DA REDAÇÃO / MATO GROSSO MAIS
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“Não é de hoje que a Secretaria de Assistência Social nos visita, perguntando do que precisamos. Na verdade, não é apenas ajuda; eles são uma família para nós. Sempre nos ouvem, sempre estão aqui trazendo melhorias, mandando mensagens, ligando principalmente. Para se ter uma ideia, todo começo de mês, o pessoal da Saúde de Cuiabá está aqui, realizando exames, consultas, respondendo às nossas dúvidas. E em cada uma dessas ações, nós percebemos que somos importantes. O mundo em que vivemos é isolado, fechado, obscuro e visto de forma negativa. Ter pessoas que nos acolhem e não julgam é tão bom. Não precisamos de julgamentos, precisamos de ajuda”, disse Juliana Nogueira, uma mulher transexual, periférica e profissional do sexo, conhecida como Jú.
Jú, como gosta de ser chamada, descobriu-se como pessoa transexual aos 17 anos. Um ano depois, após já ter completado a maioridade, ela começou a transição de gênero. Com isso, as oportunidades de emprego despencaram.
A empresa onde trabalhava não aceitava as mudanças em sua vestimenta e características físicas, e logo a jovem foi dispensada do local, sem nenhuma explicação clara do motivo, embora ela soubesse o porquê.
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Juliana então se viu obrigada a encarar a vida de profissional do sexo como forma de sustento, já que não havia apoio familiar nem mesmo do ciclo social.
A história de Ju assemelha-se à de outras mulheres transexuais e travestis presentes na ação realizada na noite desta quinta-feira (22) pela Prefeitura de Cuiabá. Por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Direitos Humanos e da Pessoa com Deficiência, foram oferecidos serviços como vacinação contra a covid-19, atendimento socioassistencial e de saúde, avaliação bucal com entrega de kits de higiene, preservativos, kits de biossegurança, além de exames rápidos de ISTs. Coordenada pela Secretaria-adjunta de Direitos Humanos em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, a iniciativa foi realizada em alusão ao ‘Dia da Visibilidade Trans’, celebrado em 29 de janeiro, no bairro Jardim Industriário.
“Infelizmente, esse público muitas vezes não procura o nosso sistema de saúde por ser vítima de preconceito. Por isso, viemos até elas e trouxemos todos os cuidados e atenção que essas pessoas necessitam. Essa comunidade precisa ser vista. Para se ter uma ideia, a expectativa de vida da população trans e travesti é de 35 anos de idade. Nós, da Secretaria Municipal de Assistência Social, estamos trabalhando para mudar essa realidade dolorida e muitas vezes ignorada”, pontuou Christiany Fonseca, secretária-adjunta de Direitos Humanos.
O evento também revelou histórias de superação, como a de Chica da Silva, uma jovem negra, travesti e moradora da periferia. Chica atuava no movimento como forma de conseguir sustento para a família, já que não havia oportunidades em empregos formais. Em uma das ações realizadas pela Secretaria-adjunta de Assistência Social, a jovem recebeu a proposta de trabalhar na Prefeitura de Cuiabá e mudar de vida.
“Quando a proposta chegou, eu só sabia chorar. Aquilo era meu sonho, ser vista como uma mulher, profissional e capaz. Tenho enorme gratidão ao prefeito Emanuel Pinheiro por me receber, acolher e respeitar. Inicialmente, fui trabalhar no gabinete do prefeito, onde fui muito bem tratada por todos, e consegui realizar um sonho. Para uma mulher negra, travesti, aquilo era quase impossível, mas graças a essa gestão realmente humanizada, isso aconteceu. Tenho imensa gratidão por todos que me ajudaram. Consegui terminar meus estudos, me profissionalizar, e hoje estou aqui, servindo de exemplo para essas meninas, pois um dia já fui uma delas”, disse Chica.
A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) esteve presente na ação, oferecendo atendimentos na área de Nutrição, além de possibilitar a formação e cursos profissionalizantes para esta população, por meio de estudos realizados pelos alunos do curso de Estatística.