Na manhã desta quinta-feira, 28, o treinador Tite anunciou a convocação da seleção brasileira para os amistosos contra Panamá e República Tcheca, nos dias 23 e 26 de março. Na lista, uma grande novidade: Vinicius Junior, atacante do Real Madrid. Com 18 anos, o jogador, que se tornou titular da equipe de Santiago Solari, foi o mais novo atleta de linha chamado para o Brasil desde 2011, quando Lucas Moura – que era um mês mais jovem – foi chamado por Mano Menezes. “Vinicius está em uma equipe com exigência técnica e emocional muito alta”, comentou Tite na coletiva. “Eu quero proporcionar evolução e afirmação a ele. Falam que ele tem duas marchas a mais (…) mas muita calma para não criar expectativa em demasia e depois frustrar”.
Quando Lionel Messi se consolidou no Barcelona como uma grande promessa do futebol mundial, somava cinco anos de treinamento em La Masia e tinha passado o último com um pé no time principal. Em sua sexta temporada, 2005-06, após 25 partidas em todas as competições com a equipe da primeira divisão, marcou um gol a cada três jogos e deu uma assistência a cada seis. No ataque era acompanhado pelo melhor Ronaldinho, Deco, Eto’o e o jovem Iniesta em um Barça vigoroso. Tinha 18 anos. A mesma idade que tem agora Vinicius Junior, que soma 24 jogos com uma média de um gol a cada oito e uma assistência a cada dois. Chegou há apenas alguns meses do Brasil, e Florentino Pérez, seu presidente e seu grande promotor, já o considera o principal argumento ofensivo do Real Madrid.
O celular de Vinicius não para de tocar: dirigentes, funcionários, assessores e técnicos do clube lhe telefonam para que fique alerta. Eles lhe dizem que este é o seu momento e que não pode desperdiçá-lo. Dos escritórios em Valdebebas, centro de treinamento do Real, à torre da ACS, empresa de engenharia cujo dono é Florentino, todos os seus interlocutores estão cientes de que representa a grande catapulta para tirar a equipe da crise. No clássico contra o Barça, apesar da derrota e das chances perdidas, o atacante chamou a atenção pelo perigo que causou à defesa blaugrana.
“Parece que Vinicius não se inteirou do que está por vir”, observa Pablo del Río, psicólogo do Centro de Alto Rendimento (CAR) do Real Madrid e responsável pela unidade de psicologia do Conselho Superior de Esportes há três décadas. “E isso é positivo”, ele observa, “porque onde há responsabilidade, ele vê um jogo. Sua incorporação foi tão rápida que acho que, para ele, o futebol continua sendo um jogo. Quando deixar de ser um jogo e vir outros tipos de conotações, seu desempenho pode chegar a diminuir. Porque administrar isso, na sua idade, não é fácil”.
Não se lembra de um caso de gênio prematuro obrigado a assumir tantas responsabilidades tão cedo em um grande clube. Dizem em seu círculo que Florentino Pérez acredita que Vinicius não tem limite. Os técnicos de Chamartín observam que o ponta possui uma arrancada digna dos atacantes que marcam épocas e isto é exatamente o que o Real Madrid precisava. Mas temem que o peso que o forçam a sustentar ultrapasse sua escassa experiência e avisam que não tem as qualidades técnicas para superar a exigência com as melhores possibilidades de sucesso. Basicamente, os especialistas que o monitoram indicam que não tem nem a imaginação nem o sentido associativo que distinguiu Messi ou Neymar em sua idade, e que servem para resolver problemas em duelos de exigência máxima.
Vinicius incorpora o status de um jogador que fica no ataque esperando que lhe passem a bola. Sua natureza de aventureiro solitário, em momentos de exaustão ou distração, pode induzi-lo a se desconectar do jogo coletivo. Algo a que não pode permitir-se nos jogos decisivos que estão chegando. Daí os telefonemas que recebe de todas as instâncias do clube pedindo-lhe de vez em quando que esteja ciente da gravidade do momento e mantenha seu nível de atividade.
“Às vezes”, observa Del Rio, “os profissionais deveriam regredir à infância, quando começaram a brincar no pátio de uma escola e tudo era diversão. Os atletas do tipo de Vinicius dependem de si mesmos. Ele não pensa nas consequências, por exemplo, de perder uma bola. O grande atleta não vê problemas, vê oportunidades. E eles as usam para superar a si mesmos. Parece-me que esta é a fase em que Vinicius se encontra. O importante é que tenha continuidade e se cometer erros, nada aconteça. Porque agora não há ninguém que faça melhor. Se ele tivesse concorrência em uma equipe que funcionasse melhor, teria dez minutos para provar que está bem e que podem confiar nele. E isso o faria perder sua criatividade e a paz instintiva. Em 2010, me perguntaram sobre Cristiano Ronaldo, que acabara de chegar ao Real Madrid e atravessava um período de seca de gols. Eu disse que, se ele fosse bom, quando se adaptasse ao time iria inflar”.
Santiago Solari, o treinador, encoraja-o com muito tato, procurando não o deixar angustiado. Toda vez que lhe perguntam sobre o medo que produz o confronto com a equipe de Messi, o treinador desfaz o drama: “Merecemos curtir esse jogo. A palavra medo não existe para nós. A perspectiva do jogador é sempre de prazer na disputa”. “Os companheiros de equipe ajudaram muito o Vinicius”, diz Solari. “Que os veteranos de mil batalhas dediquem seu tempo para aconselhá-lo é uma forma de respeito que ele ganhou por seu talento.”
Vinicius dá a impressão de que nem sente nem sofre. As fontes de sua inspiração são tão insondáveis que há colegas que o viram mais empolgado em uma partida da terceira divisão do que em jogar no Camp Nou. No domingo, perguntaram se Messi lhe dava medo e ele respondeu com aquele sorriso aberto que imediatamente ilumina seu rosto: “Messi é incrível, mas ninguém nos assusta”, disse.
O plano de Solari era jogar com os titulares o clássico na Copa, alterar no jogo do campeonato espanhol no sábado e voltar com tudo para receber o Ajax pela Champions League. Isso tira as dúvidas: Vini foi titular pela Copa, enquanto Bale deverá ser escalado na Liga.