O premiê da Espanha, o socialista Pedro Sánchez, dissolveu o parlamento nesta sexta-feira (15) e convocou eleições legislativas para o dia 28 de abril. O anúncio é feito apenas 8 meses e meio depois de Sánchez assumir o cargo de chefe de governo.
Os espanhóis deveriam votar em legislativas apenas em 2020. Esta será a terceira eleição legislativa em 4 anos. Depois que o novo Congresso for eleito, os deputados escolherão o novo premiê.
O anúncio da antecipação do pleito era esperado desde que o Congresso rejeitou, na última quarta-feira (13), a proposta de orçamento do governo socialista.
“Um governo tem a obrigação de cumprir com a sua tarefa: aprovar leis, governar, avançar. Quando alguns partidos bloqueiam a tomada de decisões, há que convocar eleições”, disse Sánchez em seu pronunciamento.
O socialista já está em modo campanha. Em seu discurso, Sánchez defendeu o balanço de seu governo e afirmou que, apesar da ausência de orçamento, algumas de suas principais medidas estão garantidas, como o aumento de 22% do salário mínimo e o reajuste do salário do funcionalismo público.
Ao mesmo tempo, Sánchez acusou a oposição de direita de bloquear no Parlamento a descriminalização da eutanásia e as leis de combate à diferença salarial entre homens e mulheres. “Tudo isto ficou paralisado (…) pela obstrução parlamentar do Partido Popular e do Ciudadanos”, disse.
Também reservou palavras aos separatistas catalães, ao recordar seu compromisso com unidade da Espanha. “Dentro da Constituição e da legalidade estamos dispostos a falar, a dialogar (…) fora da Constituição, nada”.
Com as eleições antecipadas, os espanhóis vão às urnas duas vezes em um período de um mês. Isso porque no dia 26 de maio estão programadas eleições municipais, regionais (para os Parlamentos das regiões autônomas) e para o Parlamento Europeu.
Fragmentação
As novas eleições gerais terão lugar no contexto de uma crescente fragmentação política espanhola. O histórico bipartidarismo no país, protagonizado pelos Partido Popular (PP, de centro-direita) e PSOE (socialistas), que se revezam no poder há mais de três décadas, está ameaçado pelo crescimento de outras siglas desde 2015.
De acordo com o jornal “El País”, pesquisas de opinião recentes indicam que o PSOE, de Sánchez, poderia ganhar mais votos, mas não o suficiente para alcançar uma maioria no Congresso.
Ainda segundo as pesquisas, seu rival tradicional, o PP, poderia perder eleitores para a sigla de extrema-direita Vox. Esse partido tem crescido nas pesquisas de opinião e recentemente conseguiu pela primeira vez representação parlamentar na Andaluzia, em parte por uma mensagem de defesa da unidade de toda a Espanha contra o separatismo catalão.
O grupo de antiausteridade Podemos e os Ciudadanos liberais também se tornaram atores-chave na política espanhola nos últimos anos.
Derrota do orçamento
Sánchez contava com o apoio de somente um quarto do Parlamento, e para aprovar leis dependia do apoio do partido antiausteridade Podemos e dos nacionalistas catalães, bem como de outros partidos menores.
Os partidos catalães diziam que a aprovação do projeto do orçamento para 2019 estava condicionada à inclusão da questão da independência nas negociações com a Catalunha, algo que o governo se nega a fazer.
No último sábado (9), milhares de pessoas se manifestaram nas ruas da capital Madri acusando Sánchez de ceder às exigências dos independentistas catalães e pedindo eleições antecipadas.
Fontes da agência Reuters na política espanhola já tinham indicado que Sánchez queria um pleito o mais cedo possível para mobilizar os eleitores simpatizantes da esquerda na esteira do comício dos partidos de direita em Madri, que incluiu o Vox.
Tensões com a Catalunha
Sánchez chegou ao poder em junho de 2018 depois de uma crise no governo anterior, de Mariano Rajoy, que foi destituído por uma moção de censura. O socialista tinha a promessa de aliviar as tensões entre o governo central de Madri e os líderes catalães. Rajoy tinha enfrentado a declaração unilateral de independência da Catalunha.
O líder socialista se encontrou duas vezes com o presidente do governo regional, Quim Torra, e integrantes dos dois executivos realizaram várias outras reuniões.
As divisões profundas entre espanhóis pró-união e secessionistas da Catalunha foram reforçadas nesta terça-feira, início do julgamento de 12 separatistas acusados de rebelião após uma tentativa de separação em outubro de 2017.