O mês da Consciência Negra, celebrado em novembro, é um extenso lembrete de que a luta contra o racismo é constante. Como atesta a escritora e filósofa Angela Davis em sua obra “Mulheres, raça e classe”, não basta apenas não ser racista. É essencial ser antirracista.
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Isso significa que não praticar racismo ou se opôr moralmente contra a discriminação racial não é a única solução para o fim desse problema. Lutar contra o racismo significa tomar ação e praticar medidas efetivas e reais contra a opressão sistêmica de grupos marginalizados.
Uma das partes mais importantes dessa luta, segundo especialistas, é a educação antirracista. Quando as crianças conseguem discutir abertamente sobre raça, preconceito e discriminação com os pais, professores e colegas, elas conseguem criar empatia e consciência dos problemas de toda a sociedade.
Educação antirracista
“Considerando o racismo estrutural e institucional em que vivemos, que escancara em números a desigualdade em aspectos gerais, como saneamento básico, mercado de trabalho, distribuição de renda, saúde, educação, população carcerária e atlas da violência, [a educação antirracista] torna-se urgente”, explica a pedagoga aposentada Zenilda Vilarins Cardozo, autora do livro “Preta de Greve e as Sete Reivindicações”, obra infanto juvenil que conta a história de uma menina negra.
A profissional aponta que essa educação ajuda a conscientizar os estudantes negros dos seus valores e força, e os estudantes brancos, de que esse cenário é real e cruel e precisa ser combatido. “Há necessidade de conscientização de direitos e a reivindicação de políticas públicas para a ocupação dos espaços negados por séculos.”
Em entrevista ao iG Delas, a comunicadora e ativista Alexandra Baldeh Loras explica que essa educação é essencial para uma sociedade igualitária.
Loras reflete que crianças não nascem livres do preconceito, mas são esponjas que sugam conceitos de toda a sociedade. “Sociedade, que, no caso, é machista, racista, heteronormativa, homofóbica e capacitista”, explica a autora de “Vamos falar de Racismo”. “Se você não enxerga um problema [na desigualdade racial], você faz parte do problema, você compartilha com a opressão.”
Reconhecer que o racismo é um problema grave que precisa ser combatido extensamente é o primeiro passo. Tomar uma ação contra isso é o que importa, explicam as profissionais.
Ações antirracistas
“Cada ente social tem responsabilidades sobre [a luta contra o racismo]”, retoma Zenilda. “A escola, enquanto formadora, precisa contribuir com a consolidação do ser social, cidadão crítico, consciente do seu papel. A família deve agir em consonância com a escola e a sociedade tem o dever de abrir possibilidades para garantir essas ações.”
A educadora explica que a luta antirracista é um movimento conjunto, onde a convergência de ideologias e ações coopera para um bem comum: a igualdade racial.
Mas como isso funciona na prática? Desde 2003, a Lei 10.639/03 determina que o conteúdo programático escolar deve incluir o “estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.”
As escolas, então, têm o papel de instruir as crianças brasileiras sobre as contribuições históricas, culturais, e religiosas do povo africano e afro-brasileiro. Mas, como atestam as autoras, só isso não é suficiente para desenvolver referências e ressignificar a pauta racial na realidade dessas crianças. “Somos todos responsáveis. Não podemos esperar que só as pessoas que sofrem com a falta de inclusão resolvam esse problema”, reflete Loras.
Os pais, portanto, têm um grande dever: o diálogo. Apenas por meio da discussão, as crianças poderão entender melhor sobre como enfrentar e batalhar contra os preconceitos enraizados em sociedade. “É necessário não romantizar o racismo. Em algum momento, o enfrentamento será inevitável, é preciso que saiba identificar e combater o preconceito, conhecer os direitos e as formas de garanti-los”, identifica Cardozo.
Reconhecer que o racismo existe, celebrar as diferenças e falar sobre elas torna o assunto ainda menos controverso e os incentiva a entender melhor sobre o tema.
Apresentar a diversidade para os filhos, nas mais variadas formas, também é muito relevante. Zenilda aponta que, quando podemos usar um exemplo de um personagem, de um enredo, dos versos de uma canção, a abordagem se torna mais assertiva.
A pedagoga complementa que é primordial que as crianças, adolescentes vejam a representatividade nesses contextos para entenderem a própria realidade. Exemplos de protagonismo negro em personagens como T’Challa (Pantera Negra), Virgil Hawkins (Super Choque) e Miles Morales (Homem Aranha no Aranhaverso) são extremamente positivos para as crianças.
“A sociedade se cria, atualmente, mais através da novela do que da escola. O poder da mídia, da Netflix, dos jogos, dos videogames e de toda a produção visual da televisão é muito grande. Precisamos de um incentivo para a representatividade”, finaliza Alexandra.
Fonte: IG Mulher