O major da Polícia Militar Wanderson da Costa Castro – preso no domingo (3) por supostas ameaças feitas por telefone ao promotor de Justiça Allan Sidney do Ó – negou a acusação em carta encaminhada à Corporação nesta segunda-feira (4).
O oficial foi solto logo após o cumprimento do mandado de prisão preventiva, durante audiência de custódia
A prisão dele foi ordenada pelo juiz Wladymir Perri, da 11ª Vara Militar, atendendo a um pedido do Ministério Público Estadual, sob alegação de que o major da PM ligou para o promotor de Justiça, em fevereiro deste ano, para “tomar satisfação” sobre um caso.
Na ocasião, o major queria saber por qual razão um soldado da Polícia Militar havia sido denunciado criminalmente por corrupção passiva. Segundo o MPE, o major tratou de maneira agressiva a assistente ministerial que o atendeu, questionando a decisão do promotor de Justiça.
O major justificou a ligação ao gabinete do promotor, afirmando que queria apenas alegar a inocência do soldado.
Tentei argumentar dizendo que o simples fato de responder a um processo é oneroso e desgastante pro PM, mas sem sucesso
“Como ainda não haviam recebido a denúncia, fiz contato no intuito de apresentar este posicionamento (como presidente do ato em questão e como Comandante do PM), almejando que o MPE pudesse considerar e reformar a denúncia contra o soldado”, disse o major, na carta.
“Porém não fomos atendidos: o soldado deveria responder ao processo e provar sua inocência na instrução (informação da assistente do promotor). Tentei argumentar dizendo que o simples fato de responder a um processo é oneroso e desgastante pro PM, mas sem sucesso”, disse.
O oficial alegou que foi surpreendido nesta segunda-feira (4), quando a notícia de sua prisão foi vinculada na imprensa.
“E hoje os sites soltaram essa matéria dizendo toda sorte de absurdos, sem qualquer oportunidade de resposta. Mas o senhor é por nós, e o maior dos acusadores não me acusou um segundo sequer: a minha consciência! Estou em paz”, afirmou.
“[Sou um] ser humano, falho e relativo, que desagrada a muitos com seus erros, mas também posso me apresentar como um profissional íntegro (graças a Deus) e que tenta buscar a justiça. Agradeço aos amigos pelas orações, pois através delas o Senhor nos tem sustentado de pé! Santa corja, que levanta e anda!”, disse.
Dia da prisão
O oficial foi preso na manhã de domingo e liberado em audiência de custódia horas depois. Segundo contou na carta, ele foi convocado pela Corregedoria da Policia Militar, no sábado (2), para comparecer a Cuiabá.
O major da Polícia Militar Wanderson da Costa Castro é comandante de 8º batalhão de Alta Floresta (a 800 km de Cuiabá).
Na carta, o policial relatou ter chegado em Cuiabá no sábado à noite, com a mulher e a filha, e comparecido à Corregedoria no domingo pela manhã, sendo surpreendido com o mandado de prisão.
“Mandado este fundamentado no relato verbal do promotor de Justiça e […] que eu teria ligado para ‘tirar satisfações com o promotor’ e que este oficial era perigoso, pois responde a dois homicídios (um ocorrido em 2009 e outro em 2012, ambos em serviço e em legítima defesa – armas apreendidas inclusive)”, afirmou.
Denúncia do MPE
O mandado de prisão está na ação criminal em que o major responde por invasão de domicílio. No dia 30 de abril do ano passado, o major invadiu a TV Nativa, filiada da TV Record, em Alta Floresta (a 800km de Cuiabá), para questionar um jornalista que apresentava um programa ao vivo.
O major foi até a TV para falar sobre um “imbróglio” acontecido durante uma diligência ocorrida no dia anterior, envolvendo um policial militar e o jornalista Welerson de Oliveira Dias.
O jornalista trouxe o assunto a público durante o programa de TV no dia seguinte aos fatos, apresentando versão própria dos fatos e acusando policiais militares de proferirem ameaças e exercerem condutas cerceadoras ao direito de imprensa.
A conduta do jornalista teria irritado o major, que foi na TV sob o argumento de “exercer seu direito de resposta”.
“A secretária da emissora tentou impedi-lo de entrar no estúdio, onde estava sendo apresentado o programa ao vivo. O denunciado, sem autorização e contra vontade expressa ou tácita dos profissionais que trabalhavam no local, ingressou ao estúdio onde o jornalista trabalhava naquele instante, constrangendo não só a este, como as outras pessoas ali presentes”, contou o promotor Allan Sidney do Ó, na denúncia feita à Justiça.
Confira a íntegra da carta enviada pelo major da PM:
“Com a permissão do Sr Ten Cel Arruda e do sr Maj Wesmensandro, venho a todos do 9º CR informá-los do ocorrido com minha pessoa que está sendo veiculado nacionalmente.
Promotor de Justiça de Cuiabá denunciou um soldado que, na opinião deste Oficial e dos demais policiais que participaram do feito, é inocente. Como ainda não haviam recebido a denúncia, fiz contato no intuito de apresentar este posicionamento (como presidente do ato em questão e como Comandante do PM), almejando que o MP pudesse considerar e reformar a denúncia contra o Soldado, porém não fomos atendidos: o soldado deveria responder ao processo e provar sua inocência na instrução (informação da assistente do Promotor). Tentei argumentar dizendo que o simples fato de responder a um processo é oneroso e desgastante pro PM, mas sem sucesso.
No dia seguinte (quarta à noite) saiu uma matéria em que o Promotor de Justiça dizia que este Oficial teria ligado para “tirar satisfações”, sendo que sequer falamos ao telefone (eu e o promotor), matéria que dizia que eu teria ligado por estar indignado com a denúncia de um soldado por corrupção passiva (“advogado de corrupto”), mas deu ênfase no episódio que a própria imprensa de Alta Floresta veiculou de uma suposta “invasão” de um programa ao vivo perpetrada por mim (fato ocorrido há quase um ano).
Na sexta-feira às 17h40 recebi uma ligação da Corregedoria dizendo que deveria me apresentar em Cuiabá para falar pessoalmente com a corregedora. Vim a Cuiabá no sábado com minha família (esposa e filha de dois anos), porém só pude chegar à noite, sendo então orientado a ir até a corregedoria no domingo (ontem às 09h).
Chegando na corregedoria havia um mandado de prisão preventiva expedido pela 11ª Vara Militar em meu desfavor, sendo cumprido naquele momento, mandado este fundamentado no relato verbal do promotor de justiça e da matéria do site “Folhamax” de que eu teria ligado para “tirar satisfações com o Promotor” e que este Oficial era perigoso, pois responde a dois homicídios (um ocorrido em 2009 e ou em 2012, ambos em serviço e em legítima defesa – armas apreendidas inclusive), e que por este motivo deveria ser preso preventivamente (no processo que respondo do episódio da TV Nativa em juízo, ocorrido a UM ANO).
Fui apresentado como custodiado no IML pra exame de corpo de delito ainda pela manhã de domingo e à tarde o próprio magistrado que decretou minha prisão, em audiência de custódia, relaxou a prisão e me colocou em liberdade (ontem mesmo, domingo).
E hoje os sites soltaram essa matéria dizendo toda sorte de absurdos, sem qualquer oportunidade de resposta. Mas o senhor é por nós, e o maior dos acusadores não me acusou um segundo sequer: a minha consciência! Estou em paz! A paz do Cristo vivo, que excede todo o entendimento!!! Achei por bem elaborar esse texto, pois neste momento formalmente ainda sou comandante do 8º BPM de Alta Floresta e entendo que deveria prestar contas a todos os senhores!
Ser humano, falho e relativo, que desagrada a muitos com seus erros, mas também posso me apresentar como um profissional íntegro (graças a Deus) e que tenta buscar a justiça. Agradeço aos amigos pelas orações, pois através delas o Senhor nos tem sustentado de pé! Santa corja, que levanta e anda!”