O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de Mato Grosso (MPMT), apontou que um dos integrantes da quadrilha alvo da operação Caporegime seria o agente penitenciário Edson Joaquim Luiz da Silva, que era um dos responsáveis por fazer as cobranças ao grupo que atuava em agiotagem.
A ação foi deglagrada em fevereiro e, no total, oito integrantes do grupo foram acusados formalmente pelo MP por crimes de constituição de organização criminosa, extorsão e agiotagem.
Durante a ação – que cumpriu ordens judiciais nas cidades de Sinop, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Marcelândia e Alta Floresta, o MP apreendeu R$ 20.711.045,57 em cheques e notas promissórias, encontrados nas propriedades dos oito investigados.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, em agosto de 2016, chegou ao conhecimento deste Gaeco a existência de uma suposta organização criminosa atuante no Estado, que realizava empréstimos de altos valores a inúmeras pessoas, de maneira que em pouco tempo a dívida atingia patamares impagáveis, após o que, as vítimas eram coagidas por meio de violência e grave ameaça para que pagassem os valores exigidos pelo bando.
Oito pessoas foram denunciadas após os fatos apurados na “Operação Caporegime”. João Claudinei Favato seria o líder da organização criminosa. Kaio Cezar Lopes Favato, José Paulino Favato e Clodomar Massoti eram as pessoas que concediam os empréstimos às vítimas, sobre os quais aplicavam cálculos de juros compostos, o que, em pouco tempo, elevava o valor da dívida a patamares que tornava difícil a quitação.
Os responsáveis pelas cobranças destes valores devidos eram os investigados Luis Lima de Sousa, Luan Correia da Silva, Purcino Barroso Braga Neto e o agente penitenciário Edson Joaquim Luiz da Silva.
No dia das buscas o Gaeco encontrou, na casa de Edson, R$ 265.000 em cheques. Na casa de José Paulino Favato foram encontrados R$ 2.019.781 em cheques e notas promissórias. Na casa de Luís Lima de Sousa também foram encontrados alguns cheques.
Os maiores valores foram encontrados com João Claudinei e Clodomar Massoti. Com João foram encontrados R$ 9.678.166,50 em cheques e notas promissórias, além de 2,5 kg de ouro. Com Clodomar foram encontrados R$ 6.728.317,07 em cheques e notas promissórias e em seu escritório foram encontrados mais R$ 2.019.781 na mesma espécie.
Casal foi vítima
O MP também narra o caso de um casal de Matupá, vítima dos agiotas. O casal procurou João Claudinei em 2013, por causa das dificuldades financeiras que enfrentavam. Eles pediam para que João trocasse cheques por valores em espécie, cobrando, para tanto, percentuais de juros que giravam em torno de 4% a 6% ao mês.
As vítimas passaram a constantemente fazer retiradas de valores, e, em certo momento, os cheques que entregavam já não eram suficientes para quitar as retiradas de dinheiro. Já em 2015 as vítimas chamaram João Claudinei para uma conversa, para que pudessem entrar em um acordo sobre a quitação da dívida.
João disse a uma das vítimas que “não queria que o pessoal de Cuiabá viesse atrás dele, porque conhecia bem esse pessoal e eles viriam para tocar o terror, pois esse pessoal pega de filho a parente e de mamando a caducando”.
O agiota ainda teria dito ao casal, sem apresentar qualquer esboço de cálculo, que a dívida seria de R$ 3 milhões. Ele pediu que transferissem duas propriedades, sendo um sítio avaliado em R$ 1 milhão e um barracão comercial avaliado em R$ 400 mil. Disse ainda que teriam dois anos para que voltassem a pagar o restante da dívida, para que pudessem ter tempo de conseguir o valor
No entanto, mesmo com o acordo de que esperariam dois anos, os cobradores procuraram as vítimas antes deste período, para pedir dinheiro, os ameaçando de morte. Após constantes extorsões eles levaram dinheiro e um carro do casal até o dia em que uma das vítimas foi alvejada por dois disparos de arma de fogo, sendo atingido no peito e na cabeça, mas sobreviveu.
Eles também citam o caso de um madeireiro que emprestou R$ 170 mil de João Claudinei e acabou depois, ao conhecer a reputação do agiota, transferindo uma propriedade de R$ 1,5 milhão em troca de um imóvel de R$ 200 mil.
Madeireiro extorquido
Segundo a denúncia, a organização criminosa foi estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas para emprestar dinheiro a juros exorbitantes. Em um dos fatos apurados pelo Gaeco, a vítima, um madeireiro que devia R$ 170 mil a um dos integrantes da organização, após ser ameaçada acabou transferindo uma propriedade avaliada em R$ 1,5 milhão em troca de um imóvel de aproximadamente R$ 200 mil, ficando com um prejuízo estimado em um milhão de reais.