As vendas do comércio varejista brasileiro registraram alta de 2,3% no ano passado, informou nesta quarta-feira (13) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a maior alta do indicador em cinco anos.
“Desde 2013, quando acumulou alta de 4,3%, o comércio não tinha desempenho tão elevado”, afirmou Isabella Nunes, gerente da pesquisa.
“Apesar do resultado expressivo, as duas altas seguidas [2,1% em 2017 e 2,3% em 2018] não foram suficientes para compensar as perdas de 2015 e 2016. O setor ainda está 7% abaixo do patamar em que operava em 2014”, destacou.
Ou seja, o crescimento acumulado de 4,4% nos últimos dois anos não recuperou a queda de 10,3% em 2015 e 2016.
Apesar do crescimento no acumulado no ano, as vendas perderam fôlego no segundo semestre, de acordo com Isabella, por causa da alta do dólar, incertezas diante do período eleitoral e recuperação da greve dos caminhoneiros.
Queda em dezembro
Em dezembro de 2018, o comércio varejista nacional caiu 2,2% frente a novembro, na série com ajuste sazonal, descontando grande parte do avanço de 3,1% registrado no mês anterior. Em relação a dezembro de 2017, o volume de vendas cresceu 0,6%.
Segundo Isabella, do IBGE, foi o pior resultado mensal desde janeiro de 2016, quando o volume de vendas do comércio varejista caiu 2,5%.
A pesquisadora destacou ainda que foi o pior dezembro da série histórica da pesquisa, iniciada em 2001, na comparação com o mês imediatamente anterior.
A pesquisadora do IBGE ponderou que o forte resultado negativo de dezembro ocorreu por causa da base de comparação. Em novembro, o comércio avançou 3,1% – a maior taxa mensal de toda a série histórica da pesquisa. “Essa taxa de dezembro foi impulsionada fortemente pelas promoções da Black Friday, que fizeram novembro ter um resultado muito elevado”, explicou.
Os recuos que mais influenciaram o resultado de dezembro vieram de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-13,1%), móveis e eletrodomésticos (-5,1%) e tecidos, vestuário e calçados (-3,7%), segmentos que tiveram altas acentuadas em novembro (8,3%, 4,2% e 1,7%, respectivamente) por causa da Black Friday.
Isabella lembrou que dezembro sempre foi o mês mais forte para o comércio por conta das compras de fim de ano, que trazem receita superior à dos outros meses, mas a Black Friday começou a mudar o cenário.
“Ano após ano, os patamares de novembro e dezembro vêm se aproximando. Isso fica mais evidente quanto a gente observa individualmente as atividades do comércio. As vendas de outros artigos de uso doméstico e pessoal, móveis e eletrodomésticos são as que mais crescem em novembro desde o início desta promoção anual”, destacou.
Comércio ampliado
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, a queda foi de 1,7% em relação a novembro. Frente a dezembro de 2017, o volume de vendas subiu 1,8%, na 20ª taxa positiva seguida.
O acumulado no ano teve alta de 5%, 19ª taxa positiva seguida, porém, mostrando perda de ritmo desde abril de 2018, quando a expansão foi de 7%.
Desempenho por segmento
Três das oito atividades do varejo exerceram o maior impacto no comércio varejista em 2018: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,8%), seguida por outros artigos de uso pessoal e doméstico (7,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (5,9%). Por outro lado, combustíveis e lubrificantes (-5%) exerceu o maior impacto negativo.
Já no comércio varejista ampliado, o bom desempenho de 2018 foi influenciado, principalmente, pela atividade de veículos, motos, partes e peças, com alta de 15,1% – maior taxa desde 2007, quando cresceu 22,6%. O segmento registrou taxa de um dígito somente maio e dezembro, respectivamente, de 2,1% e 7,8%.
Segundo a pesquisadora, dois fatores têm relação direta com a alta expressiva na venda de veículos: melhores condições de financiamento e redução de 30% de impostos sobre carros importados.
“Veículos começa o ano apresentando taxas de dois dígitos. Em janeiro teve fim o Inovar Auto, programa que sobretaxava veículos importados”, apontou. “Vale lembrar que veículos é uma atividade que responde bem a qualquer redução tributária”, destacou Isabella.
A pesquisadora ressalvou que, apesar de se tratar da maior alta em 11 anos, o segmento de veículos ainda se encontra num patamar de vendas 34,2% abaixo do pico histórico, registrado em junho de 2012.
Já o segmento de material de construção fechou o ano de 2018 acumulando variação de 3,5%, porém, com perda de ritmo em relação ao acumulado até novembro (3,9%). Veja abaixo:
Veja o desempenho de cada segmento no ano de 2018:
- Veículos, motos, partes e peças: 15,1%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 7,6%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 5,9%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 3,8%
- Material de construção: 3,5%
- Tecidos, vestuário e calçados: 1,7%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 0,1%
- Móveis e eletrodomésticos: -1,3%
- Combustíveis e lubrificantes: -5%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -14,7%
Por regiões
A queda de novembro para dezembro no comércio varejista foi acompanhada por 26 das 27 unidades da Federação, com destaque para o Acre (-12,6%). Apenas a Paraíba (0,4%) teve variação positiva no volume de vendas.
No caso do comércio varejista ampliado, 23 das 27 unidades da Federação mostraram recuo nas vendas, com destaque de novo para o Acre (-7,9%). Por outro lado, Roraima (0,9%), Paraíba (0,7%), Minas Gerais (0,2%) e Paraná (0,1%) registraram avanços.
Perspectivas
Com o desemprego ainda elevado, a economia brasileira tem mostrado um ritmo de recuperação ainda lento. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a confiança do comércio recuou em janeiro, com os empresários otimistas com a evolução das vendas nos próximos meses, mas ainda cautelosos com a situação atual da economia. Já a confiança do consumidor avançou para o maior nível desde fevereiro de 2014.
A economia brasileira avançou 0,8% no 3º trimestre. Para o ano de 2019, a expectativa é de uma alta de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a mais recente pesquisa Focus realizada pelo Banco Central.