Fala, galera. Beleza? Amo os domingos. É o dia que a vida me entrega as pautas para os textos que trago com muito prazer. Mas, desta vez, as glórias precisam ser divididas com a segunda-feira também.
Para quem acompanha a minha coluna, já deve ter notado que escrevo mais sobre hábitos, ações e experiências do que detalhes técnicos. O texto de hoje não será diferente, apenas peço um pouco de paciência para entender a relação da história que contarei com a mobilidade elétrica. Garanto que não irá se arrepender.
Como de costume, acordei no domingo bem cedo para começar minha rotina, mas com uma “pequena grande” diferença. Dia 2 de outubro foi dia de eleição. Fui ao mercado no primeiro horário e levei o Chapolin Colorado para dar uma carga rápida no Posto Shell que possui a estação da Raízen. Queria ter certeza que haveria muita energia para levar a galera para exercitar a cidadania. Uma hora de carga, 21 kWh energia e R$ 39,90 pagos para garantir um domingo eletrificado.
É sério. Amo dia de eleições. Estava muito ansioso por esse dia. Com muita felicidade em cada viagem e animado para conversar sobre o dia mais importante para todo cidadão. Claro que o carro elétrico era assunto presente na maioria das vezes, sempre acompanhado de perguntas curiosas e muita alegria com a novidade, mas busquei me focar mais nas eleições.
Tive a oportunidade de conversar com eleitores de todas as visões políticas, desde a esquerda, centro e à direita. Não me preocupo se a pessoa concorda comigo ou mesmo se consigo mudar a opinião de alguém com visão diferente. Gosto tanto de falar de política quanto gosto de falar de carro elétrico.
Minha tarde estava muito boa até o momento que peguei um casal que não gostou muito de saber que a minha posição política não era a mesma que a deles. Quando notei que o clima ficou pesado, lancei uma frase acompanhada de um apelo: “Por favor, não me avalie mal por causa do meu voto”.
Para minha surpresa, recebi a seguinte resposta: “Você também não está contribuindo”. Isso me destruiu emocionalmente. Como alguém poderia avaliar negativamente um serviço por conta de oposição política?
Durante a noite, meus temores se confirmaram. Recebi uma avaliação de 3 estrelas na plataforma da Uber. O suporte da Uber disse que não poderia abrir mão da confidencialidade da avaliação do passageiro, todavia seria muita coincidência. Mesmo que não fosse o cliente em questão, só o comentário feito acabou com toda a alegria que eu carregava comigo.
A pessoa nem se importou em ter andado em um carro elétrico, conservado, limpo, com uma condução segura e agradável. Usou apenas um elemento de avaliação que não tem nada a ver com a prestação de serviço. Como alguém se sentiria animado novamente a prestar um bom serviço e oferecer um serviço adequado dessa forma?
Agora passando para a nossa querida segunda-feira. Fui surpreendido com uma mensagem no WhatsApp, onde um colega havia sido excluído do grupo por conta de mensagens políticas. Não quero entrar no mérito se concordo ou não com a posição dele. Todos deveríamos ter o direito de nos manifestar sem medo de retaliação pelas ideias. Incluí novamente esse colega ao grupo com um pedido de desculpas e um alerta para mantermos o respeito em todas as discussões.
O ponto de discórdia era que não temos representação junto aos poderes executivo e legislativo para incentivar ou mesmo defender a mobilidade elétrica perante o poder público. Claro que a defesa do argumento foi um pouco mais acalorada do que o necessário, em certo ponto até desrespeitoso, mas não estava errado na opinião em si.
O problema é que, mesmo em um grupo de pessoas com mais convergências do que divergências, acontecem discussões. Como poderemos ter força para convencer os demais para abraçarem a causa da mobilidade elétrica? Infelizmente já vi muitas discussões semelhantes, muito mais do que eu gostaria. Debates são saudáveis, discussões só geram perda de razão.
Agora, se você conseguiu chegar até aqui, vamos falar da mobilidade elétrica. O fato é que a política é um reflexo da sociedade. Resumindo: não há como exigirmos nada da alta cúpula se nós, plebeus, estamos discutindo entre os iguais.
Mesmo que por um milagre algum “ser iluminado” consiga regulamentar o uso de vagas de carregamento, padrões de serviços e tarifas, de nada adianta se não houver respeito, inclusive de partes divergentes.
O ponto chave para que a cultura da mobilidade elétrica evolua de forma madura é o equilíbrio de diálogo entre todos, independentemente da posição de cada um. Precisa ser criada uma consciência de que todo direito deve ser acompanhado de deveres.
Dessa forma, peço uma reflexão para toda a galera dos elétricos:
- Se queremos o direito à garantia de um local de carregamento, temos o dever de garantir que o local será deixado de forma adequada para o próximo usuário.
- Se queremos o direito de o equipamento estar disponível para usar, temos o dever de retirar o veículo assim que finalizar o carregamento, ou evitar deixar carregando mais que o necessário.
- Se queremos o direito de equipamentos funcionando de forma satisfatória, temos o dever de comunicar os responsáveis pela manutenção, não somente reclamar nas redes sociais.
- Se queremos respeito, devemos respeitar; se queremos tolerância, devemos ser tolerantes também.
São quatro pontos básicos, mas difíceis de aplicar na prática. Era mais fácil praticar o convívio amigo quando todos os usuários estavam em um grupo de Whatsapp. Com a ampliação da frota elétrica, é cada vez mais difícil você ter o contato de cada usuário, quanto mais a amizade.
Ainda por muito tempo os usuários de veículos elétricos serão minoria e dependerão da boa vontade dos proprietários de veículos à combustão também. É difícil imaginar que acontecerá esse respeito por parte dos motoristas de veículos à combustão se os próprios motoristas de veículos elétricos acabam se desentendendo em algumas oportunidades.
Fica a lição de casa para todos os entusiastas da mobilidade elétrica: Como deverá ser a nossa conduta com os demais usuários? Já temos muitos casos de estações ocupadas nos pontos de carregamento, mas boa parte das vezes não pela escassez de estações, e sim pela escassez de respeito.
Então, meu caro leitor, deixo outra vez o apelo a cada um de vocês. Não abandone seu carro nos carregadores além do necessário. Outras pessoas precisam usar. E se você ainda não possui um carro elétrico, também peço a educação de não estacionar em uma vaga de carregamento. Ela pode estar vazia naquele momento, mas logo alguém precisará usar.
Até mais.
Fonte: IG CARROS