvimento e testagem de produtos para saúde íntima feminina. Todos os testes de produtos foram feitos durante as piores fases da pandemia, o que fez com que elas captassem dados o suficiente para traçar quais diferenciais levariam para o mercado.

Gap de mulheres empreendendo em sexual wellness

Marília se interessava por sexualidade desde a infância e adolescência, mas demorou a ver o tema como uma possibilidade para o mercado. Além da maturidade, o que a impulsionou foi notar a falta de mulheres empreendendo para resolver problemas ligados à sexualidade delas próprias.

Marina percebeu a mesma lacuna em outras experiências profissionais no mercado de wellness; além de notar que havia uma falta de percepção real sobre a saúde feminina, desde a sexualidade até etapas da vida, como a menopausa, ou mesmo diagnósticos, como a endometriose .

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Ambas relatam que a sexualidade de mulheres é ignorada, já que é entendido que “elas não gostam de transar”. “Ouvimos recentemente que o que a mulher quer é uma camisinha com sabor, que elas não têm tanto interesse em sexo. Quando vamos analisar, quem diz isso são empresas com lideranças massivamente masculinas”, aponta Marina.

Posturas como essa não só produziram um gap no mercado, mas impactaram na falta de pesquisas e de dados com esse recorte. Marília também aborda a maneira como as mulheres são condicionadas a não conversarem sobre sexo ou explorarem o próprio corpo, o que faz com que muitas encarem essas questões como casos isolados ou algo que não é importante. A empreendedora diz que ela própria passou por experiências assim.

“A gente conversa com as mulheres na nossa bolha e vemos que nada disso é falado. Não temos esse lugar de troca ou produtos. E, quando temos, não sabemos usar ou temos dúvidas. Quando se tem dor, não tem espaço para falar disso no médico. De repente, falava com mulheres atravessadas por classe e raça diferentes e percebia uma unanimidade. Todas somos unidas por esse tabu”, afirma Marília.

“É uma questão mais sobre saúde do que prazer ou apimentar um relacionamento. É sobre não ter desconforto, não ter dor. Quando abordamos a educação sexual, seja na medicina, na academia ou com a juventude, percebemos que o acesso à informação é muito limitado”, acrescenta.

Ao realizarem as pesquisas sobre as necessidades das mulheres brasileiras, chamou a atenção delas a forma como elas se acostumam a sentir dores no sexo, não relacionando o ato com prazer.

“Há uma barreira de comunicação muito grande. Daí pensamos em fazer algo simples, um lubrificante bonito, uma experiência boa e natural, algo que fizesse com que as mulheres parassem de sentir dores e desconfortos”, diz Marília. “Não é que as mulheres não queiram fazer sexo. Elas não estão sendo escutadas”, acrescenta Marina.

Produtos naturais também para a saúde íntima

A dupla de empreendedoras realizou uma série de pesquisas para traçar quais são as necessidades das mulheres brasileiras. Marina conta que a falta de produtos desenvolvidos com ingredientes naturais e embalagens discretas, por exemplo, são alguns fatores que demonstravam o descaso com essa questão.

“Todos os produtos das mulheres, dos cabelos aos pés, são veganos, atóxicos, sem química… Tudo que qualquer gôndola do Brasil trouxe para a beleza, mas não trouxe para a intimidade”, diz.

Um demonstrativo disso é o uso do óleo de coco para hidratar a vulva, principalmente na menopausa, ou como pós-depilatório. “Isso é simbólico porque se trata de um produto da cozinha que é levado ao banheiro, indicado por mulheres e ginecologistas no boca a boca. É um sinal horroroso de que a indústria não está escutando as mulheres na menopausa, por exemplo”.

Como alternativa, os produtos da Feel contam com base de ingredientes como aloe vera, calêndula, vitamina E, ylang ylang, melaleuca, o próprio óleo de coco e muito mais. Tudo isso sem alterar o pH vaginal. A faixa de preço dos produtos é de R$ 34 (preço do lubrificante de bolsa) a R$ 89,90 (lubrificante e hidratante íntimo) – sem contar os kits que podem incluir mais de um produto e estão disponíveis a partir de R$ 116.

A régua de pH dos itens íntimos da Feel permite que eles sejam utilizados por mulheres trans que passaram pela cirurgia de neovagina, por exemplo. Apesar de os lubrificantes passarem a ser procurados até por homens cisgênero, Marina reforça que, entre as metas da marca, está a confecção de itens que respeitem as particularidades de outros corpos, incluindo homens trans e pessoas não binárias

Marília percebeu que, por parte de vibradores e acessórios para usar no sexo ou na masturbação, o menos se tornou mais. “Inicialmente eu tinha uma ideia super complexa de fazer um vibrador diferente, com não sei quantos motores e silicone. Quando conversava com as consumidoras, a resposta era: ‘Tudo bem, mas o que é um clitóris? O que é um orgasmo?’”, lembra a empreendedora.

Ela atribui isso ao fato de muitas mulheres não terem sido incentivadas a explorar o próprio corpo e sexualidade. Com isso, ela precisou adaptar a proposta: “Nossa ideia foi criar um primeiro vibrador para essas mulheres. Fizemos tudo isso com cuidado na comunicação, o que passou a ultrapassar as idades. Às vezes, uma jovem experimentava e comprava para a mãe, e vice e versa”.

O resultado dessa confecção é o Bullet Lilit, que serve o propósito de ser pequeno e discreto, mas potente e feito com materiais seguros. O item tem cinco modos de vibração, é à prova d’água e custa R$ 214.

Femtechs têm compromisso com educação sexual de mulheres

Além da venda de produtos, a Feel e Lilit trabalham com produção de conteúdo educativo. As startups têm parcerias com fisioterapeutas pélvicas, terapeutas corporais e até escritoras de contos eróticos para levar informação e mudar a visão das mulheres quanto à própria sexualidade.

“Às vezes a mulher não está pronta para ter um vibrador, mas ela pode receber um conteúdo que vai mudar a forma como ela se relaciona com a própria intimidade”, aponta Marília.

Ela compara a experiência com as de mulheres que vendiam itens eróticos em sex shops nos anos 1960, nos Estados Unidos. “Na época, elas começaram a abrir os próprios negócios. Por mais que os produtos não levassem em conta o corpo feminino em seu desenvolvimento, aquela mulher repassava informações, vendia e comunicava para outras mulheres. Havia, minimamente, uma curadoria”, conta.

Marina reforça que, com esse lado educativo, as startups se propõem a mostrar para as mulheres que sexualidade e intimidade têm mais a ver com saúde. “É muito menos sobre as posições sexuais que mais dão prazer ou coisas mirabolantes. Na prática, vemos que é muito mais sobre consentimento, sobre comunicação e fluência sexual para falar de conforto”, começa.

“Assim, a mulher pode abordar do que gosta mais, dizer quando está com dor ou quando não gostou de algo. Como vamos afirmar que uma determinada posição sexual dá prazer se essa mulher não consegue nem falar de consentimento com a parceria?”, questiona a empreendedora.

O mercado de saúde íntima feminina é visto como um nicho

Por mais que as empreendedoras reconheçam um crescimento e negócios que buscam tratar o sexual wellness feminino com a real preocupação de solucionar problemas, Marina afirma que, até agora, é preciso bater na tecla de que esse mercado não é um nicho.

“Mais da metade da população vai passar por diversas fases ligadas à intimidade, desde a primeira relação sexual até a menopausa. Ainda somos vistas como nicho. E, por mais que exista boa vontade de alguns homens, é muito difícil para eles entender o impacto da vida sexual com dor na mulher”, analisa Marina.

Por mais que essa realidade persista, Marília afirma que tem percebido um fomento maior nesse setor; além de um número mais expressivo de empreendedoras que querem trazer suas próprias soluções ao mercado.

“Com essas outras mulheres empreendedoras e com nossos produtos sendo vendidos em lojas de departamento ou por marcas grandes, vejo que há algo positivo. Estamos conseguindo pautar o tema e, cada vez mais, mostrar a nossa cara, contar nossa história e trazer outras mulheres para experimentarem essa categoria também”, conclui.

Fonte: IG Mulher

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